Fernando Henrique justifica roubalheira do PSDB: “São Paulo faz muita obra”. Por Geraldo Seabra

Atualizado em 20 de agosto de 2018 às 19:06
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (YASUYOSHI CHIBA/AFP)

Adhemar de Barros governou São Paulo em três oportunidades. A primeira como interventor federal de Getúlio Vargas (1938-1941), e as duas outras na condição de governador eleito (1947-1951) e (1963-1966), quando foi cassado por corrupção. Embora também tenha concorrido por duas vezes (1955 e 1960) à Presidência da República pelo seu PRP, Partido Republicano Progressista, acabou conhecido nacionalmente pela célebre frase cunhada por um adversário mas que acabou lhe sendo atribuída: “Roubo, mas faço”.

Era assim que Adhemar respondia às denúncias de que recebia propina das inúmeras obras que realizou em São Paulo, onde construiu grandes estradas e usinas hidrelétricas, além de escolas e hospitais. Esse estilo empreendedor de Adhemar de Barros teria sido copiado pelo PSDB em mais de duas décadas de governo no Estado, segundo justificou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) em entrevista concedida ao repórter Bernardo Mello Franco e publicada na edição desta segunda-feira (20) do jornal carioca O Globo.

Quando apertado pelo repórter com perguntas sobre o envolvimento do PSDB em atos de corrupção em suas administrações no governo paulista, FHC respondeu no melhor estilo adhemarista: “São Paulo faz muita obra. É possível que funcionários tenham ganhado alguma coisa”, admitiu. A outra pergunta, se o PSDB ainda pode se recuperar do desgaste com a Lava Jato, Fernando Henrique respondeu com peculiar sordidez: “Não tem nenhum tesoureiro do PSDB na cadeia”, disse.

O ex-presidente, eleito pela primeira vez nas asas do Plano Real criado pelo presidente  Itamar Franco (1992-1995) – que além de FHC foi pilotado no Ministério da Fazenda pelos ex-ministros Ciro Gomes e Rubens Ricúpero – e reeleito por meio de uma emenda constitucional aprovada mediante compra de votos no Congresso, diz a verdade quando afirma que não há ex-tesoureiro do partido na cadeia. Mas ele escondeu a prisão do tucano de alta plumagem Renato Azeredo, ex-deputado, ex-senador, ex-governador de Minas e ex-presidente nacional do PSDB, condenado a mais de 20 anos de prisão pelo escândalo conhecido como Mensalão Mineiro, que assaltava os cofres das empresas estatais de propriedade do governo de Minas Gerais para financiar campanhas do PSDB.

À pergunta sobre o senador Aécio Neves (PSDB-MG), que quando presidente nacional do PSDB foi gravado negociando uma propina de R$ 2 milhões com os donos da JBS, no melhor estilo Michel Temer, Fernando Henrique foi lacônico: “Isso prejudica, obviamente, a imagem do partido. Não dá para tapar o sol com a peneira”, disse. Indagado, finalmente, porque o PSDB não expulsou o senador, já denunciado por corrupção e lavagem de dinheiro pelo Supremo Tribunal Federal, FHC saiu pela tangente. “Ele não foi condenado ainda. Tem de respeitar a Justiça”, explicou.