Exército mantém contrato com fintech investigada por ligações com o PCC

Atualizado em 4 de setembro de 2025 às 13:03
Militares do Exército. Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil

O Exército mantém um contrato ativo com a fintech BK Instituição de Pagamento S.A., conhecida como BK Bank, investigada por supostamente atuar como banco paralelo do PCC (Primeiro Comando da Capital). O acordo, firmado em 4 de agosto no valor de R$ 18 mil, previa o fornecimento de máquinas de cartão de crédito e débito para a Biblioteca do Exército, que comercializa livros. Com informações da Folha de S.Paulo.

Poucas semanas após a assinatura, em 28 de agosto, a empresa foi alvo de operações da Polícia Federal e do Ministério Público que apuram a infiltração do PCC no setor de combustíveis e no sistema financeiro. Com a repercussão, o Exército abriu processo administrativo para avaliar o rompimento do contrato, alegando que a fintech comunicou a impossibilidade de execução devido ao bloqueio de suas contas.

Segundo a Força, a contratação começou como pregão eletrônico, mas foi convertida em dispensa eletrônica após recomendação da Consultoria-Geral da União, por se tratar de valor considerado baixo. A BK apresentou toda a documentação exigida e ofereceu a proposta mais vantajosa entre as avaliadas.

Em nota, a empresa, representada pelo escritório Fernando José da Costa Advogados, afirmou ter sido surpreendida pela investigação e declarou colaborar integralmente com as autoridades. Disse ainda ser autorizada, regulada e fiscalizada pelo Banco Central, atuando com “rigorosos padrões de compliance”.

Agentes da Polícia Federal durante operação contra o PCC na Avenida Faria Lima, em SP. Foto: Amanda Perobelli/Reuters

Levantamento da revista Piauí revelou que, desde 2019, a fintech fechou ao menos 82 contratos com órgãos públicos, somando R$ 555 milhões. Entre eles, estão acordos com os Correios (que suspenderam um contrato de R$ 56,8 milhões) e com o Serpro, que anunciou a rescisão de um contrato de R$ 271,9 mil. A BK também possui negócios em vigor com a Câmara dos Deputados e o Senado.

De acordo com a Receita Federal, a fintech teria movimentado R$ 46 bilhões não rastreáveis entre 2020 e 2024, atuando como “banco paralelo” do PCC. Parte desse montante estaria ligada ao desvio de metanol e à adulteração de combustíveis, com valores inseridos no mercado formal por meio das chamadas “contas-bolsão”, que dificultam o rastreamento da origem do dinheiro.

Com sede em Barueri (SP), a BK Bank é apontada como peça-chave em operações de lavagem de dinheiro e ocultação patrimonial. Documentos judiciais e fontes ligadas à investigação indicam que a empresa oferecia a estrutura necessária para que empresas de fachada ligadas ao crime organizado movimentassem grandes quantias sem transparência.

Caique Lima
Caique Lima, 27. Jornalista do DCM desde 2019 e amante de futebol.