Faz sentido o governo premiar a Globo pela exportação de suas novelas?

“Avenida Brasil”

 

O Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, através de sua Secretaria de Comércio e Serviços, premiou a Globo pela exportação de novelas.

A emissora ganhou o troféu Destaque na Exportação de Serviços numa cerimônia em São Paulo. Foi uma iniciativa em conjunto com a Associação de Comércio Exterior do Brasil, AEB. É um reconhecimento pelo licenciamento de 63 títulos para 72 países em 2013.

Ninguém da assessoria do ministério ou da AEB soube explicar quais foram os critérios para a premiação, quem votou etc.

Nos últimos 40 anos, a Globo vendeu 130 novelas para 170 lugares. Em tese, é um negócio que gera oportunidades em outros setores. Quais? O de dublagens para estrangeiros? (Me lembro que “Terra Nostra” passava na Itália quando estive numa pequena cidade chamada Manarola, na Ligúria. Finalmente os personagens falavam italiano direito).

O timing não é o melhor, também. Como tudo o que diz respeito à TV, a Globo enfrenta um outro panorama. Agora é forçada a competir, lá fora, com novas produtoras e a dispersão da audiência.

“O que acontece é que, com o passar do tempo, os outros países também tiveram interesse em começar a produzir novelas. E, obviamente, quanto mais investimento nessa área, mais os custos de produção baixaram, gerando um mercado local”, afirmou recentemente Ricardo Scalamandré, diretor da Central Globo de Negócios Internacionais. “Como a maioria dos países já produz suas próprias novelas, eles compram as nossas para colocar em outras faixas de horário, o que altera a valorização”.

Até o começo dos anos 2000, as novelas representavam 90% do faturamento da Globo Internacional. Hoje, é pouco mais de 50%.

Há o problema da qualidade. Se, tecnicamente, as telenovelas são impecáveis, a dramaturgia é um lixo que piorou com o tempo. Isso, num mundo em que há produtos melhores ao alcance de um clique, é uma fria.

Se as novelas são a cara do Brasil para os gringos verem, nós estamos fritos. Embora a versão original de “Escrava Isaura”, de 1976, com os imortais Lucélia Santos e Rubens de Falco, sobreviva, o maior sucesso dos últimos anos é “Avenida Brasil”, dublada em várias línguas, como espanhol, inglês, russo, grego, polonês e francês.

Uma história repleta de clichês sobre ricos e pobres, estrelada por duas atrizes que passam o tempo berrando uma com a outra, é a grande contribuição recente para a difusão da cultura brasileira.

É como acreditar que “Chaves” faz bem e traz dividendos para o México. Não faz e não traz. Exportado para diversos países, nunca ganhou um prêmio do governo. E olha que o México é o México.

Kiko Nogueira

Diretor do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.

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Kiko Nogueira

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