Exclusivo: as provas que ligam Bia Kicis e Zambelli a dono de empresa investigada por corrupção. Por Caique Lima

Atualizado em 23 de julho de 2020 às 14:41
Jorge Feffer posa ao lado de membros do Movimento

Por Caique Lima

Em 2013, uma onda de protestos iniciou-se no Brasil através dos movimentos Passe Livre, Black Blocs e Anonymous. A luta inicialmente era contra o aumento do transporte coletivo e a realização da Copa do Mundo.

Após um período de silêncio, em 2014 novos movimentos surgiram. Os gritos que tomaram o país eram contrários a Dilma depois de sua vitória nas eleições.

Como revelado ontem pelo DCM, Carla Zambelli e Bia Kicis foram financiadas por Jorge Feffer, mas não se resume às duas.

Muitos movimentos autointitulados “do povo”, “independentes” e  “apartidários” não seguiram a cartilha que pregavam. Eles foram cooptados pelo empresário, o sócio da Cia. Suzano, que em 2007 vendeu seu braço petroquímico à Petrobras. 

Uma venda superfaturada que deu um prejuízo de R$2,8 bilhões à estatal, que, em valores corrigidos, chega hoje a R$ 6,2 bilhões, segundo a Lava Jato.

A operação foi questionada na CPI da Petrobras em 2015 e é investigada a passos de tartaruga pelos procuradores coordenados por Deltan Dallagnol.

Os movimentos que à época bradavam contra corrupção ironicamente se uniram a um empresário cuja companhia é investigada por suspeita de desvio de dinheiro público.

Carla Zambelli e Jorge Feffer

Em seu livro, Zambelli o cita como colaborador do movimento NasRuas, mas sua participação ia muito além de doar “materiais, bandeiras, faixas, camisetas para vender e arrecadar recursos”. 

Ela conta que em 2015 teve a ajuda do “grande amigo” para criar um documentário de seu movimento, o NasRuas:

Livro de Zambelli não mostra a real participação de Jorge Feffer no movimento

No livro, Zambelli não detalha qual o tipo de ajuda e tampouco fala que fora dele chama Feffer de “patrocinador”, mas o empresário pagou e coordenou diretamente os produtores do documentário:

Registro bancário do pagamento a um colaborador que participou da produção do documentário
Nome e fotos ocultados a pedido da fonte

A Valéria citada por ele é Valéria Andrade, a quem Zambelli “confiou sua vida”, segundo seu próprio livro, e que ficou responsável pelo NasRuas temporariamente:

Foto: Reprodução/Google Books

Valéria é o elo que mostra que o controle de Feffer não se restringia ao NasRuas. Ela assinou postagens para outras páginas além desta: o Movimento Endireita Brasil (de Ricardo Salles) e o Movimento Avança Brasil (do qual Luiz Philippe foi conselheiro e do qual Olavo de Carvalho segue conselheiro).

Postagem do NasRuas com a assinatura de Valéria Andrade

Outro atual parlamentar que contou com a ajuda de Feffer é o ‘príncipe’ Luiz Philippe de Olréans e Bragança.

Ele é fundador do Acorda Brasil, um dos movimentos pró-impeachment dessa época.

Em fotos, Feffer aparece com a camiseta do movimento, coincidentemente, apoiando a Lava Jato.

O ‘príncipe’, além disso, tinha uma relação bem próxima do empresário. Ambos compartilhavam mesas de jantar com outros “ativistas”:

“Príncipe” e Feffer ao lado de outros “ativistas”

Além do Acorda Brasil, o empresário se fez presente em outros movimentos, como o Endireita Brasil, de Patrícia Bueno e Ricardo Salles.

Patrícia é filha do dono da Construtora Bueno Netto e teve apoio público do empresário em sua eleição para o Conselho Participativo de São Paulo.

Para Feffer, isso seria uma forma de “controlar este prefeito [à época Haddad] e esses vereadores irresponsáveis” que estavam no poder.

Print mostra apoio de Jorge Feffer a “ativista” filha de empresário

O atual ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, foi secretário particular de Alckmin, secretário do Meio Ambiente em São Paulo e também advogado da empresa do pai de Patrícia.

Ele foi um pouco mais longe pela empresa de Feffer.

Salles foi condenado por improbidade administrativa após fraude ambiental que favorecia justamente a Suzano.

Esses grupos se uniram durante o processo de impeachment da ex-presidente Dilma.

Outro nome que aparece ligado aos ativistas é Bia Kicis, a ex-procuradora lavajatista, que se juntou a Zambelli nesse período.

Ambas receberam doações de campanha de Jorge Feffer nas eleições de 2018, segundo dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Kicis ainda recebeu do empresário, além da doação oficial, mais R$2 mil reais em uma vaquinha.

Todos esses movimentos, coincidentemente, possuíam discursos alinhados e publicações assinadas por Valéria Andrade, já citada por Jorge Feffer.

Outros nomes que não pertenciam aos movimentos mas se juntaram a eles também tiveram auxílio de Valéria, como Joice Hasselmann e Janaína Paschoal:

Valéria Andrade já administrou as páginas de Joice Hasselmann e Janaína Paschoal

Outra ativista associada a Feffer que prestou serviços para o grupo é Zoe Martinez, que já assinou postagens com Valéria Andrade:

Post em apoio ao PMDB assinado por Valéria Andrade e Zoe Martinez

Ela aparece aparece em foto de 2017 com Jorge Feffer e coincidentemente trabalhou como secretária parlamentar de Bia Kicis e Joice Hasselmann.

Em entrevista ao DCM em 2017, Zambelli afirmou que nunca recebeu “um centavo de político ou partido algum”.

Mas segundo Darcísio Perondi, que era vice líder do PMDB na Câmara, em entrevista à ÉPOCA no mesmo ano, o governo cooptou movimentos que fizeram campanha pelo impeachment de Dilma para angariar apoio a Temer por meio das redes sociais e de lobby entre empresários. 

Ela ainda disse, na entrevista ao DCM, que “esse governo [Temer] nunca foi a opção do movimento NasRuas. Nem Dilma e nem Temer”, mas fotos dizem o contrário:

Zambelli se contradiz muito facilmente

No fim das contas, os investimentos de Jorge Feffer renderam.

Zambelli e Kicis estão na linha de frente do bolsonarismo, Luiz Philippe foi cotado como vice de Bolsonaro, assim como Janaína, que abandonou o barco.

O empresário ainda conseguiu emplacar um guru ideológico no atual governo.

Mensagens trocadas publicamente por eles no Facebook mostram o grau de amizade que compartilham o autointitulado filósofo e Jorge Feffer.

Vale lembrar ainda que Paulo Guedes apoiou a candidatura de Bia Kicis em 2018 e ela apresentou o economista ao seu atual chefe: Bolsonaro.

Cabe uma menção ainda ao fato de Ricardo Salles não ter se dissociado da empresa de Feffer após a promoção de secretário a ministro do Meio Ambiente:

O DCM procurou Carla Zambelli, Bia Kicis e Jorge Feffer.

A resposta de Zambelli foi:

“Não respondo a provocações de jornais de esquerda e mantidos exclusivamente para tentar prejudicar o governo e seus aliados”.

Bia Kicis e Jorge Feffer não retornaram. O espaço está aberto para a manifestação deles.