Fábio Faria compartilha vídeo com ataque à Globo e Facebook, atitude típica de miliciano digital, não de ministro

Atualizado em 16 de agosto de 2020 às 10:00
Bolsonaro e Fábio Faria
Foto: Agência Câmara

O ministro das Comunicações, Fábio Faria, genro de Sílvio Santos, compartilhou vídeo produzido pela milícia digital bolsonarista que resgata o episódio da facada como se fosse uma conspiração política destinada a barrar Jair Bolsonaro e a manter a corrupção no país.

“Sempre soubemos que eles tentariam de tudo para nos parar”, diz o locutor enquanto é rodada imagem de Adélio Bispo de Oliveira dando a facada.

O crime já foi investigado mais de uma vez, e a conclusão é a mesma: ele agiu sozinho e não houve mandantes.

Com base em oito laudos, realizados depois de sua prisão, Adélio foi diagnosticado com transtorno delirante persistente e, em razão disso, está na penitenciária de segurança máxima de Campo Grande, considerada pela Justiça o local em que ele corre menor risco de sofrer um atentado.

O psiquiatra forense Hewdy Lobo Ribeiro, que esteve com Adélio na prisão, o transtorno delirante persistente é uma doença semelhante à esquizofrenia e na qual a pessoa não se reconhece doente.

Para quem assumiu disposto a diminuir atrito com empresas de comunicação, o ministro Fábio Faria cometeu um erro. O vídeo que ele compartilhou ataca a Globo e o Facebook.

Depois de assumir, em entrevista a O Globo, o ministro defendeu a pacificação do país e negou a existência do gabinete do ódio:

“Ninguém aguenta briga todos os dias. É ruim para a imprensa, para os Poderes e é pior para o governo.”

No vídeo que ele compartilhou — e, portanto, endossou –, Bonner e Renata Vasconcellos aparecem com o rosto borrado, enquanto o locutor diz:

“Sabemos que a notícia boa nunca será divulgada, porque não é do interesse deles que você seja livre e vão continuar se aproveitando desta crise para buscar seus próprios interesses. Porque desgraça é a matéria-prima dos maus. E infelizmente não vão parar”.

A mensagem é dirigida também ao Facebook, com o registro de que contas de apoiadores de Bolsonaro foram bloqueadas mundialmente. O vídeo não diz, claro, que as contas bloqueadas tinham um único papel: divulgar fake news.

Em seguida, o vídeo mostra mensagens e apoio a novas manifestações. Nas mais recentes, extremistas atacaram o Supremo Tribunal Federal com fogos de artifício.

Com as contas do gabinete do ódio bloqueadas, Fábio Faria aparece, conscientemente ou não, fazendo o serviço da milícia digital, um papel que não cabe a ministro de Estado.

Abaixo, o vídeo:

 

PS: No início, o vídeo apresenta imagem e textos muito parecidos com campanha incentivada por Lula no início de seu primeiro mandato, que tinha como mote a frase “Sou brasileiro, não desisto nunca”. Na parte parte final, os créditos devem ser dados à milícia digital, não a Lula, que não promoveu campanha de ódio.