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Existe apenas uma coisa pior do que FHC no Manhattan Connection. Por Paulo Nogueira

Pra que ver?

A única coisa pior do que Fernando Henrique no Manhattan Connection é ver Fernando Henrique no Manhattan Connection.

Você sabe o que ele vai falar. Você sabe as perguntas que os entrevistadores vão fazer.

Por que, sendo a vida tão breve e incerta, perder seu tempo com esse tipo de coisa?

Um amigo no Facebook escreveu: “Meu estômago é forte. Vi FHC no Manhattan Connection e não vomitei.” Depois ele xingou, um a um, os participantes, numa explosão de revolta.

Pensei comigo: por que viu?

É impressionante o tempo desperdiçado por muitas pessoas progressistas com programas de tevê com os quais no máximo você vai testar seu estômago, como meu amigo do Face.

De Faustão ao Roda Viva, de Jabor a Waack, tudo é visto, processado e comentado.

Vício? Síndrome de Estocolmo? O pretexto mais tolo que vejo é este: é para “vigiar” o inimigo.

Ora, ora, ora.

Isso só faria sentido se você fosse um espião profissional. Ah, mas eu vou perder coisas importantes. Não vai. Quando alguma coisa decente surgir ela será destacada nas redes sociais. Você não tem que ficar o ano inteiro no Faustão à espera de um momento  interessante como aquele em que Marieta Severo deu uma lição de política.

Ainda ontem, também no Facebook, outro amigo escreveu o seguinte. Ele chegou de madrugada em casa e viu a gravação que fizera do Jornal da Cultura.

Ali, encontrou Marco Antônio Villa, o historiador que sem entender o passado tenta prever o futuro e decifrar o presente.

Meu amigo lembrou as cacetadas de Villa no programa que gravou: Dilma, Lula, PT, Maduro, Venezuela.

De novo: para que ver, ou pior, gravar o Jornal da Cultura? Você acha que vai encontrar lá Noam Chomski falando dos pecados da mídia? Mujica alertando para as conspirações da direita na América do Sul? Chico Buarque contando bastidores do bate-boca no Leblon? Veríssimo declamando uma crônica?

A dura realidade é que o velho Villa vai se apresentar para você com suas habituais tolices.

Talvez um dia as pessoas entendam que a melhor resposta que podem dar a uma mídia parcial e frequentemente desonesta é boicotá-la.

Gandhi fez isso com os produtos britânicos quando, a seu modo, lutou pela independência da Índia. Instou seus seguidores a não comprar nada feito pelos ingleses.

No caso em questão, significa, por exemplo, não dar audiência para os programas da Globo. Essa audiência se transforma em dinheiro, pela publicidade, e apenas alimenta a Globo e seu conteúdo torpe.

Você não gosta da Folha? Por que dá dinheiro para os Frias ao assiná-la? Detesta a CBN? Por que a ouve assim que senta em seu carro? Para ouvir Merval, Jabor, Sardenberg?

Francamente.

Jornalistas profissionais eventualmente veem mais do que gostariam coisas da mídia. Incluo-me entre estes. Mas atenção: vejo ou leio o mínimo indispensável para fazer meu trabalho.

Não assino a Folha e não vejo o Jornal Nacional há vinte anos, e isso jamais me fez falta. Uma vez por mês, às vezes menos, passo por Reinaldo Azevedo ou Noblat para ver o que eles estão dizendo.  A rigor, nem disso precisava: é sempre a mesma coisa.

Boicote é a melhor resposta. Não ver, não ler, não ouvir.

O resto, para usar a frase shakespeariana, é silêncio.

Paulo Nogueira

O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.

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