
A confissão do general da reserva Mario Fernandes de que foi o autor do plano “Punhal Verde Amarelo”, que segundo a Polícia Federal previa o assassinato do presidente Lula, causou forte reação nos bastidores do Exército. Com informações de Carla Araújo, no Uol.
Militares da ativa e da reserva ouvidos sob condição de anonimato consideraram o depoimento prestado ao Supremo Tribunal Federal nesta quinta-feira (24) como uma “estratégia suicida” e classificaram a atitude como “coisa de maluco”.
Aos ministros do STF, Fernandes disse que o plano era apenas uma análise de riscos que ele mesmo digitou e digitalizou, mas que não foi compartilhado com ninguém. A explicação, no entanto, foi tratada com ironia por colegas de farda.
“Imagina a cabeça de um sujeito que tem coragem de bolar um plano maluco, digitalizar, imprimir e ainda não enxerga a gravidade disso”, comentou um general da ativa.
O documento, encontrado durante investigações da Polícia Federal, detalhava não apenas um plano contra Lula, mas também contra o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro do STF Alexandre de Moraes. O general está preso preventivamente desde novembro de 2023.
A PF aponta que o material foi impresso dentro do Palácio do Planalto em duas datas: 9 de novembro e 6 de dezembro de 2022, após a derrota de Jair Bolsonaro nas eleições. No depoimento, Fernandes alegou que o texto foi “um pensamento meu que foi digitalizado”, tratando o material como um exercício pessoal. “Decidi, inadvertidamente, digitalizar. Não foi mostrado a ninguém. Não foi compartilhado com ninguém”, afirmou.

Para oficiais da caserna, a fala foi interpretada como uma possível tentativa de proteger aliados, especialmente o ex-presidente Jair Bolsonaro, principal beneficiário caso o plano tivesse se concretizado. Entre generais de alta patente, cresce a avaliação de que a confissão do general pode ser um divisor de águas no processo que apura a tentativa de golpe.
Alguns apontam que o depoimento de Fernandes serve como evidência para derrubar a narrativa de que não houve qualquer articulação golpista. “Para os que achavam que nada aconteceu, agora está escancarado”, disse uma fonte militar de alta patente.
Nos bastidores de Brasília, a expectativa é que o julgamento do caso seja concluído entre setembro e outubro. Fernandes é um dos réus da Ação Penal 2668, que também inclui outros militares e o próprio Jair Bolsonaro. Generais ouvidos pela reportagem afirmam que a condenação de Fernandes é questão de tempo e que outros nomes das Forças Armadas também poderão ser responsabilizados.
Apesar da gravidade do caso, o comandante do Exército, general Tomás Paiva, tem mantido silêncio público e evita qualquer comentário sobre o andamento dos processos. A ordem dentro da corporação é evitar antecipações.
Internamente, no entanto, há um consenso: a única forma de preservar a imagem das Forças Armadas é separar os crimes das instituições. “Foram atitudes pessoais, e isso vai ficar claro. A única saída é virar essa página com justiça”, disse um general do Alto Comando.