Os movimentos da extrema direita no Chile e Argentina. Por Rudá Ricci

Atualizado em 21 de novembro de 2021 às 12:06
Veja o Bolsonaro do Chile
José Antonio Kast, candidato à Presidência do Chile nas eleições que acontecem em novembro de 2021
Twitter/Reprodução

O cientista político Rudá Ricci escreve sobre a situação do Chile e da Argentina. Lá há novas ameaças de “Bolsonaros” para a América Latina. Leia melhor sobre o assunto aqui no DCM.

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Rudá Ricci fala sobre a extrema direita

Hoje, teremos um importante e difícil pleito no Chile. O candidato que lidera as eleições presidenciais é de extrema-direita, José Antonio Kast, do Partido Republicano, com 25% de intenção de votos, seguido por Gabriel Boric, da Convergência Social, com 19%.

O pré-candidato do Partido Comunista que até então liderava as pesquisas de intenção de votos, Daniel Jadue, foi retirado da disputa a partir de uma ingênua participação em eleições primárias (ingenuidade ao estilo Freixo).

Boric tem 35 anos e foi líder estudantil.

Gostaria, entretanto, de analisar um pouco a situação na Argentina, após as eleições parlamentares ocorridas no dia 14 deste mês. Há algo de parecido com o que ocorreu no Brasil. Pedi que o cientista político e jornalista argentino Mariano Saravia elaborasse uma análise.

Segundo Mariano, as eleições do dia 14 significaram uma derrota do governo peronista, mas não foi a goleada que a direita e extrema-direita apostavam. Com efeito, o governo venceu na província de Buenos Aires garantindo os peronistas com a maior bancada da Câmara dos Deputados. Contudo, perdeu no Senado e nas províncias de Santa Fé, Chaco, Chubut e Santa Cruz. Mariano sugere que a política neoliberal adotada por Macri e a pandemia debelaram a economia argentina e somente agora será possível recuperar a estabilidade no mercado de trabalho.

Mas, o que gostaria de chamar a atenção é sobre a ascensão de uma extrema-direita na Argentina algo similar ao que ocorreu nos EUA e Brasil. Mariano cita a ascensão de Javier Milei, Patricia Bullrich (ex-ministra de Macri) e parte do macrismo. Milei é economista e radialista e acaba de ser eleito deputado com a terceira maior votação em Buenos Aires. Foi cantor de rock (esse rock branco é meio complicado) e é libertário. Libertário, lembrem-se, é a denominação da ultradireita norte-americana que é radicalmente defensora da liberdade individual e nega a existência do Estado. Pois bem, Milei é adepto da famigerada Escola Austríaca de economia.

Estes ingredientes fazem de Milei um tipo novo na extrema-direita latinoamericana. Defende o fim do Banco Central, mas a liberação das drogas (como maconha) e é a favor do casamento homoafetivo.

Assim como aqui, que tivemos MBL ou a ação dos Institutos Liberais fazendo arregimentação nos meios acadêmicos, na Argentina temos o Pibe Libertários, a Nueva Derecha e a Fundación Idea.

Há outras lideranças, como Patricia Bullrich (ex-ministra de Segurança de Macri). Patricia tem 65 anos e é presidente do partido Proposta Republicana. Era peronista aos 15 anos de idade. Foi membro dos Montoneros, braço armado do peronismo e chegou ao cargo de segunda tenente nesta organização. Foi ministra do presidente Fernando de la Rúa. Foi a primeira mulher a ocupar a Secretaria de Política Criminal e Assuntos Penitenciários, quando começa sua transformação ideológica. Criou um plano de «transparencia sindical» que incluía a obrigação dos dirigentes apresentarem declaração juramentada dos recursos sindicais.

Durante sua gestão como ministra do Trabalho, a taxa de desemprego aumentou de 15 para 25 %. Dá para ter noção dos ataques que recebeu pela esquerda. Em dezembro de 2015, assumiu a pasta da Seguridad de la Nación na gestão Mauricio Macri. E começa sua guinada à extrema-direita. Produziu um protocolo sobre protestos populares que permitia o uso de armas de fogo e balas de borracha para dispersar qualquer protesto e que limitava a cobertura jornalística.

Em 22 de dezembro de 2015, houve uma violenta repressão contra uma manifestação de desempregados de uma avícola. A repressão policial, que durou algumas horas, incluiu o uso de balas de borracha e caminhões hidrantes, deixando doze trabalhadores feridos. Patricia Bullrich assumiu a autoria da ordem para desalojar os manifestantes.

Enfim, há intensa movimentação das forças de extrema-direita no Cone Sul do nosso continente. Não é hora para se acalmar ou imaginar que a “ida ao centro” criará clima de paz. Não se trata do que desejamos, mas do que a extrema-direita planeja.

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