Facções dominam paraísos turísticos do Nordeste e lucram com o tráfico; saiba como funciona

Atualizado em 28 de julho de 2025 às 23:08
Material encontrado com grupos criminosos em Pipa – Foto: Polícia Civil

Destinos turísticos famosos do Nordeste, como Porto de Galinhas (PE), Pipa (RN) e Jericoacoara (CE), têm sido alvo da expansão de facções criminosas que encontraram nessas regiões um ambiente ideal para movimentar o tráfico de drogas. Mesmo com praias paradisíacas, a presença do crime organizado afeta moradores e transforma a rotina local, com monitoramento de ruas, controle territorial e até tribunais do crime. Para não afugentar o turismo – que alimenta a economia da região e também o tráfico -, há regras internas para evitar crimes contra visitantes. Com informações do G1.

A dominação desses territórios é marcada por violência interna e controle rígido. Em Porto de Galinhas, a facção Trem Bala comanda comunidades e impõe toque de recolher, enquanto câmeras controlam a entrada e saída de moradores. Já em Pipa, o Sindicato do Crime atua com hierarquia estruturada, pagando salários a olheiros e vendedores de drogas. Em Jericoacoara, o Comando Vermelho assumiu o controle do tráfico após o afastamento de grupos rivais e mantém um acordo tácito para evitar confrontos que prejudiquem o turismo.

Casos recentes, como o assassinato de um adolescente em Jericoacoara e um triplo homicídio em Pipa, evidenciam que, mesmo com a tentativa de manter aparência de normalidade para os turistas, a violência segue presente.

Segundo autoridades locais, os crimes estão ligados a disputas internas ou à tentativa de invasão de grupos rivais. Operações policiais em 2024 prenderam dezenas de suspeitos, mas moradores relatam que as facções rapidamente se reorganizam.

Armas e drogas apreendidas em Porto de Galinhas – Foto: Polícia Civil

O atrativo econômico das vilas turísticas contribui para o avanço das facções. Em Porto de Galinhas, uma única caderneta de traficante mostrava movimentação de quase R$ 10 milhões ao ano. O promotor Eduardo dos Santos explica que a criminalidade cresceu com a chegada de empreendimentos em Suape e o aumento do turismo, mas sem contrapartidas sociais, o que facilitou o aliciamento de jovens. “É uma mão de obra extremamente barata para o tráfico”, afirmou.

Especialistas e pesquisadores apontam que a fragilidade institucional também favorece esse cenário. Pipa, por exemplo, teria sido escolhida por ter pouca fiscalização e forte fluxo de turistas com alto poder aquisitivo. Já no Ceará, a chegada do Comando Vermelho ocorreu em meio à repressão no Rio e à busca por novos mercados. Com pouca presença estatal em áreas de expansão turística, os grupos se consolidaram como autoridade paralela.

Embora operações policiais busquem conter esse avanço, moradores afirmam que o poder das facções já está enraizado. “A população já se acostumou com essa lei do crime”, relatou um morador de Jericoacoara. Muitos evitam denunciar por medo de represálias, e o silêncio é comum nas ruas.