
Aos 65 anos, Dominique Cristina Scharf voltou às ruas após cumprir mais de três décadas de prisão. Conhecida como a maior estelionatária do país, ela deixou a Penitenciária Feminina de Tremembé, em São Paulo, no início do mês, depois de alcançar o tempo necessário para migrar ao regime aberto. Sua trajetória mistura luxo, golpes sofisticados e fugas cinematográficas.
Nascida em 1960 em São Paulo, Dominique é filha de pai estadunidense e mãe alemã. Cresceu em ambiente de classe alta, estudou em colégios de elite e desfrutou de privilégios desde a infância. Apesar do contexto, ainda jovem começou a furtar em casa e em lojas.
A morte do pai e o distanciamento da mãe aceleraram sua guinada para a vida criminosa. Em 1981, com apenas 21 anos, foi presa pela primeira vez. Desde então, passou a ser figura constante no sistema penitenciário, acumulando condenações por estelionato, falsificação e assaltos.
Nos anos 1990, já era considerada uma das criminosas mais habilidosas de São Paulo, capaz de enganar empresários, lojistas e bancos com a mesma destreza. Sua lista de golpes incluía fraudes em cheques, venda de joias falsas e até os chamados “golpes do amor”, quando chantageava homens após encontros.

Também frequentava restaurantes caros, onde simulava problemas nos pratos para não pagar a conta. Mais tarde, mergulhou em crimes mais pesados, como tráfico de armas, clonagem de veículos e participação em quadrilhas especializadas em roubos de carros.
O episódio mais grave ocorreu em 2003, quando foi acusada de tentativa de homicídio durante um assalto a um vendedor de joias. Condenada pelo Tribunal do Júri a mais 12 anos, acumulava então quase meio século de penas. “Gosto sempre de deixar claro que nunca matei uma mosca. O vendedor de joias não se feriu”, declarou.
Ao longo dos anos, Dominique chegou a reunir 20 processos de execução penal ativos ao mesmo tempo, o que obrigou a Justiça a unificar as penas em 2016, totalizando 57 anos, 11 meses e 10 dias. Suas fugas também ficaram conhecidas: escapou do Carandiru e depois da unidade de Ribeirão Preto, onde pulou uma muralha de seis metros.
Mesmo atrás das grades, manteve o gosto por roupas sofisticadas e passou a investir na produção artesanal de tricô. Agora, em liberdade, planeja transformar o ofício em uma grife própria. “Meu sonho é visitar a minha família, que mora na Austrália. E quem sabe ficar por lá”, disse ao projetar o futuro.