Fátima de Tubarão presa e Bolsonaro solto. Quem irá explicar? Por Moisés Mendes

Atualizado em 15 de julho de 2025 às 19:43
Fátima de Tubarão. Foto: Reprodução

Lula foi preso aos 72 anos, no dia 7 de abril de 2018. Em 27 de outubro, completaria 73 anos na cadeia. Se estivesse em liberdade, poderia ter sido eleito presidente da República um dia depois do aniversário.

Ficou 580 dias encarcerado em Curitiba e saiu para derrotar o fascismo e o lavajatismo e retornar à presidência da República. Ninguém na grande imprensa tratou da sua idade quando um camburão foi buscá-lo em São Bernardo. Nem que ele havia enfrentado um câncer na laringe.

Mas Bolsonaro, com 70 anos, é considerado velho demais e doente para ser preso. E assim começa a campanha para que o chefe do golpe não vire presidiário e continue solto e conspirando.

Essa é a lista de crimes atribuídos a ele pela PGR, nas alegações finais do procurador Paulo Gonet encaminhadas hoje ao Supremo:

1. Tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito (pena de 4 a 8 anos)

2. Golpe de Estado (pena de 4 a 12 anos)

3. Organização criminosa armada (pena de 3 a 8 anos que pode ser aumentada para 17 anos com agravantes citados na denúncia)

4. Dano qualificado pela violência e grave ameaça contra o patrimônio da União (pena de 6 meses a 3 anos)

5. Deterioração de patrimônio tombado (pena de 1 a 3 anos)

Augusto Heleno, outro idoso, também não pegaria cadeia? Nem Braga Netto, que está preso preventivamente? Braga Netto seria solto depois de condenado? Nem Mauro Cid, por ser delator e ter a pena atenuada ou perdoada, seria preso?

Braga Netto. Foto: Cleia Viana/Câmara dos Deputados

Sobraria de novo só para os subalternos do golpe e para os manés do 8 de janeiro? Teremos uma cena comovedora dos condenados às vésperas da prisão, para que os chefes escapem do cárcere?

Com a ressalva de que idosos e pessoas com doenças graves merecem ter seus casos tratados como excepcionalidades, a pergunta é: por que as cadeias estão cheia de doentes e velhos?

Por que as situações excepcionais só aparecem quando envolvem poderosos? Porque, é óbvio, a questão política pesa a favor do idoso Jair Bolsonaro.

O ex-poderoso Roberto Jefferson, preso em 2023, hoje com 72 anos, só ganhou prisão domiciliar em maio desse ano. Jefferson teve câncer de pâncreas, de tireoide e de cólon. Há muito tempo não anda e sofre de problemas mentais graves.

Quem vai explicar quando Bolsonaro, condenado a mais de 40 anos de cadeia, continuar solto, enquanto Fátima de Tubarão, 70 anos, condenada a 17 anos pela invasão de Brasília, continuará encarcerada?

Moisés Mendes
Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim) - https://www.blogdomoisesmendes.com.br/