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Exclusivo: o chefão da Fórmula 1, Bernie Ecclestone, fala sobre as acusações de suborno

O dirigente inglês, que está sob investigação pela venda dos direitos comerciais da categoria, conversou com o Diário.

Ecclestone

Bernie Ecclestone é uma força da natureza. Mesmo aos 82 anos, ele anda para lá e para cá na pista dos boxes e nos paddocks com a mesma energia ilimitada que marcou seu reinado na Fórmula 1 nas últimas três décadas – e contando. Foi fascinante observar Ecclestone trabalhando no Grande Prêmio do Canadá, em Montreal, sentado em sua pequena tenda privada atrás da pista dos boxes. Durante nossa entrevista o “ringmaster”, como ele comumente é chamado, falou das acusações de suborno que pesam sobre ele.

“Eu não estou, em absoluto, perturbado ou preocupado e nós vamos ter que esperar até os assuntos se desenrolarem”, disse.

A procuradoria de Munique acusou-lhe de suborno. Em causa está o suposto pagamento por parte do inglês de 33,5 milhões de euros a um antigo diretor do banco público BayernLB.

O inglês deu o dinheiro ao banqueiro Gerhard Gribkowsky durante o processo de venda da participação do BayernLB no negócio da Formula 1. Gribkowsky está preso, há dois anos, por desfalque e fraude fiscal. Em 2006, foi acusado de vender a participação do BayernLB na Formula 1. Segundo a procuradoria alemã, Ecclestone pagou aquela quantia a Gribkowsky através de uma empresa chamada Bambino Holdings, que está em nome da sua esposa, e também de empresas fantasma situadas no Caribe.

O dirigente afirmou que o pagamento foi para prevenir que Gribkowsky revelasse informações potencialmente prejudiciais para as autoridades fiscais britânicas.

O suborno é considerado um crime sério na Alemanha e há leis severas contra corporações que recebem propina em troca de contratos de concessão, garantias de favores ou, como no caso da venda dos direitos da F1, organizar a venda de ações por menos do que o valor real de mercado.

As acusações estão em processo de desencadear uma tempestade de publicidade negativa e especulações sobre o comportamento e o futuro do lendário czar da F1.

Ecclestone admitiu que a Bambino Holdings pagou o montante a Gribkowsky, mas negou o suborno, testemunhando no tribunal que o dinheiro era para manter o banqueiro “quieto”. De acordo com Ecclestone, ele estava sendo submetido a uma “pressão mais bruta” por Gribkowsky, que o estaria chantageando ao ameaçar apresentar “falsas evidências” às autoridades fiscais britânicas.

O juiz do caso disse no veredito que Gribkowsky havia sido “levado ao crime” por Ecclestone.

Numa entrevista recente que fiz com Bernie Ecclestone, ele estava como sempre impertubável e parecia não ter medo que o Ministério Público alemão, em sua busca zelosa por indivíduos proeminentes ou ricos, lhe causasse problemas. Ecclestone se dizia animado com o casamento de sua filha Tamara no sul da França e absolutamente convicto de que “não tinha feito nada de errado”.

Incomoda o fato de estar encarando acusações na Alemanha, um país onde o Ministério Público é comprometido com a busca por indivíduos de perfil alto, desde um ex-presidente até o presidente do Bayern de Munique?

Eu não tenho acompanhado as notícias sobre esse “clima hostil”, portanto eu realmente não posso especular nada. Mas eu tenho muita fé na justiça ao redor do mundo, ainda que existam casos no passado em que essa fé não tenha sido justificada em alguns países.

Acho que no fim os funcionários do sistema judicial de cada país irão fazer aquilo que acreditam ser a coisa certa. Se eles fizerem algo de mal para alguém, isso ficará em suas consciência pelo resto de suas vidas.

Tenho 100% de confiança no sistema judiciário da Alemanha. Não estou minimamente preocupado porque tenho dito a verdade.

Tudo o que eu disse no julgamento é verdade. Portanto, eu não tenho motivos para acreditar ou esperar que qualquer coisa seja usada contra mim.

O que seus advogados alemães disseram?

Nada, eles não me informaram nada porque você não pode tomar decisões se não há cobranças ou problemas para lidar. Então é normal esperar até que haja alguma razão para reagir.

Você vai entregar o cargo?

Eu acho que jamais terei de fazer isso. Mas, se eu não estiver aqui, sempre terá alguém capaz de fazer o que eu faço.

Você não acha que deveria ter ido às autoridades da primeira vez em que sentiu que o banqueiro estava te chantageando?

Eu não sei com você, mas essa coisa maravilhosa chamada retrospectiva já aconteceu comigo algumas vezes. Mas quão útil é ela?

Você acha que sua fama de mestre das negociações vai ajudar?

Espero que sim. É como ser um cantor ou um artista. Você nasce com alguns dons e os usa da melhor forma possível na vida. Você começa a aprender e reconhecer que tem certas habilidade e atitudes que utiliza para crescer. Eu não tenho nenhum talento como artista, mas eu tenho uma boa consciência para o negócio. Saber em que você é bom te ajuda na vida.

Você tem medo de ser preso?

Não. Essa poderia muito bem ser uma das minhas maiores qualidades. Eu não vou ser ameaçado ou intimidado por alguém e sempre estou preparado para fazer o que for necessário para defender meus interesses.

 

Harold Von Kursk

Alemão, naturalizado canadense, Harold tem 52 anos e é, além de jornalista, diretor de cinema. Em mais de 20 anos de carreira, entrevistou atores e cineastas para a mídia americana e europeia. Atualmente está morando em Roma.

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