Família de mitômanos, Bolsonaros transformam a mentira em ferramenta de governo. Veja como

Atualizado em 11 de julho de 2019 às 2:12
Ao vivo ou pela internet, eles transformaram a mentira em ferramenta de trabalho

Conhecereis a verdade, e ela vos libertará. Como o leitor deve saber, Jair Bolsonaro fez uso frequente desta passagem da Bíblia (João 8;32) durante sua campanha eleitoral. Em menor medida, continua usando até hoje.

Ocorre, porém, que este mesmo governo, de Jair Bolsonaro, elegeu a mentira, aquela que se opõe à verdade, como uma de suas principais matérias-primas e ferramentas de trabalho. Vale dizer: Jair Bolsonaro mente. Jair Bolsonaro é mentiroso.

Igualmente, seus filhos políticos também mentem. Também são mentirosos. Flávio Bolsonaro, o 01: é mentiroso. Eduardo Bolsonaro, o 03: mente e mente muito. Carlos Bolsonaro, o 02: dorme, acorda, almoça e janta com a mentira.

Membros do primeiro escalão do presidente da República, da mesma maneira, mentem como respiram. A ministra Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos) e o ministro Sergio Moro (Justiça) são dois dos maiores mitômanos a ocupar atualmente a Esplanada dos Ministérios.

Completam o séquito de mentirosos uma série de parlamentares, jornalistas e influenciadores de redes sociais, como a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), o editor Allan dos Santos e o youtuber Bernardo Kuster.

O autor deste artigo é repórter há mais de 20 anos, não trabalha com a mentira. Ao longo da carreira, já publicou dezenas de acusações relacionadas a autoridades e assuntos de interesse público. Foi processado quatro vezes. Todos os processos foram arquivados, todos com ganho de causa para o acusado. Via de regra, acusado por difamação e/ou calúnia.

O teor do presente artigo poderia ensejar novas ações judiciais. A hipótese seria a de crime de difamação, previsto no ART 139 do Código Penal:

Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação: Pena – detenção, de três meses a um ano, e multa.

Tal artigo, no entanto, é seguido por um Parágrafo Único:

Parágrafo único – A exceção da verdade somente se admite se o ofendido é funcionário público e a ofensa é relativa ao exercício de suas funções.

O princípio da excessão tem um nome autoexplicativo. Quer dizer que, quando aquilo que o acusado está dizendo sobre a vítima do crime de difamação corresponde à verdade dos fatos, então existe uma excessão, e essas falas do acusado consideradas ofensivas deixam de ser crime.

Assim, segue, abaixo, uma lista de mentiras contadas pelas pessoas públicas citadas neste artigo. Está longe de ser uma lista exauriente (ou seja, com todas as mentiras já contadas pelos listados), mas serve para mostrar que, na grande maioria das vezes, essas autoridades públicas mentem não apenas sabendo que estão mentindo, mas também sabendo que serão desmentidas, que suas mentiras são incapazes de ser sustentadas por muito tempo.

Então, por que mentem? Mentem porque sabem que, em que pese serão desmentidas, uma fatia da população continuará acreditando no que dizem. Mentem para enganar alguns. E quem são esses alguns? Exatamente aqueles que formam a sua base de apoio mais sólida. Mentem porque a mentira é a sua ferramenta de trabalho, é o que as mantêm na política ou em seu trabalho.

É por meio do embuste que elas ganham a vida.

1 – Jair Bolsonaro – presidente da República

A imagem acima é do presidente Jair Bolsonaro mentindo no Twitter

Veja a imagem acima. Ela é reprodução de um tuíte de Jair Bolsonaro, do dia 10 de março deste ano. É uma mentira fabricada com auxílio de um canal de Youtube, chamado Terça Livre, constantemente recomendado como boa fonte de informação por Bolsonaro e seus filhos.

Ao contrário do que escreveu o presidente, a repórter Constança Rezende, do jornal O Estado de S.Paulo, jamais disse querer arruinar a vida de seu filho 01, o senador Flávio Bolsonaro (PSL-SP). Tampouco disse buscar o impeachment do presidente.

Tratava-se de uma mentira de tal forma evidente que o próprio áudio contido da dita reportagem, que balizava o tuíte de Bolsonaro, desmentia o que ali vinha escrito.

Assim, como só se podia esperar, Bolsonaro foi imediatamente desmentido, com todas as letras, pela imprensa:

Bolsonaro usa declaração falsa para atacar imprensa– Jornal O Estado de S.Paulo

#Verificamos: É falso que repórter do Estadão tenha dito que pretende ‘arruinar Flávio Bolsonaro e o governo’ – Agência Lupa e Folha de S.Paulo

Mas o presidente da República não se dignificou a esboçar qualquer retratação sobre o assunto. Nunca admitiu que mentiu, nunca pediu desculpas, nada. Para aquela fatia do eleitorado que crê cegamente em suas palavras, continua sendo verdade o que ele disse, e todas as provas apresentadas pela imprensa do contrário são armação e perseguição política.

2 – Flávio Bolsonaro – senador da República

O 01 repetiu essa mesma mentira em dois canais de TV, em suas redes sociais e em entrevistas

O filho mais velho de Jair Bolsonaro, em janeiro deste ano, estava tendo que se explicar diariamente sobre as transações financeiras entre ele e seus funcionários de gabinete enquanto era era deputado estadual no Rio de Janeiro, em especial as de um de seus assessores mais próximos, Fabrício Queiroz.

Em dado momento, em meio à sua linha de defesa em que afirmava estar sendo vítima de uma perseguição política, afirmou que tinha tido seus sigilos fiscal e bancário quebrados pelo Ministério Público do Rio de Janeiro. Era mentira. Sendo mentira, ele não apresentou qualquer prova da acusação que fazia. Foi rapidamente desmentido pelo MP-RJ.

Flávio Bolsonaro não teve sigilo quebrado ilegalmente, diz procurador-geral do Rio – Consultor Jurídico

O senador teve efetivamente seu sigilo quebrado quatro meses depois. Até hoje, porém, nunca pediu desculpas pela mentira, nunca explicou o que o levou a mentir. Pelo contrário, continua mentindo, baseado em nada, sabendo se tratar de uma mentira insustentável. Apesar disso, até hoje, milhares de seus seguidores no Twitter e outras redes seguem acreditando em sua mentira, e disseminando-a.

3 – Carlos Bolsonaro – Vereador do Rio de Janeiro

O caso do Pavão Misterioso. Uma mentira que se reproduz

É inglória tarefa escolher uma só mentira do vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ). Ele mente muito, quase tanto quanto comete erros de português em suas postagens. Quase tanto quanto profere ofensas a adversários políticos.

O caso da conta de Twitter chamada de Pavão Misterioso, porém, talvez seja o mais emblemático. É uma conta anônima que está publicando imagens do que afirma serem vazamentos de conversas e documentos relacionados aos jornalistas do site do Intercept Brasil.

Na realidade, porém, são falseamentos grosseiros. Os erros já apontados pela imprensa são vexatórios para quem criou a tal conta.

Especialistas apontam inconsistências em relato do ‘Pavão Misterioso’ – Estado de S.Paulo

#Verificamos: É falso tuíte do Pavão Misterioso que cita ‘acordo’ com jornalista do The Intercept – Agência Lupa e Folha de S.Paulo

Em que pese o amadorismo constrangedor desta fraude chamada Pavão Misterioso, a tal conta e suas postagens fraudadas não param de ser compartilhadas não só por Carlos Bolsonaro, mas também por milhares de apoiadores do presidente da República, incluindo o 03, deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), e a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, como se pode ver nas imagens abaixo.

4 – Deputada Federal Joice Hasselmann

A líder do governo na Câmara dos Deputados, Joice Hasselmann (PSL-SP), lançou, em 2014, um livro chamado Delatores, sobre a Operação Lava Jato. Fez festa de lançamento, recebeu jornalistas e políticos no evento, contou em entrevistas todo o trabalho que teria tido para escrever.

Era tudo mentira. Ela não escreveu nada. Ela contratou um ghostwriter para apurar e escrever. Até hoje sofre uma ação judicial que corre no Tribunal de Justiça de São Paulo em que constam as provas desta mentira da deputada. O autor do presente artigo, quando trabalhava na revista Carta Capital, escreveu uma reportagem sobre o assunto, mostrando as provas da mentira da parlamentar.

Livro de Joice Hasselmann escrito por ghostwriter é alvo de processo – Revista Carta Capital

Mesmo assim, mesmo confrontada com as provas incontestes, ela continuou mentindo. Disse com todas as letras a este repórter, mesmo diante das evidências em contrário, que escreveu aquele livro sozinha. Uma mentira descarada.

Ainda que este repórter diga e repita que a deputada mentiu e mente sobre este assunto, ela jamais o processou. E nem parou de mentir.

Lamenta-se, mas é isso.