Extradição de nazista: Araújo não é responsável, mas a História é irônica. Por Fernando Brito

Atualizado em 12 de fevereiro de 2019 às 6:46
Reportagem sobre o procurador pai do ministro Ernesto Araújo na Folha de S.Paulo. Foto: Reprodução/Tijolaço

Publicado originalmente no blog Tijolaço

POR FERNANDO BRITO

É evidente que o chanceler Ernesto Araújo não pode ser responsabilizado pelos pensamentos e atitudes de seu pai.

Mas é irônico que seja, como mostra hoje a Folha, filho de um Procurador da República que recusou a extradição de Gustav Franz Wagner, sargento das SS que foi subcomandante do campo de extermínio de Sobibor, na Polônia ocupada,  desde a sua criação, em 1942, até outubro de 1943, quando uma sangrenta rebelião de prisioneiros judeus e russos levou ao seu fechamento.

Lá, pouco mais de 500 prisioneiros conseguiram romper a cerca, 200 escaparam às minas que cercavam o campo e se internaram numa floresta próxima. Mas só 53  escaparam dos grupos de extrema-direita, anti-semitas, que os caçaram.

Um história tão terrível que deu origem a dois filmes de sucesso, o inglês “Fuga de Sobibor” e o russo “Sobibor”.

O filho do procurador Henrique Araújo, que negou pedidos de 3 países que buscavam julgar Gustav Wagner, não tem, é claro, que ser julgado pelos atos do pai.

Mas os caprichos da História não são vãos.

Afinal, Ernesto Araújo é porta-voz de uma política fanaticamente pró-Israel, que aceita a ocupação da Palestina e a ideia de supremacia racial – “povo eleito por Deus” – numa reprodução, em outras gentes,  do supremacismo ariano da Alemanha nazista.