Festival de patacoadas começa a incomodar. Por Arnaldo César

Atualizado em 21 de janeiro de 2019 às 9:55
Flávio, Jair, Carlos e Eduardo Bolsonaro. Foto: Reprodução/Redes Sociais

Publicado originalmente no blog de Marcelo Auler

POR ARNALDO CÉSAR

A atriz global Regina Duarte não é a primeira – e, tampouco será a última – reacionária a pular fora da canoa furada do governo que aí está. O festival de incompetências, boçalidades e trapaças que tem assustado o País, nestas três primeiras semanas do ano, começou a corroer o prestígio do folclórico Jair Bolsonaro.

Na FIESP – a catedral da elite brasileira – alguns de seus membros notórios, a portas fechadas, reclamam das “maluquices do capitão”. O mesmo acontece na FIRJAN – a sucursal carioca da federação dos sindicatos empresariais que apostaram pesado no empoderamento da extrema direita na condução do Brasil.

Ao contrário da “ex-namoradinha do Brasil”, esses “impolutos cidadãos” preferem fazer suas críticas ao governo longe dos holofotes e dos microfones. Por ora, estão se articulando nos bastidores. Assim têm conseguido reverter algumas decisões que, se fossem implementadas como desejava o novo governo, teriam produzido desastres irreparáveis na vida das empresas.

O vai-e-vem da saída do Brasil do “Acordo de Paris” é uma dessas calamidades interrompidas a tempo de causarem prejuízos monumentais. Voluntarioso ao extremo, Bolsonaro e sua turma não têm paciência para fazer contas ou mesmo para se aprofundar no estudo das questões cruciais para a Nação.

Se o tratado mundial de preservação do meio ambiente fosse rompido, o Brasil perderia mais de US$ 30 bilhões por ano. Milhares de investidores internacionais em “crédito de  carbono” (investimento feito em empresas que se dedicam a reflorestamento e preservação de mata nativa) ameaçaram deixar de aplicar no Brasil. Levariam seus dólares para nações, onde os governantes apresentassem alguns sinais de sanidade.

O que está acontecendo na Inglaterra e nos Estados Unidos tem servido de sinal de alerta para aqueles que batiam palmas e brindavam com champanhe a chegada do candidato da extrema direita ao Palácio do Planalto.

O Reino Unido vive à beira de um precipício. A direita inglesa, comandada pelo Partido Conservador, resolveu tirar o País da Comunidade Econômica Europeia. Em 2016, fizeram um plebiscito – Brexit – para sacramentar tal  decisão. O resultado foi apertado, 51,9% contra 48,1%,

A golpes de ‘fakenews” e doses cavalares de ódio contra os imigrantes, os ingleses foram iludidos. Apostaram que ficariam mais ricos fora da União Europeia. Nem bem saíram e já começaram a experimentar a maior recessão econômica deste século. Tanto que agora já admitem um novo escrutínio para sacramentar a permanência no bloco europeu.

Tereza May, a primeira ministra conservadora vem sendo triturada no campo político interno e externo. Nas casas de apostas de Londres a sua renúncia passou a ser dada como liquida e certa.

Nos Estados Unidos, Donald Trump e a sua obsessão pela construção de um muro, na divisa com o México, poderá empurrar o País para uma greve geral ou o caos. Em Los Angeles, 30 mil professores se mobilizam por uma paralisação de proporções nacionais. É por essas e por outras que correligionários do próprio Partido Republicano falam abertamente no seu impeachment.

É bom lembrar que essa quebra de braço com os democratas por conta do muro contra imigrantes é café pequeno se for comparado com maluquices que o bilionário-presidente tenta perpetrar do alto da sua arrogância.

Mandar o seu advogado particular mentir junto ao Congresso dos Estados Unidos sobre construções de prédios em Moscou pode vir a ser a bala de prata que abaterá o presidente do topete mais exótico da história dos Estados Unidos.

Quem se der o trabalho de ler o livro “Medo, Trump na Casa Branca”, do premiadíssimo jornalista Bob Woodward, ficará sabendo que por diversas vezes seus arroubos e voluntarismos colocaram em risco a segurança nacional dos norte-americanos.

Para a sorte deles, nos Estados Unidos existem tecnocratas de carreira comprometidos com a Nação que conseguiram tourear o despreparado Trump e evitar tragédias maiores. Por aqui, pelo visto, os mais competentes foram enxotados da administração pública por serem considerados petistas, comunistas ou socialistas. Ainda que não o fossem.

É bem verdade que o vice-presidente, General Hamilton Mourão, assustado com corolário de besteiras disparadas pelo seu colega do Ministério das Relações Exteriores,  Ernesto Araújo, passou a receber no seu gabinete representantes diplomáticos em Brasília. Está fazendo diplomacia paralela.

Mourão também sugeriu a criação de conselho de política externa composto por ministros de outras áreas, justamente para evitar que outros desastres venham ser cometidos pelo chanceler que tem por mania discursar falando nas línguas tupi-guarani, latim e grego.

Só que o próprio Mourão não é um primor de equilíbrio. Volta e meia é visto no Facebook desafiando seus amigos de farda para “pagar flexões”, em lugares públicos.  O que significa que vamos ter que aturar por algum tempo “conversas com Jesus ao pé da goiabeira”, “liquidificadores assassinos” e toda a sorte de desvarios que os bolsonaristas são capazes de cometer.

Enganam-se, portanto, , aqueles que imaginaram que, se as coisas estão desmoronando para a direita lá fora, o mesmo se dará por aqui mais tempo ou menos tempo. Jânio Quadro, lembram os acomodados levou sete meses para ser destituído. Fernando Collor demorou um pouquinho mais: dois anos.

O processo de corrosão junto à opinião pública é lento. Por enquanto, os incautos que apostaram no capitão e sua tropa de parvos continuam acreditando que os “desencontros atuais são meros frutos daqueles que acabaram de assumir o poder”. A mídia convencional acovardada e os “fakenews” que continuam sendo disseminados pelos bolsonaristas se encarregam de colocar panos quentes em tudo. Ambos permanecem operando como se ainda estivéssemos em  campanha eleitoral.

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