Por Lejeune Mirhan*
No dia 20 de agosto, o presidente democrata Joe Biden completará sete meses de governo, em torno de 210 dias. Havia várias questões estratégicas da política externa de seu novo governo, que os analistas políticos internacionais imaginavam que haveria mudanças profundas, substanciais. Não é o que estamos vendo. Pretendo neste ensaio dissertar sobre esses problemas principais, analisando ao final os rumos gerais e as perspectivas. Ao final, apresento um resumo sistematizado dessa política externa.
Vou tratar neste meu novo ensaio, de um tema de alta complexidade, mas pouco desenvolvido. Pelas fontes que eu pesquiso, não há ainda um balanço dos sete meses do governo de Joe Biden que completa dia 20, que é a “nova” política externa do seu governo. Vou mostrar que esta política não está sendo nova, ainda que faça pequenas alterações, sendo uma ou outra importante, mas na essência, ela se mantém praticamente igual à que Donaldo Trump deixou. Por que democratas e republicanos adotam praticamente a mesma política externa? É o que tentarei responder.
Este fato por si só é profundamente lamentável, porque reforça àqueles que argumentavam, durante as eleições, de que não havia nenhuma diferença entre um e outro. Estes “analistas” hoje devem estar em êxtase. Eu continuo me perfilando entre os estudiosos de política internacional – e não somos poucos – que jamais faria uma avaliação dessa natureza, completamente antidialética, de que ambos seriam exatamente igual.
Como tenho sempre dito, se não houver nenhuma diferença na política externa, é um mau sinal, para as forças, partidos, governos e estados que lutam por um mundo verdadeiramente multipolar. Ou seja, se ele continuar fazendo uma política externa ruim como a anterior, é um mau sinal para nós, para a Rússia, para a China. Então, não há o que comemorar.
Aspectos positivos a serem registrados
Não são muitos, mas são significativos e valem a pena serem registrados neste trabalho.
Eu diria que um dos aspectos mais positivos e que estão visíveis da “nova” política externa dos Estados Unidos, é a volta para a Organização Mundial de Saúde – OMS e, portanto, o aspecto de que ele abraça uma concepção científica no combate à pandemia, coisa completamente distinta de Trump, que era negacionista e abandonou a organização num momento trágico.
A segunda questão positiva é a volta dos EUA à Conferência do Clima, chamada de Conferência de Paris-COP 21. Ela é conhecida por ter muitas denominações. Ele designou ninguém menos que John Kerry, ex-secretário de Estado de Obama para cuidar dessa área. Uma espécie de czar do clima.
A COP-21 é a área das Nações Unidas que cuida, especificamente, da questão ambiental. Este retorno é positivo, independente de quaisquer divergências com o país capitalista. Além do confronto com o ex-presidente Trump, há um outro aspecto que é, recolocar na ordem do dia mundial, a problemática do meio-ambiente, o que é muito positivo.
E são praticamente apenas esses dois aspectos positivos da política externa estadunidense que, portanto, não é nova e vem mantendo alguns aspectos da política anterior. Isso relaciona-se, por certo, pelo simples fato que o papel da chefia de um império exercido pelo presidente dos EUA, tem que cumprir determinações do complexo industrial-militar que age às claras, ainda que alguns o chamem de deep state (sic).
Características gerais da “nova” política externa
Listarei a seguir, de forma resumida e sintética, as seis principais características mais marcantes dessa política externa adotada pelo democrata Joe Biden:
1ª] Biden, como chefe de um império, fará tudo que estiver ao seu alcance para manter o mundo unipolar. Que é a realidade desde dezembro de 1991, quando a URSS foi oficialmente dissolvida. Ele vai fazer de tudo para tentar manter a hegemonia de seu país no mundo. É uma característica que vinha desde Trump e os anteriores, que não tem como não ser mantida por Biden.
2ª] O segundo aspecto é que o imperialismo comandado pelo democrata Joe Biden fará tudo o que estiver ao alcance para conter o crescimento da República Popular da China e da Federação Rússa. Isto Trump também vinha fazendo. Às vezes, a nuance dá mais ênfase em conter a China e o outro mais em conter a Rússia. Biden faz de tudo para conter os dois. E, a contenção se dá nos aspectos econômico e militar. Sabemos que isso está fadado a não ocorrer.
3ª] A “nova” política externa de Joe Biden tem também como um dos seus maiores objetivos afastar a Rússia da China, que mantém entre si uma aliança estratégica que – eu diria – inquebrantável na atualidade. Não tem como, hoje, afastar um do outro.
Até porque este ano, completam-se 20 anos da fundação da OCX (Organização de Cooperação de Xangai), que é um acordo basicamente militar, que começou com apenas quatro membros, subiu para oito. Tem o Irã como observador, que será elevado à categoria de membro. Em termos de soldados, na ativa, tem 10 milhões, mais os da reserva.
Eu sempre tenho afirmado que o presidente dos Estados Unidos tem dois papeis: um de presidente de um país e outro de chefe de um império, não importa a linha política, democrática ou republicana. Aqui o que menos importa são sentimentos, emoções, trajetórias de vida, empatia, “bondades” etc. O chefe desse império tem que fazer de tudo para defender os interesses dos EUA e das suas corporações e do sistema capitalista mundial, em especial o financeiro.
4ª] Biden está fazendo de tudo para afastar a República Federal da Alemanha, principalmente, da Rússia e, secundariamente, da China. Seguindo o que Trump também tentava. Por que da Rússia, em particular? Por causa de um aspecto teórico apontado por um dos fundadores da Geopolítica moderna, enquanto ciência, que foi Halford John McKinder, que elaborou a teoria do Heartland (o coração da terra) – que é uma parte da Eurásia – a partir de um artigo que ele publicou decorrente de uma conferência que ministrou em 1904, na Real Sociedade de Geografia da Inglaterra.
Ele afirmou que se a Alemanha se unisse com a Rússia, seria imbatível. E, a história, de certa forma, mostrou que ele tinha razão. Nas duas guerras mundiais, travadas em território europeu, a Alemanha sempre esteve em lado oposto ao da Rússia. Parece que Biden está convencido de que esta teoria é correta e tem que fazer de tudo para impedir esta união.
5ª] Biden segue rigorosamente igual a política de governar o mundo através de sanções ilegais. Porque elas são determinadas por decisão única e exclusiva de um país e acontecem à revelia do Direito Internacional e do sistema das Nações Unidas. A ONU não reconhece nenhuma sanção imposta pelos EUA.
Tais sanções se dão ou para um país inteiro – o caso de Cuba configura um bloqueio integral – ou para indivíduos, autoridades ou empresas. Elas são muitas contra Cuba, Rússia, China, Síria, Iraque, Coreia Popular entre outros. Mas, Biden continua fazendo isto, ainda que priorize sanções contra pessoas. Um exemplo é de Cuba onde ele aplicou recentemente duas sanções, contra o ministro da Defesa e o chefe da Polícia Nacional, sob o argumento de que eles reprimiram o povo nas manifestações de 11 de julho.
6ª] Ele segue dando opiniões sobre assuntos internos de quaisquer países do mundo, como se fossem “donos do mundo”. Eles fazem ingerência interna, ferindo a soberania, a independência nacional e a autodeterminação dos povos (ao longo deste ensaio falarei do caso mais recente sobre o não reconhecimento das eleições na Nicarágua, em 7 de novembro próximo).
Isto fere um tratado de exatos 373 anos, mais conhecido como a Paz de Westfália, assinado em fevereiro de 1648, quando os monarcas absolutistas europeus, cansados de guerrear entre si, reúnem-se e estabelecem pela primeira vez o conceito de soberania nacional, reconhecendo fronteiras entre os reinos. Um não ultrapassa os limites do outro. Não interferem em questões internas.
Isto representou um marco importante no contexto internacional da diplomacia. Eles introduzem o conceito de equilíbrio entre as nações. Por certo ele não durou muito na Europa, porque isso não impediu sucessivas guerras posteriores. Mas a sua existência foi fundamental para o desenvolvimento das relações soberanas entre nações.
Vale registrar uma diferença substancial da política externa de Biden e Trump, entre os democratas e os republicanos, os democratas serem muito mais multilaterateralistas, ao passo que republicanos são mais unilateralistas. Ser multilateralista hoje significa reconhecer as decisões tomadas pelos organismos internacionais da ONU, que são todos unilaterais: um voto por país.
Por exemplo, o Conselho de Direitos Humanos. Ele tem 47 membros e, as decisões tomadas por esse organismo nos assuntos em pauta, se dá por simples levantamento de braço. Cada representante de país tem um voto. O voto dos EUA vale tanto quanto o voto da Ilha de Malta. E, os Estados Unidos têm perdido todas as votações na maioria dos organismos multilaterais.
Tais organismos são respeitadíssimos internacionalmente e fazem parte do nosso dia a dia. Quando falamos em siglas como: OIT, OMS, OEA, FAO, Unicef, Unesco, todos as conhecemos e sabemos do que se trata.
Biden e os democratas reconhecem as decisões. Diferentemente do republicano Trump que é unilateralista e não aceita e não respeita as decisões desses organismos. Queria que os EUA tivessem um peso maior. Não por acaso ele saiu da OMS, causando-lhe um imenso rombo financeiro em seu orçamento anual (os EUA respondem por um quarto) e da Conferência do Clima.
Problemas pontuais da política externa
A partir deste momento em nosso trabalho, quero apontar concretamente problemas em várias áreas na política externa dos Estados Unidos, sob a nova gestão de Joe Biden, envolvendo temas em todos os cinco continentes e regiões importantes na Terra.
Cuba
Muitos analistas – dentre os quais eu me encontro – davam como certo que Joe Biden iria modificar a relação com Cuba, desfazendo todas as maldades feitas por Donald Trump. Que ele iria voltar ao patamar que Barak Obama deixou, governo esse que teve o próprio Biden como seu vice.
No último ano do governo de Obama, em 2016, ele reabriu a embaixada dos EUA que se encontrava fechada desde 1962, quase 60 anos. Ampliou o número de concessões de vistos para viagens entre os dois países. Autorizou voos fretados, bem como remessa de dinheiro de um lado para o outro.
É bem verdade que ele não chegou a suspender as sanções que, em sua maior parte, decorrem de uma lei federal aprovada pelo Congresso em 1996, sob o governo de Bill Clinton, a chamada lei Helmut-Burns. Ela pune empresas estadunidenses que comercializam com Cuba, que seriam proibidas de manter comércio com os Estados Unidos. Para revogar, Obama teria que ter mandado uma nova lei, mas não o fez (5).
Olhando em perspectiva histórica, de 1959 até os dias atuais, nos 62 anos do socialismo em Cuba, tivemos o embargo imposto por Kennedy em fevereiro de 1962, que completará 60 anos em 2022. Nesse período os EUA tiveram 12 presidentes (6) e todos tentaram matar Fidel Castro. Estima-se em exatas 638 tentativas de seu assassinato. Ele, no entanto, morreu por idade, aos 90 anos (7).
Quero registrar que nestes 60 anos, houve apenas dois momentos de relaxamento do tensionamento do bloqueio. O primeiro deles entre janeiro de 1977 a janeiro de 1981, sob o governo de Jimmy Carter. Do meu ponto de vista, um dos melhores presidentes dos EUA. O segundo foi o próprio Barak Obama, que foi o responsável pela reabertura da embaixada.
Biden – lamentavelmente – tem se mostrado um completo fracasso nesse aspecto, mantendo tudo como estava quando Trump deixou e não como Obama deixou. Trump só não fechou a embaixada, pois todo o resto ele suspendeu, sendo um imenso retrocesso. Biden acaba por ceder às pressões do lobby cubano de Miami, poderoso e composto por pessoas riquíssimas.
Sob Biden, além de nada ter sido modificada com relação à política para Cuba, com relação à política externa de Trump ele acabou por impor novas sanções, ainda que de caráter mais pessoal. É odioso manter sanções em meio a uma pandemia mundial.
Cuba é um país que tem duas vacinas em condições de aplicação em sua população, que são as vacinas Soberana e a Abdala, mas eles não têm seringa, porque não conseguem fabricá-las por absoluta falta de insumos. Em torno de 70% de tudo que a ilha consome eles têm que importar.
Esses são os problemas dos países insulares e pobres. Trump não se preocupou com isso por toda a sua insensibilidade. Esperava-se que Biden pudesse rever isto e afrouxasse, para que Cuba pudesse comprar remédios e medicamentos. Mas nada disso se verificou.
Nicarágua
Na América Latina vivemos um caso emblemático. A Nicarágua terá eleições presidenciais no próximo dia 7 de novembro.
A Nicarágua, em julho de 1979 fez uma revolução, conhecida como Sandinista. Eles tinham um movimento chamado Frente Sandinista de Libertação Nacional – FSLN.
Eles tomaram o poder e derrubaram uma das ditaduras mais sanguinárias da história do país, comandada por Anastácio Somoza, cujo apelido era Tachito. Certa vez lhe perguntaram quantas fazendas ele tinha e ele respondeu: “só tenho uma e o seu nome é Nicarágua”.
Foi uma grande e importante revolução, apoiada por todos os que querem um mundo melhor (à época, com 23 anos, constitui um comitê de apoio à revolução sandinista, em 1979 na PUCC). Daniel Ortega Saavedra foi o primeiro presidente pós-revolução. Ele governou por um período bastante elástico, de 1979 até 1990. Ele perdeu a eleição para Violeta Chamorro, que tinha atuado a favor da revolução, mas rompeu com ela.
Além de Violeta, outras pessoas e partidos dominaram a política nicaraguense até 2006, quando Daniel Ortega se candidata e volta ao poder central. Ele governa, então, desde 2007, tendo sido reeleito sucessivamente. Ele agora disputa as eleições de 2021, com grande chance de vencer.
Ortega faz um bom governo, com características anti-imperialistas, buscando fortalecer aquilo que Lula criou, a Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos – CELAC, que tem países do México para baixo, deixando de fora apenas Canadá e Estados Unidos. O professor Castillo, que tomou posse no Peru, tem como programa, fortalecer a CELAC. Estou citando a Nicarágua, porque Biden, através da Secretaria de Estado, que é a sua Chancelaria, disse que não vai reconhecer as eleições.
É impressionante como um presidente da República dá uma declaração dessas, correndo o risco inclusive de ficar desmoralizado. Isto porque, Daniel Ortega vai ter uma oposição, que poderá ganhar, mesmo com pequenas chances. Qualquer opositor poderá ganhar.
Certamente, caso a oposição venha a ganhar, por certo os EUA reconheceriam esse novo governo. Portanto, não se trata de suspeitar das eleições, mas sim de ganhar quem ele não gosta. Este tipo de postura é exatamente igual à dos governos anteriores, a qual Joe Biden não fez nenhuma mudança significativa.
Venezuela
Estou analisando fatos, dados e informações objetivas, mostrando que não há mudança substancial da política externa.
É preciso dizer que várias sanções foram suspensas com relação à Venezuela, aquelas contra empresas, instituições ou pessoas.
Mas, a sanção ao governo e ao Estado Venezuelano, especialmente, na área do refino do petróleo, na exportação e importação do principal produto e commodities da balança comercial do país, que é o petróleo, foram mantidas. A Venezuela tem a maior reserva de petróleo do mundo, maior até do que a Arábia Saudita.
As refinarias venezuelanas, por conta das sanções, estão funcionando precariamente. E, só o fazem, porque o Irã, muito solidário, está mandando os insumos que faltam para quebrar a cadeia do petróleo e produzir os seus derivados e fornecendo peças de reposição que o país não fabrica e está proibido de comprar de fora. Pior do que isto.
Joe Biden continua não reconhecendo a eleição de Nicolás Maduro, ocorrida num ambiente de liberdade e democracia em que ele venceu com 67,8% dos votos (8). E, registre-se, a Venezuela gostaría de reatar relações diplomáticas com os EUA.
A pergunta é: Por que uma potência mundial só reconhece quem ela gosta? Isto é reflexo do mundo que vivemos onde os Estados Unidos são protagonistas e jogam seu papel. Mas, o mundo mudou e não é mais unilateral como gostariam os imperialistas estadunidenses, nem tampouco está em transição entre a uni e a multipolaridade. De meu ponto de vista já vivemos a multipolaridade e presenciamos o fim da unipolaridade.
Temos, desta forma, a situação da Venezuela, com um governo que os EUA não reconhecem. A costa naval venezuelana é toda bloqueada, ninguém podendo navegar por ali. E, o pior de tudo isto. Um obscuro deputado, que nem mais deputado é, Juan Guaidó, segue sendo considerado “presidente” (sic) da Venezuela.
Lembremos que em janeiro de 2019, quando ele ainda era presidente da Assembleia Nacional, com apoio de Donald Trump, que não havia reconhecido a eleição de Maduro de 2018, autoproclamou-se presidente da Venezuela. No dia seguinte, Trump o reconheceu como presidente “legítimo” sem ter tido um voto.
No dia seguinte, 44 países também reconheceram aquele arrivista, fascista que, inclusive, tentou invadir a Venezuela com mercenários em 2020, vindos de Miami e foram rechaçados por pescadores revolucionários (9). Esse é o Guaidó. Entre os 44 países que o reconhecem como “presidente” (sic), estão França, Inglaterra e Alemanha, para se ter noção da força do imperialismo. E, claro, este Brasil varonil.
Em 2020 houve novas eleições para o Parlamento venezuelano e Juan Guaidó decidiu não concorrer. Os bolivarianos fizeram cerca de 70% das cadeiras. Ainda assim, Biden continuou reconhecendo Guaidó como “presidente” da Venezuela sem que ele seja sequer deputado.
Em relação à política para o subcontinente, os EUA continuam fazendo da Organização dos Estados Americanos – OEA, uma espécie de “Ministério das Colônias”, termo usado por alguns autores. A Organização faz a política externa dos Estados Unidos para as suas colônias na América. Eles continuam instrumentalizando, asfixiando e impondo suas práticas pela OEA, com apoio da maioria dos membros.
Em alguns momentos as sanções impostas sob países como Cuba, Bolívia e Venezuela não vêm dos Estados Unidos, mas sim da OEA. Registro que, recentemente, o presidente do México, Andrés Manuel Lopes Obrador, declarou que é preciso repensar um organismo alternativo à OEA (10).
Grupo de Lima
O Grupo de Lima foi formado no dia 8 de agosto de 2017. O Brasil vivia sob o governo do golpista Michel Temer.
Eles se reuniram na capital peruana, doze chanceleres dos seguintes países: Argentina, Brasil, Canadá, Chile, Colômbia, México, Honduras, Guatemala, Costa Rica, Panamá, Paraguai e Peru.
O grande objetivo do grupo era, claro, derrubar o governo venezuelano. Vejam o absurdo da política externa dos Estados Unidos que Biden não alterou ainda. O absurdo é um grupo de diplomatas formado para derrubar o governo de um país vizinho. É a total ingerência em assuntos internos de um país soberano.
Estou mencionando o Grupo de Lima porque, a Argentina já tinha deixado o grupo em 24 de março deste ano. México, governado por um presidente progressista, eleito em 2018, nem sequer saiu do grupo ainda. A grande novidade, por certo, foi que o Peru, depois da posse do Prof. Pedro Castilho, através do seu chanceler, Allan Wagner (11), octogenário e que foi guerrilheiro na década de 1960, anunciou a saída do país do Grupo de Lima.
O problema não é dos que ficam, mas é que o programa do grupo que segue sendo apoiado pelos Estados Unidos mesmo depois da posse de Joe Biden, que não lhe retirou apoio até agora. Com isso, em mais um aspecto, vemos a manutenção da mesma política praticada por Donald Trump.
A única perspectiva do Grupo de Lima perder seu sentido é se vencermos as próximas eleições no Chile, no final do ano, vencermos no Uruguai, com a Frente Ampla, o México se retirar e – o mais importante – vencermos no Brasil em 2022. Então, de fato, o Grupo começaria a se enfraquecer, mesmo seguindo com apoio de Canadá e Estados Unidos e países governados por direitistas, mas muito pequenos.
Oriente Médio
Vou discorrer sobre três aspectos do Oriente Médio expandido: Mundo Árabe, Irã, Turquia, Afeganistão.
Tudo faz parte da Ásia que, na Bíblia, era chamado de Ásia Menor. O primeiro problema que se arrasta desde 1948, é de Israel contra os palestinos, este é o termo correto, é o opressor contra o oprimido. Explicação sobre o contexto histórico Israel-Palestina.
O sentimento de antissemitismo deflagrado na Alemanha, a partir de Hitler, criou as bases para um movimento sionista que pregava a “fuga para a Palestina”. Quando fizeram o primeiro censo na Palestina no começo do século XX, não eram mais de 5% os judeus que lá moravam. Quando fizeram um novo censo em 1947, eles já eram mais 40%. Eram pessoas que não nasceram e nem nunca moraram lá, e que não tinham nenhum vínculo. O único ‘vínculo’ era aquela história bíblica supostamente ocorrida 2,5 mil anos atrás. Mas, não é assim que se mostra que são donos da terra. Donos são os que moram e ocupam, tomam conta, plantam e constroem. Trata-se, então, de um conflito desigual, de Israel contra o povo palestino.
Biden não fez nada até agora. Em sete meses ainda não disse a que veio. Para não dizer que não fez nada, quando houve os 11 dias em que o Hamas e a resistência palestina se enfrentaram Israel em maio passado, Israel respondeu com bombas em Gaza, o presidente dos EUA mandou para Israel o secretário de Estado que é uma espécie de ministro das Relações Exteriores, Antony Blinken conversar com o ex-primeiro-ministro Netanyahu e com a sua oposição, assim como falou com Mahmud Abbas da ANP.
Em reunião com a oposição à Nethanyahu deve ter dito que Biden não apoiava Netanyahu em sua reeleição. E deve ter dito à oposição – que tentava formar governo para derrubar o anterior – que Biden via com bons olhos a formação de um novo governo. Esse foi o recado que Blinken mandou de Biden. Isto foi positivo, porque acabou a era Netanyahu. Não quer dizer que melhorou. Para os palestinos não mudou nada. Mas, foi positivo interromper os governos seguidos do ex-primeiro-ministro. Era preciso encerrar aquela era.
Mas, na essência, quais foram os presidentes dos Estados Unidos que fizeram alguma coisa em favor dos palestinos de 1948? Apenas Jimmy Carter, que mencionei acima e Bill Clinton. Carter, em 1979, promoveu um acordo de paz entre Egito e Israel, determinando que este devolvesse todas as terras tomada em 1967.
O Partido Likud venceu pela primeira vez as eleições em 1977, desde 1947, quando Israel foi governada pelo Partido Trabalhista, conhecido pelo termo inglês como Labor. Foi então, que os Estados Unidos colocaram os dois para conversar sobre a paz e eles chegaram ao Acordo, denominado de Camp David e Israel devolveu o Sinai ao Egito, bem como outras terras à Jordânia e foi selada a paz. Ambos ganharam o Nobel da Paz pela iniciativa.
O segundo acordo foi promovido por Bill Clinton, em setembro de 1993. Foi o Acordo de Oslo. Esse foi um acordo de paz assinado na Casa Branca por Yasser Arafat (OLP) e Yitzhak Rabin, do Partido Trabalhista, que tinha voltado ao governo. Rabin foi assassinado dois anos depois por um judeu fundamentalista. Onze anos depois também assassinaram Arafat. Sua morte foi dada como natural, mas foi envenenado, em 2004. Esses dois presidentes foram os únicos que, de 1948 para cá, usaram o poder dos EUA para tentar a paz entre os dois povos.
Donald Trump até ensaiou algo, mas de forma absolutamente unilateral. Em janeiro de 2020 ele anunciou o chamado Acordo do Século. Ao lado dele estava Netanyahu então primeiro-Ministro de Israel e do outro lado, não tinha ninguém. Os palestinos não conheciam uma linha sequer do tal acordo. Ele não foi o acordo do século, porque foi devidamente enterrado.
Trump, mesmo sendo um fascista, tentou mostrar para o mundo que estava empenhado na solução do conflito na Palestina. Bush Filho também fez uma tentativa. Mas, de Biden não vimos nenhuma iniciativa concreta até agora para instalação de uma mesa para processos de paz.
Irã
O Irã é o segundo maior problema, depois de Cuba. Muitos analistas internacionais diziam, e eu estou entre esses que diziam que, muito provavelmente, os Estados Unidos voltariam para o Acordo Nuclear com o Irã, que tem a sigla inglesa JCPOA (The Joint Comprehensive Plan of Action) ou Plano de Ação Conjunto Global, para que o Irã abrisse o país para inspeção nuclear.
Os Estados Unidos, que se consideram donos do mundo, pressionam o Irã contra seu programa nuclear e cedem a Israel que insiste em dizer que o Irã está fazendo uma bomba. O acordo assinado em 2015 foi construído quando era secretário de Estado John Kerry, e era presidente Barak Obama, que tinha Biden como vice.
Kerry é hoje o secretário de Meio Ambiente de Biden. Portanto, todos diziam que Biden voltaria ao acordo deixado por Trump em 2017. Biden até agora não voltou, por pressão de Israel, que não aceita este retorno. Isto cria um tensionamento na região e não sabemos que prejuízos podem ocorrer.
No meio desta confusão, um petroleiro de bandeira liberiana, de propriedade de um israelense – sendo que a propriedade é uma coisa e onde o navio está registrado é outra – sofreu um ataque no Golfo de Omã, Mar da Arábia, perto do Golfo Pérsico próximo do Estreito de Ormuz, uma das regiões mais movimentadas do mundo, por onde passa 1/3 do petróleo mundial.
Um míssil atingiu o petroleiro, e não se sabe ainda a sua dimensão. Poderia ser um míssil mais simples ou mesmo um drone. Não se sabe quem fez o ataque. Mas, Israel, com seu novo governo, aponta o dedo acusando o Irã de ter atacado o navio. O Irã, por certo, nega.
Pode ter sido um ataque com falsa bandeira (false flag, como se diz em inglês). Isto é feito quando algum grupo terrorista quer incriminar outros. Por isso, eu não descarto esta possibilidade de que, para incriminar e tensionar mais ainda e jogar o mundo contra o Irã, poderia até ter sido Israel e o seu serviço secreto que pode ter perpetrado esse ataque.
Ao Irã é o que menos interesse teria em um incidente desses. Na região há guerrilheiros que atuam no Iêmen, na Síria, no Líbano, Iraque, todos eles têm drones. Hoje é possível comprar drones de 10 mil reais com autonomia de três mil quilômetros, que podem levar uma pequena ogiva.
Israel está ameaçando atacar o Irã em retaliação. Não sabemos se os Estados Unidos aceitarão este tipo de provocação. Eu, particularmente, acho praticamente impossível que Israel cumpra sua bravata de atacar. Porque, não há autonomia suficiente para que seus caças irem e voltarem com segurança e abastecimento de combustível. Não vou entrar em detalhes, mas há vários impedimentos e empecilhos para tal ação.
Sem a ajuda dos EUA, com alguma base da OTAN, um ataque dessa natureza seria muito difícil. E, se isto acontecer, muitos analistas acreditam que seria o cenário para uma terceira guerra mundial. Hoje, por trás do Irã, tem China e Rússia. Então, temos que aguardar para ver qual a reação de John Biden se vai ceder à pressão de Israel para que ele não volte ao acordo ou se vai dar apoio ao ataque pretendido por Israel.
Retirada das tropas do Oriente Médio
Na região da Ásia está ocorrendo a desocupação das tropas estadunidenses, que estão deixando países como Afeganistão, Iraque e Síria, onde ainda têm um pequeno contingente.
Desta forma, está havendo uma saída dos Estados Unidos do Oriente Médio, na mesma proporção inversa em que cresce a presença militar russa e a presença econômica da China, que assinou recentemente com o Irã um acordo de cooperação econômica por 25 anos, no valor de meio trilhão de dólares.
O problema é que a saída dos Estados Unidos está produzindo um fenômeno novo que é o crescimento do grupo chamado Talibã, na linguagem pashtun, originalmente significa estudantes. Eles não foram formados no Afeganistão, mas no Paquistão, um país vizinho e ambos são, extremamente muçulmanos.
O Talibã é considerado ideologicamente um movimento fundamentalista de resistência e caráter nacionalista que visa voltar ao poder. Eles são de 1994, tendo governado o Afeganistão num período relativamente longo, de 1996 até 2001, quando saíram do poder depois da ocupação militar pelos Estados Unidos, em decorrência dos ataques às Torres Gêmeas, em 11 de setembro de 2001.
Os EUA chegaram, com seus aliados, a ter 150 mil soldados no país e gastaram nesse período dois trilhões de dólares e perderam a guerra. E o Talibã agora voltou ao poder com a fuga do “presidente” títere Ashraf Ghani.
Nós devemos torcer para o governo ou para o Talibã? Eu não torço para nenhum dos lados. Acho que o Talibã tem problemas, apesar de terem mudado um pouco nos últimos 20 anos que ficaram fora do poder, mas do meu ponto de vista, eles ainda são muito obscurantistas. No período em que governaram, as mulheres não podiam estudar, usavam burcas, o que não tem nada a ver com o Islã, mas é um costume muito específico daquela região. Eles destruíram estátuas de Buda, querendo dizer que se não for muçulmano não pode ser mais nada.
A China, para minha surpresa, está tendo relações amistosas com eles. Não sei se no sentido de domesticá-los ou de prevenir infiltrações na pequena fronteira com esse país, justamente na província de Xinjiang, onde tem uma etnia dos Uigures, de maioria muçulmana, de origem turcomena, que Biden está dizendo, usando a surrada questão de que os direitos humanos estariam sendo violados na região.
É preciso dizer que a CIA treinou guerrilheiros fundamentalistas islâmicos, que eram originalmente liderados por Osama Bin Laden, que posteriormente viria a fundar o grupo terrorista chamada Al Qaeda. A CIA treinou esse pessoal em uma operação chamada Ciclone.
Sob a direção do sunita fundamentalista islâmico, Osama Bin Laden, que é saudita, eles fundaram a Al Qaeda apoiados pela CIA e pelos Estados Unidos, quando treinaram mais de 90 mil guerrilheiros para lutar contra a União Soviética que, a pedido do governo afegão, que era de esquerda em 1979, pediu a solidariedade para a URSS.
Eles então, mandaram tropas e acabaram ocupando o Afeganistão por longos dez anos. Alguns autores chamam esse período o Vietnã da União Soviética. Aqueles muçulmanos sempre foram anticomunistas, de extrema-direita, fundamentalistas, treinados pelos EUA [Escrevo um artigo mais longo sobre a tomada do poder pelos Talibãs no Afeganistão].
Ásia
Vou falar da região chamada Ásia, strictu sensu, na região do Oceano Pacífico, chamado de mar do Sul da China.
Os Estados Unidos estão intensificando um acordo para um agrupamento de países para os quais usam a sigla QUAD, que envolvem Estados Unidos, Índia, Japão e Austrália, formando um quadrilátero que procura isolar a China, exatamente no seu mar territorial, onde ela tem total soberania.
Por aquela região do Pacífico passam 40% de toda a marinha mercante do mundo. O maior problema na política externa dos Estados Unidos para a região, é a forma emblemático da sua relação com a ilha de Taiwan, que é chinesa há séculos, um território chinês.
O que aconteceu em Taiwan? O partido chamado Kuomintang, cuja sigla é KMT, que perdeu a guerra civil para os guerrilheiros de Mao Tse Tung, em 1º de outubro de 1949, quando Mao chega em Pequim e proclama a instauração da República Popular da China, que antes se chamava República da China. Mao vence, e esses soldados que eram regulares, porque estavam no poder, fugiram para Taiwan.
Quem os liderava era um general que se dizia nacionalista, mas que apoiava os Estados Unidos. Seu nome era Chiang Kai-Shek que fugiu sem que Mao o impedisse. Ele fugiu com seus seguidores para a Ilha de Taiwan e formou uma base e chamou-a de República da China que tem bandeira e hino nacional, Parlamento e querem a separação da China, que jamais acontecerá.
Quem representava a China nas Nações Unidas era essa tal “República da China”, da ilha de Taiwan. Isso só viria a ser alterado em 1971. Os Estados Unidos deixaram de reconhecer essa “República” em 1979, passando a reconhecer a República Popular da China.
A China encara Taiwan como uma província rebelde e eles adotam uma orientação: um só povo com dois sistemas. Funciona assim em Hong Kong que já foi devolvida depois de 155 anos pela Inglaterra, em 1997. Hong Kong é capitalista, mas é governada pela China. E, Taiwan, mais dia, menos dia, voltará para a China continental. Da mesma forma a ex-colônia portuguesa chamada Macau.
O Estreito de Taiwan tem 130 km e é altamente militarizado, com presença dos Estados Unidos, Austrália, especialmente, do Japão e da própria marinha taiwanesa. Os Estados Unidos fornecem grande parte do armamento da ilha que hoje é governada, pela primeira vez, por uma mulher: Tsai Ing-wen, do Partido Democrático Progressista, que participa de uma coligação chamada Pan Verde, que é independentista, separatista.
No entanto, não há condições políticas para que isto aconteça. Não se sabe, evidentemente, se a política externa dos Estados Unidos vai incentivar a separação, o que provocaria um alto grau de tensionamento jamais visto na região. A China jamais aceitará isso.
E, para piorar as coisas, os Estados Unidos venderam nos últimos meses para Taiwan dez bilhões de dólares em armamentos e, nas duas últimas semanas, 700 milhões. Eles usam aqueles blindados de projeção múltipla para colocá-los todos enfileirados na costa taiwanesa, aguardando a eventual chegada da marinha chinesa para recuperar o território.
Então, é uma situação muito tensa. Taiwan só é reconhecida como país e mantem relações diplomáticas formais com apenas 15 países. Um país africano, Essuatíni, o Vaticano, quatro da Ásia – Ilhas Marshal, Nauru, Palau e Tuvalu, e nove países da América do Sul e Latina: Belize, Guatemala, Haiti, Honduras, Nicarágua, São Sebastião e Neves, Santa Lúcia, São Vicente e Paraguai. Estranha a presença da Nicarágua, governada por sandinistas.
Outros 44 países tem alguma relação com Taiwan, mas não é diplomática. Eles chamam esta relação, cuja sigla em inglês é TECRO (Taipei Economic and Cultural Representative Office in the United States) de Escritório de Representação Econômica e Cultural de Taiwan.
O último dos 44, para tensionar mais ainda, é uma das Repúblicas Bálticas, que é a Lituânia, que pediu para instalar um Tecro, ali no seu território, que faz fronteira com a Rússia, que está toda cercada por tropas da OTAN. A China já reagiu, convocando seu embaixador de volta. Poderá vir a romper relações diplomáticas com esse país.
Resumo geral por tópicos da política externa dos EUA sob Biden comparativa com Trump
- O que é rigorosamente igual
- Missão central dos EUA é a luta para a completa hegemonia mundial;
- Seguem governando por sanções ilegais, à revelia da ONU;
- Seguem usando os direitos humanos como forma de interferir nos assuntos internos dos países;
- O que tem sido diferente
- Tentativa de quebrar a unidade entre Rússia e China;
- Forte tentativa de contenção da China, com a política do QUAD e apoio total à Taiwan;
- Tentativa de afastar a Alemanha da Rússia;
- Aspectos positivos
- Governo não é negacionista; apoio à ciência no combate à pandemia; volta à OMS;
- Volta ao Acordo do Clima, chamada Conferência de Paris;
- Colocação da temática ambiental novamente na pauta mundial;
- Decisão de desocupar o Afeganistão e Iraque;
- Frustrações internacionais relacionados a tema dados como certos de que mudariam
- Volta ao acordo nuclear com o Irã (JCOPA);
- Vota das relações com Cuba nos patamares deixados por Obama;
- Sinais de dubiedade com relação à América Latina
- Reconheceu as eleições peruanas como limpas e ao novo governo, indicando o país como modelo para a democracia ocidental;
- Segue reconhecendo Guaidó como “presidente” da Venezuela;
- Mandou recado para JB para parar de criticar as urnas eletrônicas, que são seguras;
- Não disse ainda a que veio
- Apoio a um processo de paz na Palestina.
Conclusões
É inevitável concluirmos que a derrota fragorosa dos EUA não foi apenas no Afeganistão, como muitos autores estão anunciando.
Foi em toda a Ásia Central. O Afeganistão, que é cercado por países de população muçulmana majoritária, mais o Irã xiita e a República Popular da China, tinha esse país ocupado pela maior potência do mundo – militar e econômica – como uma espécie de cabeça de ponte no enfrentamento ao conjunto de países vizinhos.
Costumo fazer a comparação com Israel. É cabeça de ponte, é destacamento avançado do imperialismo e do sionismo internacional. Em meio a 400 milhões de árabes muçulmanos. Um corpo estranho, defendendo interesses alienígenas, imperialistas. Assim devemos encarar a presença estadunidense no Afeganistão por vinte longos anos. Dez anos após a morte do terrorista Bin Laden, capturado inclusive no país vizinho, o Paquistão. Por isso a derrota tem uma dimensão maior.
E não tem como não compararmos as cenas da tentativa de fuga pelo aeroporto de Cabul, seja com o fato de afegãos se agarrarem ao trem de pouso de um avião militar estadunidense – pelo menos três morreram por isso – bem como aquela ponte, de nome finger – que dá acesso aos aviões, totalmente lotada com pessoas caindo pelas laterais, com a cena famosa de um helicóptero pousando no teto de um prédio próximo à embaixada dos EUA, em Saigon, em abril de 1975, na tentativa de retirar as últimas pessoas dos EUA e seus colaboradores, após a derrota final da chamada Guerra do Vietnã de 12 anos.
Desde a posse de Joe Biden, como 46º presidente dos EUA, em 20 de janeiro passado, eu venho analisando a correlação de forças em plano mundial e afirmando que a agressividade do imperialismo estadunidense está diretamente ligada ao avanço das lutas dos povos em todo mundo e o fortalecimento da China e da Rússia no cenário da geopolítica mundial.
Toda e qualquer ação eventualmente positiva do chefe do imperialismo, jamais devemos creditá-la a alguma eventual “bondade” dessa pessoa, que ao mesmo tempo é presidente do maior país do mundo, mas sim pelo fato que estamos avançando nas lutas. Da mesma forma o contrário, ou seja, se ele pratica as maldades de sempre, tradicionais do imperialismo e as consegue implantar é um mais sinal para todos nós, pois significa que a nossa força das lutas em todo o mundo não têm dado resultado e mesmo a China e a Rússia não estão conseguindo contê-lo.
É simples assim. É dialético. Não se trata jamais de dar crédito ou acreditar e ter ilusões com o imperialismo, como alguns autores insistem em dizer, deturpando a análise materialista que fazemos sempre.
Os episódios do Afeganistão são apenas parte do processo de declínio acentuado e da crise que vive o imperialismo e seu sistema capitalista caduco que impõe sofrimento, miséria e desigualdade para toda a humanidade que não tem acesso à bens básicos de consumo. Por isso dizemos que é irreversível a derrota total e completa do imperialismo. Como todos os impérios caíram na história, por que seria diferente com este? Se os sistemas socioeconômico como escravismo e feudalismo acabaram um dia, por que o capitalismo seria eterno? A vontade dos próprios capitalistas não será suficiente jamais para que ele seja eternizado.
*Sociólogo, professor universitário (aposentado) de Sociologia e Ciência Política, escritor e autor de 17 livros (duas reedições ampliadas), é também pesquisador e ensaísta. Atualmente exerce a função de analista internacional, sendo comentarista da TV dos Trabalhadores, da TV 247, da TV DCM, do Iaras e Pagus, entre outros canais, todos por streaming no YouTube. Publica artigos e ensaios nos portais Vermelho, Grabois, Brasil 247, DCM, Outro lado da notícia, Vozes Livres, Oriente Mídia e Vai Ali. Todos os livros do Professor Lejeune podem ser adquiridos na Editora Apparte (www.apparteditora.com.br). Leia os artigos do Prof. Lejeune em seu site www.lejeune.com.br. E-mail: [email protected] e Zap é +5519981693145. Youtube: https://www.youtube.com/c/CanaldaGeopolítica; Facebook: https://www.facebook.com/ApparteLivrariaEditora; Facebook: https://www.facebook.com/professorlejeunemirhan/?ref=pages_you_manage; Twitter: https://twitter.com/lejeunemirhan?s=11; Instagram: https://instagram.com/lejeunemirhan?utm_medium=copy_link.