A hashtag “hienas de toga” ocupa grande parte do Twitter hoje, alimentada pela rede bolsonarista, o que revela a hipocrisia de Bolsonaro: ele só pediu desculpas pelo vídeo com ofensa ao STF depois que o assunto já tinha ganhado a rede.
Mas há uma grande chance de que essa campanha não seja espontânea e, por trás dela, esteja um exército de robôs, o mesmo que foi esquadrinhado por uma startup que realiza levantamentos na rede social, a Refinaria de Dados.
O estudo teve como objeto a crise que envolve Bolsonaro e o PSL. Gregório Gomes, fundador e diretor da Refinaria de Dados, analisou 380 mil usuários que, nos últimos 45 dias, fizeram alguma postagem relacionada ao partido ou a seu rival, o presidente da república.
A maior parte — 97% — se manifestou favoravelmente a Bolsonaro. Ao verificar quem são essas pessoas, descobriu que quase 40% têm perfis sem informação, chamados de “missing”.
Do total de perfis “missing”, 87% apresentaram ações típicas de robôs. São contas movimentadas a partir do exterior — a maior parte dos Estados Unidos, Canadá, Irã e Índia.
Por que usuários desses países estariam interessados em comentar assuntos como “#bolsonaro”, “# BolsonaroEstamosContigo”, “#bolsonaro2022” e “#bolsonaroorgulhaobrasil”?
Alguns poderiam dizer que são brasileiros que vivem lá, mas isso não faz sentido quando se compara com as demais publicações deles: muitas são em inglês e, curioso, parte delas tem postagens que direcionam o receptor para sites de pornografia.
“Quando você contrata disparos em massa, pode ocorrer erro desse tipo. Alguém colocou a hashtag ‘Bolsonaro orgulho do Brasil’ numa postagem vinculada a outro cliente, interessado em espalhar conteúdo de pornografia”, comentou Greório Gomes.
Nos 45 dias que realizou o levantamento, Gregório constatou que 6% foram banidas da respectivas plataformas — Facebook e Twitter, por exemplo — em razão de ações suspeitas como este, de vincular o nome de Bolsonaro a conteúdo completamente estranho.
Outra informação levantada pela pesquisa é que muitos perfis de bolsonaristas cadastrados em países estrangeiros fazem postagens em horários que não coincidem com os de maior audiência local, e sim do Brasil.
“Um fato curioso também é que o aumento de visibilidade dessas hashtags (pró-Bolsonaro) sobe 80 vezes mais rápido do que as alimentadas de forma orgânica”, diz Gergório Gomes.
“Bolsonaro tem seguidores, mas uma hashtag que demoraria quatro dias para subir, com esse esquema de fraude sobe em algumas horas”, detalhou.
Esse tipo de fraude cria o ambiente propício para que os seguidores de verdade se engajem em campanhas artificiais, com a convicção de que participam de um movimento autêntico.
Gregório explica alguns critérios que utilizou para fazer o levantamento:
“A forma como capturamos as atividades dessas contas abrange a análise das palavras contidas na publicação por meio de algoritmos, horário, localização e pré-disposição de termos dentro da postagem. Possuímos uma inteligência artificial capaz de distinguir o aleatório do programado. Não é algo fora do comum contas inválidas ou bots no meio em que trabalhamos, mas o número total e a velocidade com que determinadas postagens (as que são pró-Bolsonaro) alcançaram números altos nos chamaram atenção para entender o que estava acontecendo”, acrescentou.
Esse levantamento pode ser último para dar tranquilidade a quem se impressiona com o barulho que os bolsonaristas fazem nas redes. Mas não só. Pode ser um bom caminho para a investigação na CPI das Fake News.
Há um um organização por trás dessa milícia digital, certamente conectada a essa gente que tem a senha do Twitter do presidente e que, como ele revelou nesta terça-feira, não se restringe ao filho Carlos.
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Segue o estudo: