
A família do estudante de 14 anos do Colégio Bandeirantes, que cometeu suicídio em 12 de agosto, anunciou que pretende processar os pais de quatro adolescentes citados em um áudio deixado pelo jovem antes de sua morte. O estudante, que era negro, gay e bolsista na escola particular, em São Paulo, teria sido alvo de racismo, homofobia e tortura racial.
Além dos responsáveis pelos jovens, a escola e a ONG Ismart, que seleciona estudantes de baixa renda para estudar em colégios particulares, também serão processados na esfera cível.
Caso sejam condenados, os pais e as instituições terão que pagar indenização à família da vítima. O valor a ser solicitado ainda não foi definido pela defesa. De acordo com o Código Civil brasileiro, os pais são responsáveis por atos infracionais cometidos por seus filhos menores de 18 anos. Nesse caso, os quatro adolescentes são investigados por prática de ato infracional análogo ao crime de injúria.
O inquérito está sendo conduzido pela 23ª Delegacia de Polícia, localizada em Perdizes, zona oeste de São Paulo. Se o ato infracional for confirmado, os jovens poderão ser submetidos a medidas socioeducativas, como prestação de serviços à comunidade ou internação de até três anos na Fundação Casa, conforme previsto na legislação brasileira.
Os advogados que representam a família do estudante, Hédio Silva Júnior e Anivaldo dos Anjos Filho, afirmaram que a ação judicial será protocolada até o final de outubro. “O bullying não descreve com fidedignidade a discriminação racial e homofóbica”, afirmou Hédio.

A ação também busca responsabilizar a escola e a ONG por não terem tomado medidas adequadas para proteger o estudante. “Não tem como botar a escola, os pais e o Ismart na prisão. A forma de punir é pecuniária”, explicou Hédio Silva Júnior.
O advogado destacou que o objetivo do processo não se limita à indenização financeira. “Queremos que a escola mude a forma de lidar com a diversidade”, afirmou ele, sugerindo que a ação tem um caráter educativo e visa promover mudanças no ambiente escolar.
Cleo Garcia, advogada e coordenadora do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Moral (Gepem), vinculado à Unicamp e à Unesp, considerou a ação justa. “O adolescente tinha um futuro promissor e poderia ajudar nas condições econômicas da família, embora isso não compense a perda”, disse ela ao Uol.
Garcia também demonstrou ceticismo quanto ao impacto da ação judicial na transformação dos valores dos envolvidos. “A conscientização e a mudança de valores morais exigem tempo e intervenções pedagógicas que nem sempre a escola está preparada para oferecer”, concluiu.
Disque 188
A cada mês, em torno de mil pessoas procuram ajuda no Centro de Valorização da Vida (CVV). São 33 casos por dia, ou mais de um por hora. Se não for tratada, a depressão pode levar a atitudes extremas.
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), a cada dia, 32 pessoas cometem suicídio no Brasil. Hoje, o CVV é um dos poucos serviços em que se pode encontrar ajuda de graça. Cerca de 50 voluntários atendem 24 horas por dia a quem precisa.
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