As Olimpíadas, do ponto de vista lógico, não fazem nenhum sentido desde que os gregos que a inventaram deixaram de disputá-las, há muito tempo.
Por exemplo.
Vejamos Roger Federer e Michael Phelps.
Federer acaba de vencer epicamente a seminifinal contra o argentino del Potro para tentar, enfim, sua primeira medalha de ouro individual no tênis.
Isso aos 30 anos, e depois de ter batido todos os recordes do tênis.
A importância que Federer atribui a isso pode ser medida em sua atitude depois de um jogo dramático de quatro horas e meia – o mais longo do tênis olímpico. Federer beijou o distintivo de seu país na camisa vermelha e com a mão direita tocou no coração, os olhos molhados.
Falta ainda a final.
Agora observemos Phelps, o nadador americano. No momento em que escrevo, ele já tinha chegado à sua vigésima medalha de ouro, em três Olimpíadas.
No cálculo frio, Phelps está batendo Federer por 20 a 0. Provavelmente Federer fará seu gol de consolação no domingo.
Mas ainda assim.
Um nadador pode levar 20 ou mais medalhas em sua carreira. Um tenista, uma, duas, no máximo três – isso se ele se mantiver no topo por muitos anos.
Faz sentido?
Presumo que nem o Barão de Coubertin diria que sim.
É apenas um exemplo. Já foi suficientemente discutido o absurdo de que equipe de futebol, ou basquete, ou vôlei, se esfolar para conquistar um único ouro. Um ciclista ou uma ginasta pode decorar a parede de sua sala com medalhas olímpicas.
Não estou falando isso por amargura ao ver o Brasil, mais uma vez, relegado ao papel de colecionador de migalhas em Londres.
Meu ponto é o mérito, a lógica, a honra esportiva.
É esperar muito que as autoridades esportivas corrijam, ou pelo menos suavizem, a aberração na entrega de medalhas.
Mas, em sua humildade petulante, o Diário decreta aqui que a medalha de ouro solitária de Roger Federer – se ela afinal vier – vale mais que todas as de Phelps.