
O advogado Melillo Dinis do Nascimento, defensor do engenheiro Carlos Cesar Rocha, largou uma bomba no colo da Procuradoria-Geral da República. Mas desta vez publicamente, com liturgia e cerimônia, diante do procurador Paulo Gonet e dos ministros da primeira turma do Supremo.
Essa é a bomba, que muita gente tentou esconder desde a apresentação das denúncias contra os golpistas: por que Valdemar Costa Neto não está entre os réus denunciados pela PGR em nenhuma das facções lideradas por Bolsonaro e Braga Netto?
É uma pergunta derivada dessa outra: por que o engenheiro Rocha, presidente do Instituto Voto Legal, que prestou serviços de consultoria a Valdemar sobre as urnas e o sistema eleitoral em 2022, é réu na trama golpista e Valdemar, que o contratou e disseminou desinformações, anda por aí livre, solto e cada vez mais ativista pela anistia?
São perguntas incômodas. Valdemar foi indiciado pela Polícia Federal, em novembro de 2024, por disseminar mentiras contra as eleições, mas conseguiu se livrar da denúncia.
A imprensa demorou para se dar conta de que Valdemar estava fora da lista de 34 nomes, apresentada no dia 18 de fevereiro desse ano pela PGR. Os jornalistas levaram um dia para acionar a pergunta: mas cadê o Valdemar?
É o que o advogado Dinis do Nascimento perguntou de novo e solenemente nessa terça-feira, ao defender seu cliente no julgamento do chamado núcleo 4 do golpe, no STF: cadê o Valdemar?
Por que o engenheiro, que produziu relatórios sobre fragilidades do sistema eleitoral para o PL, é réu e Valdemar, que o contratou e mandava disseminar informações falsas a partir dos relatórios, está fazendo campanha pela anistia?
A acusação é mais grave: por que Valdemar, que controlava a divulgação das versões sobre os relatórios, espalhou o que não existia nos documentos? É o que advogado pergunta, na tentativa de defender seu cliente.

Leiam esse trecho do depoimento do advogado do engenheiro acusado de participar da organização criminosa, no núcleo que disseminava desinformação sobre a eleição. Esse trecho abaixo, da fala final do advogado, não tem cortes:
“O uso dessas informações (dos relatórios de Rocha) por pessoas desavisadas, por pessoas do ecossistema de desinformação, por pessoas maldosas, por pessoas que rezavam para os pneus, que esperavam a vinda de extraterrestres, isso tudo não estava sequer sob o controle de Carlos Rocha e sequer pela divulgação de Carlos Rocha, porque ele estava proibido de divulgar isso, dentro do seu contrato de confidencialidade. Quem geriu toda a comunicação foi exatamente o Partido Liberal. E eu repito: cujo presidente não está presente em nenhuma ação penal. Valdemar Costa Neto, e eu acho que isso é importante, era quem gerenciava todo tipo de diálogo, inclusive com a imprensa e com os candidatos, inclusive com a chapa perdedora que, inconformada, transformou esse país em um inferno, e que a gente ainda vai ter que fazer alguns exorcismos”.
O que o advogado diz é que Valdemar e o PL são os disseminadores das mentiras sobre as urnas. Valdemar é o golpista, e não seu cliente, que não fez declarações políticas e se limitou a produzir informações técnicas.
O procurador-geral mostra que não é bem assim, porque a “deturpação de dados” produzida por Rocha foi que abasteceu o PL de Valdemar. Foi o que Gonet disse de novo nessa terça-feira.
O que importa nesse caso é saber por que Valdemar escapou? Por que, como o advogado perguntou de novo, o PL de Valdemar foi multado em R$ 23 milhões pelo TSE, por litigância de má fé contra o sistema eleitoral, e Valdemar escapou da ação penal do golpe?
A argumentação do advogado pode ser frágil para livrar seu cliente (que nunca teria usado a palavra fraude sobre as eleições), mas é constrangedora para a PGR quando trata de Valdemar e do PL.
O defensor acusa Valdemar e o PL de terem deturpado os relatórios. Diz que seu cliente foi criador da urna eletrônica (a ministra Cármen Lúcia o desmentiu) e que tudo se resumiu a uma “prestação de serviços” para melhoria do sistema de votação e de auditagem.
O advogado jogou tudo no colo de Valdemar, do PL e de Bolsonaro e
tentou afastar o engenheiro de participação na organização criminosa. É a tática da maioria dos advogados dos outros réus do mesmo núcleo disseminador de mentiras.
Bolsonaro está morto e pode ser apontado como um fracassado que causou problemas para quem estava no seu entorno. Mas Valdemar está vivo e continua, pela fala do próprio advogado, tentando transformar esse país num inferno. Por que Valdemar continua escapando?