Família Bolsonaro prioriza alavancar Carluxo como vereador, até rifando Ramagem

Atualizado em 3 de fevereiro de 2024 às 10:55
Clã Bolsonaro. Foto: reprodução

A família Bolsonaro, em seu berço eleitoral, tem uma prioridade na disputa municipal no Rio: com o seu candidato a prefeito, Alexandre Ramagem (PL), se esfarelando no escândalo da agência de inteligência paralela, preservar a reeleição – e convincente – do filhote zero dois.

Sem saber como, até a eleição, o escândalo poderá respingar sobre o clã, o ex-presidente Jair Bolsonaro mandou concentrar esforços para blindar Carlos – que está na sua quinta legislatura municipal – com uma meta: que ver Carluxo tirar das urnas mais de 100 mil votos esse ano. A família consideraria humilhante se o ex-vereador mais votado na cidade, com 106.657 votos, em 2016, despencasse mais nas urnas, ficando fora do pódio dos mais votados.

Em 2020 – quando a família projetava 150 mil votos -, Carluxo ficou com 71 mil – uma drenagem de 36 mil votos em quatro anos, em pleno governo do pai. Perdeu para o psolista Tarcísio Motta, com 86.243 votos. E só teve 20 mil votos a mais que Chico Alencar (Psol), o quinto, e 15 mil a mais que o ex-prefeito Cesar Maia (DEM), o quarto. Mãe de Carlos e primeira ex-mulher do presidente, Rogéria Bolsonaro fez pouco mais de 2 mil votos e não foi eleita.

“A família precisa ter Carlos como um vereador muito bem votado, acima de 100 mil votos, para fortalecer a mística da família e ajudar a eleger outros vereadores”, explica o sociólogo e cientista político Paulo Baía, professor do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS) da UFRJ. Para isso, diz o professor, está nos planos substituir Ramagem por um outro nome imposto pela família, criando um fato político novo na campanha.

Claro que há quem pense que vale a máxima, ‘falem mal, mas falem de mim’. Para o presidente estadual do PL no Rio e líder da sigla na Câmara, Altineu Côrtes, a operação colocou Ramagem em destaque, como vítima, o que agrada os bolsominions: “Achamos que a operação vai impulsionar a campanha dele porque todos estão enxergando essa perseguição”.

Os dois, Ramagem e Carlos, são alvo da operação da PF que apura espionagem ilegal feita pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin) durante o governo Bolsonaro, quando Ramagem era diretor da agência. Carluxo voltou a trabalhar a pleno vapor para reduzir as perdas. “Obrigado a todos pelo carinho”, agradeceu, no Instagram, com uma foto relapsa, tomando uma lata de coca, e com o gabinete meio vazio. “Restabelecendo conexões”, escreveu Carlos – e o recado veio seguido de um post mostrando que a máquina segue produzindo “notícias” contra o governo Lula.

Mensagens obtidas pela PF mostram que assessores de Carlos Bolsonaro pediram informações sigilosas a Ramagem - Brasil 247
Ramagem e Carluxo. Foto: repodução

“Novo diretor adjunto da Abin fez doações a candidatos de esquerda nas últimas eleições”, postou Carluxo, reproduzindo matéria de um jornal de aluguel. Segundo o texto, o pesquisador Marco Aurélio Chaves Cepik, nomeado diretor-adjunto da Abin, no lugar de Alessandro Moretti, fez doações eleitorais a candidatos do PT e PCdoB entre 2016 e 2022. As contribuições, pasmem, totalizaram R$ 3.450.

No Rio, segunda maior capital do país, a corrida é liderada pelo prefeito Paes, com 36,2%, segundo o instituto Atlas Intel – favorito a conquistar o quarto mandato não consecutivo ao Palácio da Cidade. Ramagem aparece em segundo lugar com 19,1%, tecnicamente empatado com o deputado federal – ele de novo – Tarcísio Motta (PSOL), que pontua 17,8%. Como Paes deve sair candidato ao governo do Rio em 2026, o vice será prefeito por dois anos – ou mais, a depender desse período -, o que tornou a disputa pela vaga uma concorrência paralela.

O PT, cansado de ser coadjuvante na campanha de Paes, mesmo com o apoio de Lula, quer que o prefeito abra mão de seu amigo pessoal, o deputado federal Pedro Paulo (PSD), e indique alguém do PT, como tem pregado a presidente Gleisi Hoffmann. Quem também quer indicar o vice é o ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, e em seu estilo de ultimato. Ou a ex-delegada Martha Rocha é vice de Paes ou vira concorrente do prefeito na disputa, pelo que restou do PDT brizolista. Além de Paes, Ramagem e Tarcísio, e de uma possível candidatura de Martha, há que se considerar também a candidatura do pastor evangélico e cantor gospel Otoni De Paula (MDB). Há outros pré-candidatos menos relevantes.

Paes, nem ninguém ao seu redor, comentam o tema Alexandre Ramagem. E torcem para que o Partido Liberal de Valdemar Costa Neto não troque de candidato. Apoiado pelo presidente Lula e pelo PT na disputa pela prefeitura do Rio nas eleições municipais de 2024, Paes não acha que o escândalo tira Ramagem da disputa – mas certamente o deixa exposto. “Eduardo Paes, que é experiente, está sendo cauteloso, não minimiza o caso Ramagem, nem o coloca em primeiro plano de suas fala. Até porque a cidade do Rio tem um percentual de adesão ao bolsonarismo muito grande”, resume o cientista político Paulo Baía.

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