O atual prefeito de Cascavel, Leonaldo Paranhos da Silva (PL-PR), é sócio da empresa Vipar Construtora e Incorporadora LTDA desde 2022. A empreiteira, que tem como sócia sua filha, Vivian Crivelari Paranhos Calegari, teve uma evolução de patrimônio que foi de R$ 20 000 para R$ 4.420.000, ou seja, cresceu 221 vezes em 20 meses.
Essas informações constam em um dossiê que o Diário do Centro do Mundo (DCM) recebeu. Parte dessas denúncias foi feita pelo ex-árbitro de futebol, ex-secretário de Esportes do Paraná e ex-deputado Evandro Roman (PP-PR) em um site chamado ParanhosLeaks.
Roman encaminhou documentos para veículos como Gazeta do Paraná. Paranhos defende que as denúncias sejam investigadas e qualificou as informações como “ataque eleitoral”.
De bóia-fria a prefeito e sócio de construtora milionária
Paranhos tem 58 anos, nasceu em Paraíso do Norte, no Paraná, e foi bóia-fria, pegando algodão e café. Entrou na militância estudantil em 1982, quando mudou-se para Cascavel, filiando-se ao MDB e permanecendo por 16 anos com o fim da ditadura.
Foi vereador, vice-prefeito e deputado estadual e, a partir de 2007, passou pelos partidos PTB, PTC, PSC até entrar no Podemos. Mudou-se mais recentemente para o PL de Bolsonaro. Presidiu CPIs na Assembelia Legislativa do Paraná. E então venceu duas vezes para prefeito de Cascavel em primeiro turno.
No ano de 2016 foi eleito e obteve 86.099 votos, 51,17% dos eleitores. Em 2020 foi reeleito com 71,73% dos votos. Ele divulga agora, em 2024, que segundo o Instituto IRG, ele tem 90% de aprovação no município.
O dossiê entregue ao DCM aponta um crescimento de patrimônio privado simultâneo à ascensão política de Leonaldo Paranhos. Em entrevista à mídia local, material de 2021, o prefeito estudava aumentar “o perímetro urbano” sem necessariamente atender ao tamanho da população da cidade.
O prefeito de Cascavel tornou-se sócio da incorporadora Vipar em 2022 com a filha Vivian Paranhos, que foi fundadora da Meu Viver Contrutora e Incorporadora LTDA. E ai chegamos ao labirinto envolvendo o político do PL.
Vivian Crivelari Paranhos fundou a Meu Viver construtora em 2017 com apenas R$ 20 mil de capital e sem nenhuma formação nessa área. Empreendimentos no valor de R$ 6 milhões chegaram a serem comercializados, aponta esse dossiê.
Leonaldo Paranhos declarou R$ 856.752,68 de patrimônio quando foi eleito. Vivian tinha uma dívida com a Unipar, a Universidade Paranaense e era proprietária da Donna Florinda Cabeleireiros.
O sócio de Vivian Paranhos, seu irmão Pedro no início do empreendimento, em 2017, não tinha qualquer ocupação profissional e era 10 anos mais jovem – ele estava com 20 anos. O pai de ambos entra quando a empresa se torna a Vipar, em 2022, e a companhia se torna milionária.
Para além da empreiteira milionária: escândalo da Voepass
Os jornalistas Lucas Neiva e Vanessa Lippelt, do site Congresso em Foco, informaram que uma denúncia anônima encaminhada no dia 26 de agosto ao Ministério Público do Paraná acusou a Voepass de operar irregularmente no município de Cascavel.
Na mesma denúncia, é apontado o crime de responsabilidade por parte da Transitar, autarquia local de regulação no setor de mobilidade. A denúncia chegou 17 dias após o desastre aéreo de Vinhedo, local da queda do avião que partiu de Cascavel rumo a Guarulhos, em São Paulo.
Segundo os documentos juntados à denúncia, a empresa Passaredo Transportes Aéreos, antigo nome da Voepass, operou no aeroporto da cidade paranaense sem contrato administrativo no período de 31 de março a 18 de junho deste ano, pouco mais de um mês antes do acidente, ocorrido em 9 de agosto.
Ou seja, para além da responsabilidade da Transitar, a prefeitura gerida por Paranhos não tomou as providências necessárias para evitar o funcionamento da empresa de aviação no município. Isso levou a Câmara a estudar uma convocação do prefeito para prestar esclarecimentos
Na ocasião, um avião turboélice modelo francês ATR-72 com 62 pessoas a bordo, 58 passageiros e quatro tripulantes, caiu em 9 de agosto de 2024 em Vinhedo, no interior de São Paulo. A formação de gelo pode ter sido fator para a queda da aeronave, apontam especialistas.
Paranhos apoia seu vice-prefeito Renato Silva, do PL, pela prefeitura de Cascavel. Silva está na frente da pesquisa realizada pelo Paraná Pesquisas para concorrer ao cargo de gestor da quinta maior cidade do estado, com 365 mil habitantes.
O vice tem 37,6% das intenções de voto e lidera isolado. Ele é seguido pelo ex-prefeito Edgar Bueno (PSDB), com 22,8%, por Márcio Pacheco (PP), que tem 20,7% Dentro da margem de erro de 3,8 pontos percentuais para mais ou para menos), os dois candidatos encontram-se tecnicamente empatados na segunda posição.
Renato Silva é abertamente apoiado por Paranhos e pelo governador Ratinho Jr. E, menos presente na campanha, o vice-prefeito também tem fotos nas redes com o ex-presidente Jair Bolsonaro.
Sua eleição pode ser boa para o atual prefeito e para os negócios que envolvem a sua família.
Outro lado
O DCM procurou o prefeito de Cascavel com as seguintes perguntas:
Por que o senhor tornou-se sócio da Vipar com sua própria filha, Vivian, em uma empresa com mais de quatro milhões de capital?
Isso não configura conflito de interesses com seu trabalho na prefeitura?
Por que seus filhos entraram no setor de construção e incorporação em 2017 sem terem formação técnica ou empresarial para isso?
Há uma denúncia no MP de que a empresa Passaredo Transportes Aéreos operou irregularmente em Cascavel durante a tragédia em Vinhedo. A prefeitura e sua autarquia responsável, a Transitar, falharam na regularização dessa empresa?
O espaço está aberto para manifestações.
O DCM procurou o ex-deputado Evandro Roman com os seguintes questionamentos:
Por que o senhor decidiu denunciar a evolução patrimonial do prefeito de Cascavel? O senhor teme represálias?
O senhor acredita que a evolução das empresas Meu Viver e Vipar estão diretamente relacionadas com a gestão de Paranhos no município?
O senhor teme que a situação de evolução patrimonial da família Paranhos cresça ainda mais caso Renato Silva seja o vencedor da eleição?
Roman respondeu ao Diário do Centro do Mundo:
“Decidi denunciar por ter provas robustas que ele se tornou o prefeito mais corrupto da história de nossa cidade! Eu acredito que terei sim represálias, inclusive com várias ameaças de ordem física, mas no momento da vida que estou, não temo mais nada”.
“Como árbitro da FIFA, sempre recebia ameaças de morte. Sempre fez parte da minha vida lidar com ameaças, até porque vários órgãos de segurança estão recebendo todas as ameaças que recebo!”.
“Acredito que Paranhos foi o prefeito que mais aumentou seu patrimônio em termos proporcionais”.
“Tenho certeza que ele vai se beneficiar caso Renato Silva seja eleito, pois o discurso é que ele irá dar continuidade ao trabalho do Leonaldo Paranhos”.
“Para mim ele irá encobertar várias ações corrupção do município. Não tenho dúvidas em afirmas que o Senhor Leonaldo Paranhos é o prefeito mais corrupto da história de Cascavel aqui no Paraná!”.