EXCLUSIVO: As conexões entre a Precisa, do caso Covaxin, e um sobrinho de Silvio Santos. Por Zambarda

Atualizado em 4 de julho de 2021 às 9:39
Precisa Medicamentos e a Covaxin. Foto: Divulgação/Precisa Medicamentos

O Diário do Centro do Mundo publicou em junho de 2021 que o empresário Danilo Berndt Trento atuou como um “sócio oculto”, na expressão de fontes que consultamos, de Francisco Maximiano, o sócio fundador da Precisa Medicamentos. A empresa intermediária da vacina indiana Covaxin, que está envolvida em suspeitas de superfaturamento e é alvo de investigação na CPI da Covid.

Após a reportagem do DCM, Trento foi convocado para depor na CPI. Ele estará lá, além do próprio Maximiano e de empresários como Luciano Hang, das lojas Havan.

Mas as conexões de Trento e Maximiano não se limitam à Precisa e não param no caso Covaxin.

O DCM apurou que há mais ligações de Danilo Berndt Trento e, indiretamente, da Precisa Medicamentos no Amazonas. No caso, com a TV Norte Amazonas, afiliada do SBT, e o empresário Otávio Raman Neves.

No dia do depoimento dos irmãos Miranda (o servidor Luis Ricardo Miranda e o deputado Luis Miranda), 25 de junho, o senador Renan Calheiros, relator da CPI da Covid, fez a seguinte pergunta:

“Você conhece Gustavo Oliveira? Francisco Maximiano? Wassef? Thais Amaral Moura? Flávio Bolsonaro?”, perguntou, direcionando as perguntas para o servidor público Luis Ricardo Miranda.

Dos três mencionados, o único que Miranda reconheceu foi Maximiano, em seu trabalho no Ministério da Saúde.

O nome de Gustavo Oliveira passou quase despercebido na comissão e é mais importante do que parece. Gustavo é funcionário da Precisa Medicamentos e mostra que Renan está atento sobre a atuação da empresa como intermediária da Covaxin.

Ele é genro de Daniel Abravanel. O funcionário da Precisa é casado com Priscila Abravanel.

Gustavo Oliveira e Daniel Abravanel. Foto: Reprodução/Instagram/YouTube

E quem é Daniel? É um sobrinho de Senor Abravanel, Silvio Santos, o dono do SBT. Trabalha com as afiliadas da emissora.

As relações familiares entre o funcionário da Precisa próximo da família Abravanel se refletem na afiliada do SBT de Manaus, da TV Norte Amazonas. Os proprietários são Sérgio Bringel e Otávio Raman Neves. Sérgio é fundador do Grupo Bringel, de esterilização hospitalar, e comprou parte do negócio de Otávio.

Daniel Abravanel é amigo de Otávio Raman. E Gustavo Oliveira é próximo de Danilo Berndt Trento.

Daniel Abravanel. Foto: Assembleia Legislativa do Estado de Santa Catarina

Em 2019, o operador financeiro Adir Assad afirmou que lavou milhões de reais para o Grupo Silvio Santos através de contratos fraudados de patrocínio esportivo. A informação foi publicada na Folha de S.Paulo. Assad diz ter firmado contratos superfaturados de patrocínio entre empresas e pilotos das categorias Fórmula Indy e Indy Lights nos anos 90.

Depois ele fez contratos de imagem e de patrocínio na Fórmula Truck, transferindo parte do valor aos esportistas e devolvendo o resto para o SBT. Assad diz que isso começou após acerto entre Daniel Abravanel, sobrinho de Silvio Santos, e Henrique Abravanel, irmão caçula de Silvio e pai de Daniel.

Dois anos antes, em 2017, Henrique, o pai de Daniel Abravanel, foi alvo da Operação Conclave da Polícia Federal. A PF estava investigando documentos ligados à aquisição aparentemente fraudulenta de ações do Banco Panamericano pela Caixa. 

A conexão de parentesco entre um funcionário da Precisa Medicamentos com a família Abravanel e a situação do SBT no Amazonas dão indícios de uma blindagem local que impede o aprofundamento das investigações da CPI da Covid.

O posicionamento de Maximiano saiu antes no SBT

Francisco Emerson Maximiano, o ‘Max’, presidente da empresa Precisa Medicamentos, divulgou um posicionamento contra as declarações dos irmãos Miranda na CPI. Ele foi divulgado pela jornalista Débora Bergamasco no SBT antes de todos os veículos de comunicação em 1º de julho de 2021.

Em sua defesa, Maximiano afirmou o seguinte: “Escolham a palavra: mentira, ficção, invenção, devaneios desses senhores que vieram depor à CPI”.

E elencou uma cronologia que supostamente desmente o depoimento de Luis Ricardo Miranda e Luis Miranda:

“GUERRA DE CRONOLOGIAS – COMPARE AS VERSÕES

Cronologia, segundo Luís Ricardo Miranda, servidor do Ministério da Saúde, em depoimento à CPI

16 de março – empresa Precisa Medicamentos solicita início do processo de importação das vacinas Covaxin

18 de março – link com documentos via dropbox, CONTENDO o primeiro pro forma invoice (proposta de fatura) com erro sobre pagamento antecipado de doses de vacina

20 de março – reunião dos irmãos Miranda com presidente Jair Bolsonaro em que teriam relatado suspeitas de fraude, com pedido de pagamento antecipado, no pro forma invoice

Cronologia, segundo Francisco Emerson Maximiano, presidente da Precisa Medicamentos:

16 de março – empresa Precisa Medicamentos solicita início do processo de importação das vacinas Covaxin

18 de março – envio pela Precisa, ao Ministério da Saúde, do link com documentos via dropbox, SEM o primeiro ‘pro forma invoice’ (proposta de fatura)

19 de março – a empresa indiana Bharat/Madison cria o primeiro ‘pro forma invoice’ e o envia à Precisa Medicamentos

20 de março – reunião dos irmãos Miranda com presidente Jair Bolsonaro

22 de março – envio da 1ª proposta de fatura (pro forma invoice) pela Precisa Medicamentos ao Ministério da Saúde

23 de março:

– às 13h33, o ministério da Saúde pede à Precisa correção de erros formais no documento mas sem mencionar o equívoco sobre pagamento antecipado pelas vacinas

– às 22h35, o ministério pede correção sobre erro na previsão de pagamento antecipado 

– às 22h54, ministério da Saúde recebe documento com a correção sobre pagamento antecipado”

Sócio fundador da Precisa Medicamentos, Francisco Emerson Maximiano. Foto: Reprodução/Sportlight

A defesa de Maximiano vem acompanhada de um vídeo em que ele supostamente desmente as acusações de superfaturamento da Covaxin.

Uma reportagem de Lúcio de Castro no Sportlight, em 1º de julho, mostra que Francisco Emerson Maximiano lucrou milhões na gestão de Ricardo Barros como ministro da saúde entre 2016 e 2018, no governo Temer, sem fazer nada. Mas envolvendo outra empresa sua: Global Gestão em Saúde.

A compra de remédios Fabrazyme, Myozyme e Aldurazyme para pacientes com doenças raras saiu por R$ 19.906.197,76 envolvendo a Global. 

Max acertou com uma offshore com sede no Panamá para que essa realizasse toda a transação.

Isso é mostrado em documentos da Receita Federal, além de uma interpelação extrajudicial registrada na Justiça de São Paulo.

Fabricante de cloroquina investigada pela CPI e o líder do governo

A farmacêutica Cristália é investigada pela CPI da Covid por causa do “lobby da cloroquina”. Embora não recomende o medicamento para o novo coronavírus, a empresa não é oficialmente contra o chamado “tratamento precoce” e pode ter incentivado uma medicação que não tem comprovação científica.

A investigação foi solicitada pelo senador Alessandro Vieira, do Cidadania.

O sócio-fundador da Cristália é Ogari de Castro Pacheco, do DEM de Tocantins. Ele é suplente do senador Eduardo Gomes, do MDB.

Pacheco e mais sete executivos do laboratório Cristália investiram R$ 2,1 milhões na candidatura de Gomes, o que representa 87% do total arrecadado pela campanha, de acordo com o site Repórter Brasil. O laboratório é localizado em Itapira, no interior de São Paulo. Isso mostra um lobby empresarial na campanha do senador.

O senador Eduardo Gomes cumpre seu primeiro mandato como parlamentar. Ele assumiu a liderança do governo no Congresso com a destituição da deputada Joice Hasselmann, ex-PSL, em 2019. Ele teria muito a esclarecer na CPI da Covid.

E, para completar: seu suplente, o empresário Ogari Pacheco, é próximo de Danilo Berndt Trento, o dito “sócio oculto” da Precisa Medicamentos.

Elos que chegam ao presidente da CPI, o senador Omar Aziz

Presidente da CPI, Omar Aziz
Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado

Omar José Abdel Aziz tem 62 anos, vem de família árabe e italiana, e atua na política desde 1989. Foi governador do Amazonas entre 2010 e 2014, além de ter sido vice-governador por dois mandatos. Está no PSD.

Na condução da CPI da Covid, Omar Aziz faz discursos duros contra o governo Bolsonaro e lembra da crise da falta de oxigênio em Manaus. Em interações no Twitter, ele responde a jornalistas com emojis.

No cotidiano no Amazonas, seu estado, ele tem uma relação muito próxima com Otávio Raman, o proprietário da TV Norte Amazonas, afiliada do SBT.

Omar Aziz negou prisão, em sessões na CPI, de figuras como Fabio Wajngarten, ex-Secom de Bolsonaro, e até do vendedor de vacinas Luiz Paulo Dominghetti Pereira, cabo da PM de Minas Gerais. Os dois foram flagrados na comissão mentindo.

Aziz afirma que “temos alvos maiores”. Ameaçou “algemar” o ex-ministro da saúde Eduardo Pazuello se ele mentisse na CPI. 

Nada aconteceu com Pazuello na comissão.

Outro lado

O DCM enviou novas perguntas à Precisa Medicamentos:

1 – Por que o posicionamento de Francisco Maximiano foi divulgado primeiro no SBT? Isso tem relação com o parentesco entre Gustavo Oliveira e a família Abravanel? Ou com o empresário Otávio Raman Neves?

2 – Por qual razão Danilo Berndt Trento esteve em viagens com Maximiano, fundador da Precisa, para a Índia, mesmo sem ser sócio direto?

A reportagem procurou a assessoria do senador Omar Aziz, presidente da CPI da Covid, com alguns questionamentos:

1 – O senador Eduardo Gomes possui um suplente que é empresário de uma empresa que distribuiu cloroquina que é investigada na CPI, da Crisálida. Por que ele não é convocado para contribuir com as investigações?

2 – Mais nomes da Precisa Medicamentos não poderiam prestar mais esclarecimentos para a CPI?

3 – Quais serão os questionamentos da comissão a respeito da presença de Danilo Berndt Trento nas viagens da Precisa até a ìndia?

Até o momento da publicação deste texto, não recebemos nenhum retorno.