Ex-produtora de Yamandu Costa também o acusa de assédio sexual

Atualizado em 23 de maio de 2025 às 10:26
Adriana Giordano

Após as denúncias divulgadas pelo DCM contra o violonista Yamandu Costa — acusado de agredir e abusar sexualmente de uma mulher com quem mantinha relacionamento desde fevereiro — uma nova acusação vem a público com exclusividade.

A produtora e cantora brasileira Adriana Giordano, de 60 anos, que vive há mais de 34 anos em Seattle, nos Estados Unidos, afirma ter sido assediada sexualmente pelo músico durante uma turnê no noroeste do país, há três anos.

Após relatar o episódio em seu perfil no Instagram no último domingo, Adriana recebeu doze mensagens de Yamandu em um intervalo de duas horas. Antes que pudesse ler ou ouvir o conteúdo, o músico apagou as mensagens. Sentindo-se ameaçada pelo contato, ela registrou um boletim de ocorrência na polícia de Seattle, expondo tanto o episódio ocorrido com ela quanto as acusações recentes contra o músico e as tentativas de contato.

Procurada pela reportagem, a defesa de Yamandu Costa informou que o músico ficou perplexo com as alegações feitas por Adriana Giordano. Segundo os advogados, ele chegou a enviar mensagens à ex-produtora, mas apagou o conteúdo logo em seguida, ao lembrar da orientação para não se manifestar sobre qualquer assunto relacionado às acusações.

“Em 2015 eu fui contatada por um amigo que me indicou o Claudio Gadotti, empresário do Yamandu, pois já que eu produzia shows de grandes nomes da música brasileira aqui nos EUA, como Guinga, Filó Machado, Alexandre Ribeiro, Paula Santoro e outros, poderia atuar com ele. Mesmo sendo uma produtora pequena, topei, claro, pois admirava muito o Yamandu e o pessoal aqui me vê como uma espécie de embaixadora da música brasileira. Trabalhamos por três anos juntos, mas sempre ele vinha para uma ou duas apresentações no máximo e o ritmo acelerado mal nos punha em contato e depois voltamos a trabalhar em 2022″, diz Adriana.

“No último ano em que trabalhamos juntos, ele (Yamandu) veio para uma turnê mais longa, por todo o país, e fiquei responsável por cuidar da região noroeste do país. Ali foram 5 shows, sendo o último na cidade de Eugene, no Oregon. Na noite desse show, Yamandu estava muito bravo com o engenheiro de som que, segundo ele, tinha abafado o som do violão. Ele xingou muito, reclamou, eu reforcei que o público tinha curtido o espetáculo e sugeri que fossemos embora. Saímos da casa de shows e fomos até a casa de um fã de Yamandu que tinha uma coleção de violões e de lá para o hotel, pois no outro dia ele já embarcaria para Lisboa.”

Ela continua: “Na manhã seguinte, o Yamandu não respondia mensagens, então fui até a porta do quarto em que ele estava hospedado e bati para acordá-lo, tremendo que perdesse o voo. Ele não respondia, então liguei para o Gadotti e ele me disse para fazer de tudo para acordá-lo. Uma funcionária do hotel estava passando no corredor naquele momento. Expliquei a situação e ela abriu o quarto. Entrei e logo senti um forte cheiro de álcool e vi garrafas de vinho espalhadas. Ele ainda estava dormindo. Eu o acordei, ajudei a colocar suas coisas na mochila e partimos.”

Segundo Adriana, o episódio mais grave ocorreu no trajeto até o aeroporto:

“Nunca esquecerei do que vou contar agora. Nunca esquecerei do dia 5 de maio de 2022: Eu dirigia, Yamandu de carona e chovia muito. Tínhamos mais de uma hora de trajeto até o aeroporto. Yamandu, absolutamente do nada, começou a falar da sua esposa Elody, alegando que ela só queria o dinheiro dele, que não trabalhava e eu rebati dizendo que ela cuidava dos filhos dele e esse era um grande trabalho, então ele respondeu: ‘Enquanto estou viajando, ela deve estar fudendo com outros homens’. Arregalei os olhos e reagi, pois apesar de ter presenciado falas muito machistas, sexistas, racistas e pesadas dele durante as vezes em que estivemos juntos, essa sobre a esposa nessa situação me fez primeiro estatelar e depois dizer que não falasse assim da esposa.”

“Não satisfeito, ele foi mais além: ‘O que você acha? Enquanto você está aqui agora seu marido está fudendo com outras mulheres’. Isso me deixou mais áspera e falei que ele mal conhecia meu marido, que não fazia ideia do que estava falando. Então é que Yamandu disse: ‘Se você desse mole eu te comia’. Eu reagi imediatamente, dizendo que aquilo era descabido, que trabalhávamos juntos, que ele poderia pôr essa relação profissional a perder com uma fala dessas. Ele ficou uns cinco ou sete minutos em silêncio e repetiu: ‘Só estou dizendo que se você desse mole eu te comia’. Aí, já indignada, falei que ou ele parava com aquilo ou teria que terminar a viagem ali e largar ele para ir sozinho”, relata.

Adriana conta que o músico silenciou pelo restante da viagem e que ela permaneceu tensa, temendo novas investidas. Segundo a produtora, pensou em movimentos que poderia fazer para se proteger e permaneceu atenta até o fim do trajeto.

No aeroporto, Adriana relatou que precisou permanecer na área destinada ao uso de celulares para evitar atrasos enquanto buscava vaga para estacionar. Segundo ela, ao deixar o carro, Yamandu a fitou com expressão de lascívia. “Me olhou com cara de tarado”, afirmou.

Adriana diz que só teve real compreensão de que havia sido vítima de assédio sexual após conversar com o marido, que a alertou sobre o caráter abusivo da fala do músico.

“Além do que aconteceu comigo e com essa mulher agora, as coisas que ouvi Yamandu dizer em outros momentos demonstram que ele não tem respeito por nenhum tipo de mulher”, afirma.

Temendo não ser levada a sério, Adriana declara ter preferido o silêncio na época, mas relata que o episódio a traumatizou a ponto de abandonar a carreira de produtora. Dois meses após o ocorrido, ela conta que Gadotti a procurou para tratar de novas agendas com Yamandu, mas ela ignorou o contato.

Adriana diz que deixou de seguir o músico nas redes sociais e que só havia compartilhado o relato com pessoas próximas. Após a denúncia da atual namorada de Yamandu, publicada pelo DCM, decidiu tornar o caso público.

“Eu vi esse lado dele, de que é capaz de ferir alguém, então pensei que agora era a hora de botar toda essa merda para fora, que me afeta há três anos e que me fez sentir vergonha. Mas, o que preciso para ter paz é justiça, saber que ele não vai mais fazer esse tipo de coisa com nenhuma outra mulher”, diz.

Thiago Suman
Jornalista com atuação em rádio, TV, impresso e online. É correspondente do Daily Mail, da Inglaterra, apresentador do DCMTV e professor de filosofia e sociologia, além de roteirista de cinema e compositor musical premiado em festivais no Brasil e no mundo