Exclusivo: Gleisi Hoffmann admite que falhou ao dar total crédito a Miriam Leitão. Por Joaquim de Carvalho

Atualizado em 14 de junho de 2017 às 20:03
Gleisi Hoffmann: “a bandeira do ódio não nos pertence”

Miriam Leitão não decepcionou seu público com a história do esculacho no voo da Avianca. No jargão jornalístico, contou uma cascata — inverdade.

Mas não é isso o que Miriam Leitão faz com frequência?

Faz isso sempre contra os adversários de seus patrões, diga-se, porque, se errar o alvo, Miriam Leitão não dura.

Quem depcionou seu público foi a senadora Gleisi Hoffmann, presidente do PT.

(No início da noite, depois de divulgar uma nota que circulou pelo whatsapp, ela me deu entrevista e admitiu que falhou ao ligar para a jornalista sem antes falar com a direção do PT no Rio de Janeiro, que estava no voo — veja ao final).

Num monumental exemplo de que o partido não superou o complexo de vira-lata, se apressou em telefonar para a jornalista da Globo.

A assessoria de Gleisi Hoffmann informa que não foi para pedir desculpas.

Se não foi, por que telefonou?

“Ela telefonou para manifestar solidariedade e para dizer que já tinha passado por isso muitas vezes e sabe o quanto é duro”, registrou a assessoria.

Não, Miriam Leitão não passou pelo que passam as militantes de esquerda no Brasil, incluindo aí Gleisi Hoffmann, que, em razão de suas posições firmes no parlamento, é muito hostilizada.
Os xingamentos são pesados – o menos agressivo que se diz a ela é “vagabunda”.

Vanessa Grazziotin, do PC do B, chegou a ser fisicamente agredida por um fanático de direita, paranaense separatista.
Tudo registrado por câmera.

A falta de registro em câmera é apenas uma entre muitas evidências de que Miriam mentiu.

Os testemunhos tornados públicos contradizem a jornalista da Globo.

Será que não havia no voo da Avianca uma única pessoa que não fosse de esquerda e pudesse testemunhar o que Miriam diz ter sofrido?

Afinal, o voo não era fretado e, se fosse, Miriam não estaria lá.
Diante de um quase linchamento como o que a jornalista diz ter sofrido, será que não havia alguém disposto a registrar com a câmera o constrangimento de uma celebridade e depois postar nas redes sociais, ainda que fosse apenas para ganhar popularidade?

Este é o comportamento típico da nossa época — registrar tudo com celular –, mas, no caso de Miriam, nada. E os vídeos que existem não mostram o que ela narra.

A história contada por Miriam não cola.

Não faz sentido.

Miriam Leitão com Fernando Henrique: ela não é vítima

Mas Gleisi, diante da repercussão da coluna de Miriam, decidiu pelo telefonema.

Lembrou a ex-presidente Dilma Rousseff, que, em 2014, questionada pelo Estadão sobre a compra da refinaria de Pasadena, divulgou nota dizendo que havia concordado com compra diante de um relatório falho que lhe apresentaram.

Dilma, cuja honestidade até os adversários reconhecem, trouxe para o Palácio do Planalto a crise da Petrobras, e aí a bola de neve só cresceu.

Não foi isso que provocou sua queda, já que as articulações golpistas estavam em curso mesmo antes de sua reeleição.

O problema é que tanto Dilma quanto agora Gleisi fazem o jogo do adversário.

Não é por dolo.

É pelo complexo de vira-lata, que alguns chamam de excesso de republicanismo.

Alguns líderes petistas entram na agenda e na pauta do adversário.

O texto de Miriam Leitão é malicioso, do começo ao fim.

No título, “Ódio a bordo”, ela tenta colar nos petistas uma característica própria dos militantes de direita.

No último parágrafo, encontra um jeito de culpar o principal líder do PT pelo esculacho.

“Lula citou, mais de uma vez, meu nome em comícios ou reuniões partidárias. Como fez nesse último fim de semana. É um erro. Não devo ser alvo do partido, nem do seu líder. Sou apenas uma jornalista e continuarei fazendo meu trabalho.”

Passando-se por vítima, Miriam inverte sinais.

A direita, o seu lado, passa a ser a vítima.

A esquerda, o de Gleisi, passa a ser o agressor.

Gleisi não pode alegar desconhecimento do que Miriam é capaz de fazer.

Em 2014, Miriam publicou um artigo em que acusava a senadora Gleisi manipular o índice de desemprego. Leia o que Gleisi publicou na época:

Eu fui vítima dessa história. Criaram essa tese inverídica e a divulgaram em todo o País, mesmo sem apresentar qualquer indício ou fato (…) E eu sei quando isso começou. Foi quando a jornalista Miriam Leitão, do jornal O Globo, me acusou, sem nenhuma razão objetiva, de investir contra a autonomia do IBGE por temer que os novos índices do desemprego pudessem reduzir o brilho de um dos números a se mostrar na campanha da presidenta Dilma: o da taxa de desemprego de 5%.
Os fatos desmentiram Miriam — não houve manipulação –, mas outros jornais já haviam embarcado na tese da colunista de O Globo.

Na época, Gleisi afirmou com ironia que iria esperar, com muita paciência, que os jornais e os jornalistas que pontuaram sobre esse tema voltassem a abordar a pesquisa do IBGE e expliquem como fica a história de maquiagem de índices criada por eles.

Pelo jeito, espera até hoje.

PS:

1) Nesta quarta-feira à tarde, depois da repercussão negativa do telefonema que deu a Miriam Leitão, Gleisi divulgou mensagem no WhatsApp:

Companheiras e companheiros,

Estou acompanhando nas redes sociais o debate e opinião da militância partidária sobre o texto da jornalista Miriam Leitão e a nota que soltei a respeito.

Em um primeiro momento, diante da manifestação da jornalista, revivi o impacto de situações constrangedoras que senti algumas vezes, com o escracho a que, sozinha, fui submetida em aviões, aeroportos e locais públicos. Sofri agressões, como sofreram agressões muitos de nós petistas.

Quero como presidenta de nosso partido ter diálogo constante com nossa militância, ouvindo e considerando opiniões e posicionamentos. Compreendo a reação, uma vez que tantas e tantas vezes sofremos, individual ou coletivamente, as agressões da Rede Globo.

A nota em nenhum momento diminui nossa luta contra as idéias e posturas da jornalista Miriam Leitão, muito menos contra o monopólio midiático em que ela trabalha.

Nossa indignação tem se manifestado em ações massivas e coletivas, como as que estamos fazendo em conjunto com os movimentos sociais pelas ruas do Brasil, como a que faremos no dia 30, com a greve geral. Ações massivas, coletivas, democráticas e firmes pelo Brasil e pelo povo é o nosso campo de luta
Estou com vocês!
Gleisi

2) No início da noite, ela retornou meu telefonema e deu a seguinte entrevista.

Senadora, quando a senhora telefonou para Miriam Leitão, não tinha ainda todos os elementos sobre o que de fato aconteceu. A senhora faria isso de novo?

— Eu telefonei para Miriam Leitão para lamentar o ocorrido. Não foi para para me desculpar ou me solidarizar. Eu quis dizer a ela que muitas vezes eu fui hostilizada em aeroportos e quando entrei em aviões. É um clima de radicalização que eu entendo, mas não concordo que haja manifestações desse tipo em avião. Na nota que nós divulgamos, eu deixo claro que a empresa em que ela trabalha é responsável em grande parte por esse clima de radicalização.

Ligaria de novo?

Quando eu liguei para Miriam Leitão, não havia todas as informações que depois foram sendo divulgadas ao longo do dia. Portanto, admito que eu errei quando liguei para Miriam Leitão sem antes falar com nossa direção no Rio de Janeiro. É uma lição que a gente aprende na luta.

Primeiro falar com os de dentro para depois, se for o caso, falar com os de fora.

É isso. Quando eu liguei, eu tinha as informações que tinham sido publicadas. Depois, ficou claro que não foi bem aquilo que aconteceu.

Quais os próximos passos?

Continuaremos na luta contra o monopólio que representa a Globo e, ao lado da nossa militância, se manifestando, nos locais apropriados. O ódio não é a nossa bandeira, e não aceitamos que tentem jogar para nós um comportamento que não nos pertence.