Extrema-direita entra em parafuso após Bolsonaro ser preso sem nomear sucessor

Atualizado em 23 de novembro de 2025 às 13:13
Zema, Jorginho Mello, Tarcísio, Bolsonaro, Caiado, Wilson Lima, Ratinho e Mauro Mendes. Foto: reprodução

A prisão preventiva de Jair Bolsonaro, no sábado (22), acelerou um movimento que seus aliados temiam enfrentar: a disputa aberta para definir quem ocupará o espaço de liderança da extrema-direita nas eleições de 2026. A detenção, expedida após a tentativa do ex-presidente de violar sua tornozeleira eletrônica, rompeu o roteiro que previa uma transição controlada e deixou evidente que Bolsonaro chega enfraquecido ao momento decisivo da sucessão conservadora.

Até então, o plano de seus apoiadores era que Bolsonaro passasse alguns dias preso após o trânsito em julgado, recuperasse a prisão domiciliar por motivos de saúde e, dos bastidores, apontasse seu substituto. A estratégia incluía usar sua influência como líder oculto, dando a palavra final na disputa interna pela cabeça da chapa.

Mas a prisão antecipada e a divulgação das imagens em que admite ter usado “ferro de solda” para danificar a tornozeleira desorganizaram completamente o cenário planejado.

Nos bastidores, lideranças da direita e do Centrão passaram a admitir que o capitão “perdeu o timing”. A falta de indicação clara de um nome, antes esperada para o início de 2025, elevou a temperatura entre potenciais sucessores.

O vácuo deixado pelo ex-presidente abriu uma disputa entre cinco nomes considerados competitivos: Eduardo Leite (PSD-RS), Ratinho Júnior (PSD-PR), Ronaldo Caiado (União-GO), Romeu Zema (Novo-MG) e Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP).

Todos disputam discretamente o apoio das bancadas conservadoras e de financiadores, mas agora precisarão agir sem a bênção explícita de Bolsonaro.

A avaliação de cientistas políticos reforça que a prisão impede o ex-presidente de manter sua presença física, fundamental para a mobilização da base desde 2018. Em entrevista ao Globo, a pesquisadora Camila Rocha lembrou que, diferente de Lula em 2018, Bolsonaro não goza de boa saúde nem conta com apoio internacional. A ausência física e digital, agravada pela proibição de uso das redes, já vinha reduzindo sua capacidade de engajamento entre os seguidores.

Flávio, Carlos, Jair, Eduardo e Jair Renan Bolsonaro. Foto: reprodução

Essa erosão na influência pode afetar diretamente o peso de seu apoio em 2026. Para o cientista político Guilherme Casarões, tudo dependerá do grau de radicalização da direita a partir da prisão.

Segundo ele, uma “martirização” controlada pode manter o grupo unido; radicalização excessiva pode afastar setores moderados. Já a antropóloga Isabela Kalil afirma que Bolsonaro “corre sério risco de perder seu capital político” por não ter indicado um sucessor, ao contrário do movimento feito por Lula ao lançar Fernando Haddad em 2018.

Enquanto isso, a família Bolsonaro passa a ocupar o centro da incerteza. A decisão de Flávio Bolsonaro de convocar a vigília, um dos motivos que embasaram a prisão, colocou o senador em destaque.

No PL, lideranças já admitem que Flávio pode ser candidato à Presidência ou, ao menos, disputar a vaga de vice em uma chapa conservadora. O problema é o veto do Centrão, que teme herdar a rejeição associada ao sobrenome Bolsonaro.

No entorno do ex-presidente, cresce também o receio de que Eduardo Bolsonaro, o filho 03, intensifique conflitos com os presidenciáveis.

Ele já trocou farpas com Tarcísio de Freitas, acusando o governador paulista de se aproveitar da fragilidade do pai para se lançar no jogo. Em certos momentos, Eduardo chegou a se colocar como nome viável “na ausência de Bolsonaro”, elevando a tensão interna.

Augusto de Sousa
Augusto de Sousa, 31 anos. É formado em jornalismo e atua como repórter do DCM desde de 2023. Andreense, apaixonado por futebol, frequentador assíduo de estádios e tem sempre um trocadilho de qualidade duvidosa na ponta da língua.