
Parlamentares da extrema-direita decidiram, nesta terça-feira (2), tentar uma nova estratégia para tentar proteger o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) da condenação no Supremo Tribunal Federal (STF) no âmbito do inquérito que investiga a suposta trama golpista.
O plano é convencer o presidente da Corte, Luís Roberto Barroso, a paralisar o julgamento de Bolsonaro, que começou na terça-feira e deve se estender até 12 de setembro. A oposição pretende formular um ofício a Barroso com base no depoimento e nos documentos enviados por Eduardo Tagliaferro, ex-assessor do ministro Alexandre de Moraes, à Comissão de Segurança do Senado.
Tagliaferro foi destaque em audiência da comissão que analisou relatórios do jornalista estadunidense Michael Shellenberger sobre supostas irregularidades no STF e no gabinete de Moraes no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
“Esse material tem de ser encaminhado hoje ao ministro Barroso e ele, de ofício, tem de interromper aquele julgamento. Aquele julgamento está contaminado, as provas estão contaminadas. Qualquer estudante de direito sabe que tem de interromper aquele julgamento ainda hoje”, afirmou a senadora Damares Alves (Republicanos-DF).
A oposição planeja também enviar os documentos obtidos na sessão ao presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), buscando pressioná-lo a tomar medidas contra Moraes. Alcolumbre, no entanto, já adiantou que, mesmo que “80 senadores” declarem apoio a um eventual pedido de impeachment do ministro do Supremo, ele não pautará o tema.

Enquanto isso, durante a leitura de seu relatório nesta terça, o ministro Alexandre de Moraes enviou um recado sutil ao colega Luiz Fux, lembrando que acompanhou presencialmente todos os depoimentos de testemunhas do julgamento.
“As audiências foram realizadas por videoconferência sob a minha presidência e com honrosa participação do eminente ministro Luiz Fux e, na verdade no primeiro dia, com honrosa participação de todos os ministros desta Corte, acompanhados pelos advogados e por parte da procuradoria e pelo procurador-geral da República”, declarou Moraes.
A fala foi interpretada como um objetivo para desestimular Fux de pedir vista, medida que poderia adiar o julgamento para 2026. Esse adiamento seria visto com bons olhos por bolsonaristas, que esperam ganhar tempo para tentar reverter resultados desfavoráveis. A lembrança de Moraes sobre a presença de Fux em todas as audiências dificulta a justificativa de que seria necessário mais tempo para analisar o processo.
A Primeira Turma é composta por Alexandre de Moraes, relator do caso, Cármen Lúcia, Flávio Dino, Cristiano Zanin e Luiz Fux. Apesar de Fux ter acompanhado a maioria das decisões preliminares, em março levantou dúvidas sobre a colaboração premiada de Mauro Cid e sobre a possibilidade de penas acumuladas aos envolvidos.