
A produtora de cinema Bárbara Marques, brasileira residente na Califórnia desde 2018, foi detida no último dia 16 pelo ICE (Serviço de Imigração e Controle de Alfândega dos Estados Unidos) durante um procedimento de regularização de documentos em Los Angeles.
Bárbara compareceu ao prédio federal do órgão acompanhada do marido, o norte-americano Tucker May, e da advogada Giselle Ambrósio, que também atua junto ao Consulado do Brasil. O encontro tinha como objetivo a análise de sua documentação para emissão do greencard, após o casamento com May em abril deste ano.
Segundo relatos da família, após a conclusão do procedimento, um agende de imigração do ICE teria alegado falha em um fotocopiadora e conduzido Bárbara a outra sala. Nesse momento, ela foi separada do marido e da advogada e acabou detida. O órgão justificou a prisão afirmando que a brasileira não compareceu a uma audiência judicial sobre seu processo de deportação em 2019 — notificação que, de acordo com May, nunca chegou ao conhecimento dela, então a ordem de deportação se deu à revelia.
Desde então, Bárbara foi impedida de se comunicar com familiares e advogados. A falta de informações levou ao seu encaminhamento para o Centro de Detenção Adelanto, na Califórnia, no deserto do sul do estado, unidade já denunciada por organizações internacionais de direitos humanos por maus-tratos, superlotação e falhas no atendimento médico.
Na última sexta-feira (22), a brasileira foi transferida do presídio de Adelanto para um destino não informado. Advogados tentaram obter uma ordem de restrição para evitar a remoção, mas o pedido foi negado. Dois dias depois, a família recebeu a informação de que Bárbara teria passado pelo Arizona, antes de ser encaminhada para o centro de detenção e triagem de Alexandria, próximo ao aeroporto de Alexandria, no estado de Louisiana. De Louisiana, Bárbara pode ser deportada ao Brasil.
No Facebook, o marido de Bárbara, Tucker May, fez um desabafo sobre o desaparecimento da mulher e pediu ajuda da imprensa.
“Meu nome é Tucker May. Em abril me casei com o amor da minha vida, Bárbara Marques. Neste momento, temo por sua vida.
Há uma semana e meia ela foi levada pelo ICE durante nossa reunião devidamente agendada para o green card no prédio federal no centro da cidade. Ao final do que nos foi dito ser um encontro bem-sucedido, o agente usou a desculpa de uma copiadora quebrada para enganá-la e fazê-la se afastar da nossa advogada. Uma vez separada de sua representação legal, ela foi presa. O motivo da detenção foi uma audiência de 2019 que minha esposa teria perdido, mas sobre a qual nunca foi notificada.
Desde então, temos trabalhado com advogados para corrigir a situação. O centro de detenção de Adelanto tem dificultado ativamente a comunicação da minha esposa com sua advogada, atrasando a entrega de documentos que foram enviados para a unidade.
Na noite passada, ela foi retirada da unidade de Adelanto e levada para um destino não revelado, apesar de nosso advogado ter protocolado uma ordem de restrição temporária para impedir que isso acontecesse. Eles podem estar enviando-a para qualquer lugar do mundo e não temos como saber.
Peço ajuda para chamar a atenção da mídia e das autoridades para essas múltiplas falhas de devido processo e de procedimento adequado, diante da deportação injustificada de uma mulher cujo casamento legal foi devidamente reconhecido como legítimo pela imigração por meio do processo de petição I-130.
Por favor, se você tiver algum contato que possa ajudar, encaminhe esta informação.”

A advogada Giselle Ambrósio, que acompanhou parte do processo, declarou que não comentaria o caso a pedido da família, que teme retaliações do governo norte-americano.
A defesa de Bárbara agora está sob responsabilidade do advogado Marcelo Gondim, que classificou o procedimento como irregular. Segundo ele, em situações anteriores, a USCIS (Serviço de Imigração e Naturalização, distinto do ICE, que atua como polícia migratória) costumava apenas negar o pedido de ajuste de status, permitindo que o imigrante reabrisse a ordem de deportação antes de qualquer medida mais severa.
“Estamos aguardando a corte federal em Los Angeles emitir uma ordem para parar a transferência dela e a deportação. Isso pode ocorrer a qualquer momento.”
A SS do governo Trump
O governo Trump anunciou na sexta-feira (26) o envio de agentes do Departamento de Justiça (DoJ) para reforçar a segurança em instalações do Serviço de Imigração e Alfândega (ICE) nos Estados Unidos.
A medida foi comunicada pela procuradora-geral, Pam Bondi, em publicação no X.
“Tenho testemunhado ataques contínuos de violência contra agentes do ICE em todo o país. O Departamento de Justiça não ficará inerte diante de tamanha ilegalidade. Sob minha orientação, estou destacando agentes do DoJ para as instalações do ICE — e para qualquer lugar onde o ICE esteja sitiado”, afirmou.
Bondi classificou as ações contra o ICE como “terrorismo doméstico” e disse ter determinado investigações contra entidades e indivíduos acusados de obstruir o trabalho do governo. Segundo ela, o DoJ buscará aplicar “as acusações mais graves disponíveis”.
A procuradora acrescentou ainda que FBI, DEA, ATF e US Marshals Service foram instruídos a acelerar operações em conjunto com o Departamento de Segurança Interna para “localizar, deter, processar e remover todos os estrangeiros ilegais presentes no país”.
Em entrevista à Fox News, o vice-presidente J.D. Vance responsabilizou adversários democratas e a imprensa por incitar violência contra agentes do ICE.
O anúncio acontece dois dias após um ataque em um centro de detenção do ICE no Texas, que deixou um morto e dois feridos, aumentando a tensão em torno da política migratória da administração Trump.