Exclusivo: funcionários da Havan relatam demissões e desrespeito a normas sanitárias em meio à pandemia

Atualizado em 29 de setembro de 2021 às 14:12
Luciano Hang em live terrorista na Havan

Esta reportagem é fruto de crowdfunding do DCM. As demais da série estão aqui

O Véio da Havan sentiu o golpe do coronavírus nos negócios.

O fechamento da rede em Santa Catarina na quinta passada pareceu demais para ele, mesmo sendo o mais novo bilionário brasileiro. A fortuna de Luciano Hang é estimada em 2,2 bilhões de dólares.

O Véio postou um vídeo de 52 minutos despejando fogo nas medidas de quarentena (assista no pé deste artigo).

Disse que decisão do governo de SC de fechar o comércio (embora algumas lojas da rede em outros estados continuem funcionando) “é uma histeria”, reproduzindo a abordagem irresponsável do presidente Bolsonaro.

Em seguida ao vídeo, choveram críticas de seus empregados nas redes sociais. Mas elas foram reprimidas pelo Véio com uma caçada aos autores dos comentários, resultando em demissões.

Ele só fechou sua loja principal depois que a polícia foi ao local.

Mais: sem os negócios “vamos quebrar o Brasil, mais do que o coronavírus, será a maior crise da nossa história”.

Aí ele ameaçou: “Do jeito que estão as coisas eu posso ter que demitir meus 22 mil empregados e fechar o negócio. Eu não dependo da Havan, vou para o exterior, ou para a praia”.

E terminou com esta pérola: “Depois que esta crise passar ninguém vai conseguir dar vida para este defunto” (referindo-se ao ambiente de negócios no Brasil).

Um grupo de empregados que foi obrigado pelo Véio a trabalhar mesmo depois da suspensão ordenada pelo governador, começou a postar informações nas redes.

O DCM teve acesso às mensagens.

Um dos comentários diz que “além de não seguir as normas governamentais para durante sete dias todos ficarem em suas casas, o Véio obriga funcionários a irem trabalhar mesmo sem transporte público, falando para pedirem carona e se virarem”.

Polícia fecha loja da Havan em SC

Uma queixa deles: o setor de Telecobrança (dos carnês da rede), sem janelas, é apenas uma sala onde muitas pessoas trabalham a menos de 1 metro de distância uma da outra, ambiente ideal para a reprodução do vírus.

Em reunião privada, quando indagada, a gerente da telecobrança disse para seguir as ordens do Véio e não as diretrizes governamentais de paralisar, “porque ele é quem paga os salários de vocês”.

Funcionários indignados postaram a “decisão pensada simplesmente na questão financeira e não na real segurança dos funcionários, que mesmo sem clientes, terão que ir trabalhar”.

O Véio não perdoou e mandou embora mais funcionários, também localizados nas redes sociais, usando como motivo ‘denegrir a imagem da Havan’.

Segundo outro grupo de empregados no Whatsapp, o Véio anda muito instável nas últimas semanas, passando horas no computador na caçada àqueles que repassam qualquer info à imprensa.

O grupo do Whatsapp fervilha: um empregado conta a reação do Véio à publicação da primeira reportagem desta série, que conta do suicídio do pai dele, “seu” Lula.

“Ficou um clima de velório na Havan no dia em que a reportagem saiu. O Véio geralmente faz um escândalo com tudo, fala, rebate, esbraveja, grava áudios e mais áudios nos grupos da Havan, mas daquela vez, nenhuma palavra. Ele ficou com uma cara horrível o dia inteiro, cabisbaixo, todo o escritório viveu um dia de silêncio sepulcral, “parecia um velório”.

Na última semana, o pessoal notou mudanças para pior no comportamento do Véio.

Grupo de WhatsApp de funcionários da Havan: desespero

Um empregado me contou que “tá duro trabalhar com o homem”.

“Ele é do tipo que tem uma ideia às 4h da manhã e manda áudios e mais áudios pra equipe, quer tudo pra ontem. Vai dando as ordens: fulano tal hora em tal lugar com tal e tal coisa pra gravar um vídeo assim e assado. Não importa se é feriado, final de semana, nem se o empregado está de férias”, falou.

O Véio da Havan parece ter respostas para todos os males da hora do Brasil, postando tudo na web. O pouco tempo que lhe sobra é para elogiar o presidente Bolsonaro.

Em seus vídeos, ele demonstra uma imensa necessidade de protagonismo, tentando abraçar o mundo com as pernas.

A própria equipe direta dele, incluindo os puxas, “está começando a ficar saturada com as loucuras dele”, conta um empregado do marketing.

Ele diz que “várias pessoas estão dizendo pra ele baixar a bola, que tá ficando feio, que ele tá perdendo a graça, que a onda dele tá caindo, mas ele não tem freio. Ele posta coisas esdrúxulas nos grupos e faz comentários mais ainda”.

Segue: “Faz os posts dele, compartilha nos grupos e dá uma ordem: ‘Quero que todo mundo veja, curta, comente e compartilhe’. Ele está desesperado pela atenção de pessoas comentando os posts dele”.

Segundo um funcionário da contabilidade que coordena dois grupos, “até os filhos Lucas e Leonardo já criticam o Véio: ‘Pai, para. Deu. Chega, Tá ridículo isso. PARA!’ Mas ele não ouve ninguém”.

“O Véio se crê um deus. Ele acha que é adorado e idolatrado por todos. Ele acha que é uma unanimidade”.

Efeitos econômicos do coronavírus.

Posted by Luciano Hang on Thursday, March 19, 2020