
O sedentarismo cognitivo é um termo que descreve a perda gradual da capacidade mental causada pelo uso excessivo de tecnologias que substituem o esforço do cérebro.
Com smartphones e inteligência artificial resolvendo tarefas cotidianas, atividades como memorizar números, escrever à mão ou resolver problemas de forma autônoma estão se tornando cada vez mais raras. “Comecei a terceirizar tudo no bloco de notas do aparelho”, relata o analista Igor Carvalho, que hoje não memoriza nem o próprio número de celular.
Segundo o neurologista Sergio Jordy, exigir tudo da IA enfraquece áreas cerebrais responsáveis pela memória, criatividade e atenção. “A diminuição da atenção, a menor capacidade criativa e a falta de resolução de problemas por nós mesmos representa maior risco de desenvolvermos demência”, afirma.
Dados do Google e do MIT mostram que o Brasil lidera no uso de IA e que usuários frequentes dessas ferramentas apresentam pior desempenho linguístico e neural. “É preciso parar de ‘subcontratar’ a IA para fazer as funções do nosso cérebro”, alerta a psicóloga Rejane Sbrissa.
Usuários reconhecem os benefícios, mas também apontam limitações. A professora Carol Mattos, por exemplo, usa o ChatGPT com moderação. “A IA ajuda muito, mas não uso o texto ‘cru’”, explica. Para ela, também ficou mais difícil memorizar caminhos e informações simples do dia a dia. Já o escritor André Carvalhal destaca um novo problema: o risco de a IA substituir não só trabalho, mas também o lazer e a convivência. “Tem quem não pare de usar até para elaborar uma pergunta ou escrever um e-mail”, diz.

A preocupação, no entanto, não exige abandono da tecnologia, mas equilíbrio. Jordy defende que o cérebro continue sendo estimulado com leitura, escrita, aprendizado de novas habilidades, prática de jogos de raciocínio e interações sociais. Atividades físicas e meditação também são recomendadas. O objetivo é manter a atividade mental ativa e prevenir a perda das funções cognitivas naturais.
Embora a tecnologia tenha facilitado rotinas e ampliado o acesso à informação, o uso indiscriminado pode gerar efeitos colaterais silenciosos. A automatização de tarefas básicas reduz o estímulo ao cérebro e contribui para a perda de habilidades que antes eram treinadas diariamente. Escrever à mão, memorizar trajetos ou resolver um problema sem ajuda digital se tornaram exceções.
O sedentarismo cognitivo não é uma condição clínica, mas um alerta. O novo comportamento digital afeta diretamente a saúde mental e cognitiva da população. “A grande questão é o quanto seremos capazes de usar as ferramentas com inteligência”, resume Carvalhal. O desafio está em equilibrar praticidade com o esforço mental necessário para manter o cérebro ativo e saudável.