Felipe Neto e o jornalista que o chamou de depravado e pedófilo: retratação não basta. Por Joaquim de Carvalho

Atualizado em 4 de agosto de 2020 às 22:15

 

Felipe Neto. Foto: Divulgação/Twitter

O jornalista Gustavo Victorino, eleitor declarado de Jair Bolsonaro, foi machão na hora de atacar o youtuber Felipe Neto na semana passada, com mentiras.

“(Felipe Neto) é, na minha opinião, um depravado, um pedófilo. Esse cara tinha que estar na cadeia”, afirmou, em tom exaltado.

O cidadão de bem disse que a Pampa, retransmissora da RedeTV em Porto Alegre, não teria coragem de exibir nenhum dos “seis, sete vídeos” que dizia ter de Felipe em que ele prega sexo entre crianças. Mentira. Mas ele foi além.

Os vídeos seriam tão fortes que a emissora não teria coragem de exibir, disse, no estilo clássico do difamador: ele teria as provas, mas não iria mostrar porque escandalizaria os telespectadores.

Ontem, o machão e mentiroso estava mais manso e, como é costume entre os bolsonaristas, recuou, mas pela metade, ainda com certa arrogância.

“Na sexta-feira, a gente falando sobre assuntos gerais. Afinal de contas, este é um programa de debate. Eu usei de palavras bastante ríspidas, usei de palavras, no calor da emoção, né? Usar palavras inadequadas no calor da emoção. Então, eu quero fazer uma retratação pública aqui para o youtuber Felipe Neto porque eu usei palavras fortes, e estou fazendo essa retratação exatamente nesse sentido. Acho que não foram inadequadas (sic), muitos telespectadores se incomodaram, ele certamente se incomodou porque publicou que iria me processar. Enfim, é um direito dele. Mas eu quero, acima de tudo, fazer essa retratação porque eu acho importante: eu sou um democrata, sempre defendi o direito da opinião. Sempre defendi o direito da liberdade. Mas entendo que ela tem limites. E talvez, pelas palavras fortes que eu utilizei, eu talvez tenha extrapolado esses limites.”

O que cidadão de bem fez nada tem a ver com opinião e liberdade. É crime contra a honra, tipificado pelo Código Penal.

Ao tomar conhecimento da retratação, Felipe disse que manterá os processos contra ele e a Rede Pampa.

“Recebemos o pedido de retratação, mas isso não é suficiente, nem de longe, para reparar os danos causados. Conforme o próprio jornalista falou: há limites na liberdade de expressão. Esses limites são definidos pela lei. Seguiremos com os processos contra ele e a emissora”, disse.

Fez bem.

Em grande parte, jornalistas como Gustavo Victorino são responsáveis pelo clima de ódio que existe no país. Usam a pena e o microfone para, sistematicamente, injuriar, caluniar e difamar. Se o Brasil tivesse um Conselho de Jornalismo, como o Conselho Federal da OAB, a iniciativa para civilizar certos jornalistas poderia começar no âmbito interno, para proteger a sociedade e a própria profissão.

Como não há, em grande em razão da oposição dos donos das empresas de comunicação, o caminho imediato é mesmo o Judiciário.

O direito de crítica, que pode ser dura, e o da investigação jornalística, que pode apontar fatos criminosos, devem ser protegidos. Mas o crime contra a honra, não.

O efeito do comportamento criminoso de certos jornalistas é estimular o público a fazer o mesmo. Por isso é que há tanta gente no Brasil que faz do ataque criminoso rotina. Xingam a mãe de uma autoridade pública como se dissessem bom dia. E estão cada vez mais ousados.

Que outras vítimas sigam o exemplo de Felipe Neto. É o primeiro passo para mudar esse cenário de ódio no país. Certo setores do Brasil precisam ser civilizados.

Joaquim de Carvalho
Jornalista, com passagem pela Veja, Jornal Nacional, entre outros. joaquimgilfilho@gmail.com