Federer X Phelps

Atualizado em 3 de agosto de 2012 às 15:12
Federer nos Jogos de Londres

 

As Olimpíadas, do ponto de vista lógico, não fazem nenhum sentido desde que os gregos que a inventaram  deixaram de disputá-las, há muito tempo.

Por exemplo.

Vejamos Roger Federer e Michael Phelps.

Federer acaba de vencer epicamente a seminifinal contra o argentino del Potro para tentar, enfim, sua primeira medalha de ouro individual no tênis.

Isso aos 30 anos, e depois de ter batido todos os recordes do tênis.

A importância que Federer atribui a isso pode ser medida em sua atitude depois de um jogo dramático de quatro horas e meia – o mais longo do tênis olímpico. Federer beijou o distintivo de seu país na camisa vermelha e com a mão direita tocou no coração, os olhos molhados.

Falta ainda a final.

Agora observemos Phelps, o nadador americano. No momento em que escrevo, ele já tinha chegado à sua vigésima medalha de ouro, em três Olimpíadas.

Phelps é um símbolo da falta de lógica olímpica

No cálculo frio, Phelps está batendo Federer por 20 a 0. Provavelmente Federer fará seu gol de consolação no domingo.

Mas ainda assim.

Um nadador pode levar 20 ou mais medalhas em sua carreira. Um tenista, uma, duas, no máximo três – isso se ele se mantiver no topo por muitos anos.

Faz sentido?

Presumo que nem o Barão de Coubertin diria que sim.

É apenas um exemplo. Já foi suficientemente discutido o absurdo de que equipe de futebol, ou basquete, ou vôlei, se esfolar para conquistar um único ouro. Um ciclista ou uma ginasta pode decorar a parede de sua sala com medalhas olímpicas.

Não estou falando isso por amargura ao ver o Brasil, mais uma vez, relegado ao papel de colecionador de migalhas em Londres.

Meu ponto é o mérito, a lógica, a honra esportiva.

É esperar muito que as autoridades esportivas corrijam, ou pelo menos suavizem, a aberração na entrega de medalhas.

Mas, em sua humildade petulante, o Diário decreta aqui que a medalha de ouro solitária de Roger Federer – se ela afinal vier – vale mais que todas as de Phelps.