Família e aliados divergem sobre ida de Bolsonaro a julgamento no STF

Atualizado em 26 de agosto de 2025 às 15:54
O ex-presidente Jair Bolsonaro. Foto: Divulgação

A poucos dias do julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a trama golpista da qual é acusado, Jair Bolsonaro enfrenta um dilema que divide aliados, familiares e integrantes do PL. O ex-presidente avalia se comparece ao plenário da Corte quando os ministros iniciarem a análise da ação penal.

A possibilidade carrega forte peso simbólico, mas também riscos de desgaste político e pessoal. Dentro do PL, a ala mais radical defende a presença de Bolsonaro.

Deputados e senadores próximos argumentam que sua imagem no STF reforçaria a narrativa de perseguição política e de enfrentamento às instituições, estratégia que mobiliza sua base mais fiel. “A ausência pode ser lida como fragilidade política”, afirmam parlamentares desse grupo, que enxergam no gesto uma demonstração de coragem.

Já aliados mais pragmáticos recomendam cautela. Para esse setor, a presença de Bolsonaro não acrescentaria nada do ponto de vista jurídico, já que o julgamento segue independentemente da sua participação. Pelo contrário, poderia oferecer munição aos adversários, transformando a cena do ex-presidente sentado no banco dos réus em símbolo negativo.

Também há receio de que a presença estimule protestos inflamados, num momento considerado sensível pelo próprio partido. A família do ex-presidente também se divide. Michelle tem defendido que ele adote uma postura discreta, acompanhando as sessões de casa.

O ex-presidente Jair Bolsonaro e sua esposa Michelle Bolsonaro. Foto: Divulgação

O argumento central é preservar a saúde do marido, que enfrenta crises recorrentes de soluço que podem evoluir para vômitos. “Assistir de casa permitiria pausas necessárias durante as longas sessões”, tem argumentado a ex-primeira-dama.

Entre os filhos, há posições diferentes. O senador Flávio Bolsonaro, que atua na articulação política da família, recomenda que o pai não compareça, avaliando que a ausência pode ser mais prudente. Já Carlos e Eduardo têm manifestado preferência pela presença de Jair no STF, seguindo a linha de enfrentamento que mobiliza apoiadores.

Nos bastidores, advogados reforçam que a decisão de ir ou não ao plenário é política, não jurídica. A defesa avalia que o comparecimento não muda em nada o rumo do processo nem interfere na análise dos ministros. A presença, portanto, teria apenas valor estratégico e de imagem.

Para pessoas próximas ao ex-presidente, o impasse revela o equilíbrio difícil entre a manutenção da narrativa de perseguição e os riscos de exposição em um julgamento que tende a ser acompanhado em escala nacional e internacional.

Guilherme Arandas
Guilherme Arandas, 27 anos, atua como redator no DCM desde 2023. É bacharel em Jornalismo e está cursando pós-graduação em Jornalismo Contemporâneo e Digital. Grande entusiasta de cultura pop, tem uma gata chamada Lilly e frequentemente está estressado pelo Corinthians.