
O domingo eleitoral na Bolívia foi marcado por tensão em Cochabamba, onde uma explosão de baixa intensidade ocorreu nos arredores da escola José Carrasco, em Entre Ríos. O local era justamente o centro de votação do presidente do Senado e candidato à presidência, Andrónico Rodríguez.
Apesar do susto, as autoridades confirmaram que não houve feridos nem danos materiais, e o processo eleitoral prosseguiu normalmente sob escolta policial. Minutos depois de votar, Rodríguez enfrentou um episódio ainda mais grave: foi alvo de pedras e insultos ao tentar falar com a imprensa.
Parte da multidão o chamou de “traidor” em referência ao rompimento com Evo Morales. O carro do senador também foi atingido, obrigando-o a deixar o local às pressas. A Força Especial de Luta Contra o Crime abriu investigação para apurar tanto a explosão quanto o ataque contra o candidato.
Rodríguez, de 36 anos, concorre pela coalizão Alianza Popular, após se afastar do MAS, partido que levou Morales e Arce ao poder. Hoje, aparece em terceiro lugar nas pesquisas, com cerca de 11% das intenções de voto, atrás de Jorge “Tuto” Quiroga e Samuel Doria Medina.
Analistas indicam que a disputa pode levar a uma inédita segunda volta, revelando a fragmentação da esquerda e a força crescente de candidaturas à direita. Enquanto isso, Evo Morales, impedido de disputar as eleições e alvo de uma ordem de prisão por acusações que ele nega, pediu que os eleitores votassem nulo.

Votando em uma pequena vila sob forte proteção de seus apoiadores, Morales declarou que o pleito carece de legitimidade e que “pela primeira vez o voto nulo será o primeiro”. Sua posição intensifica a divisão no campo progressista e amplia a incerteza sobre a representatividade do MAS.
A crise política acontece em paralelo a um cenário econômico delicado. A Bolívia enfrenta inflação de quase 25% no último ano, além de escassez de dólares, combustíveis e alimentos. O país, que já dependeu fortemente da exportação de gás, vê sua produção cair desde 2017, fragilizando as finanças públicas.
Esse contexto alimenta o discurso de candidatos que defendem uma guinada liberal, com corte de subsídios e redução do papel do Estado. Com quase oito milhões de bolivianos aptos a votar, a eleição é considerada um marco após 20 anos de domínio do MAS.
Especialistas afirmam que a população, diante da pior crise econômica em décadas, demonstra abertura para políticas de mercado. Ao mesmo tempo, alertam que mudanças drásticas podem comprometer programas sociais que tiraram milhões da pobreza no período de Evo Morales.
O ex-presidente Jorge Quiroga e o empresário Samuel Doria Medina defendem medidas de choque, com ajuste fiscal e desmonte progressivo de subsídios milionários. Para eles, a prioridade é restabelecer a estabilidade macroeconômica e atrair investimentos externos, em contraste com o modelo estatista que vigorou até agora. Esse discurso encontra eco em setores urbanos e empresariais, mas enfrenta resistência entre comunidades que se beneficiaram das políticas sociais do MAS.