FHC, Ciro e a inutilidade democrática de quem se anula. Por Carlos Fernandes

Atualizado em 18 de dezembro de 2018 às 12:50
FHC e Ciro em outras circuntâncias

Numa palestra realizada na noite dessa segunda (14) em São Paulo para um evento direcionado a um programa de formação de jovens, o velho FHC admitiu publicamente ter anulado o seu voto no segundo turno para presidente das eleições de 2018.

A declaração – menos surpresa do que constatação – só vem provar que para alguns intelectuais a democracia e as garantias constitucionais encontram-se num patamar inferior ao de seus projetos pessoais e orgulhos mesquinhos.

Que o grande salto do Brasil enquanto potência econômica e liderança internacional só tenha se dado após os seus oito anos de mandato justamente sob a liderança de um torneiro mecânico seja motivo de despeito, rancor e inveja por parte do grande príncipe da sociologia, isso não é novidade para ninguém.

Mas que em função desse orgulho ferido um homem que entende perfeitamente o que significa um despreparado como Bolsonaro no mais alto cargo da República ter simplesmente se despido de sua responsabilidade histórica com o país, apenas inclui mais uma data na marca do vencimento de sua importância no debate político nacional.

Não que FHC não tenha dado “sinais” de que não votaria em Bolsonaro e tudo o que ele representa.

Após aquela inacreditável transmissão que o então candidato a ditador fez aos fanáticos da avenida Paulista onde prometeu prender ou expulsar os “vermelhos”, o silêncio ensurdecer de FHC finalmente foi quebrado.

Demais até para os padrões tucanos, FHC se viu obrigado a vestir o seu empoeirado traje de liderança política para dizer que tudo aquilo era inaceitável.

O diabo é que para alguns, o combate ao fascismo não significa necessariamente o seu imediato e irrestrito apoio às causas democráticas.

Segundo essa lógica transversa, o oposto do fascismo não é a democracia, é a omissão.

E em matéria de omissão, ninguém se portou de maneira mais exemplar do que seu equivalente menor, Ciro Gomes.

Ciro, como sabemos, não apenas não aderiu imediatamente à única e clara escolha democrática entre os postulantes, como se ausentou do país na sua egotrip europeia.

De volta ao Brasil horas antes do início das votações do segundo turno, nem a hombridade de declarar o seu voto foi capaz de fazer frente ao perigo que dizia combater.

Como didaticamente demonstrado por FHC, o fato de ter esbravejado o “Elenão”, em nenhum momento significou que votaria em Haddad.

Como a todos é dado conhecer, para o bem e para o mal, na viagem a percorrer entre a saída de Bolsonaro e a chegada a Haddad, sempre existem as estações dos votos brancos e nulos.

Somado a tudo, como nem a decência teve de reconhecer a sua tibieza num momento tão importante para o Brasil, o que mais restou claro em toda essa história, além de não ter votado em ninguém no segundo turno, é o fato de estar centímetros abaixo da já rasteira importância que representa hoje para o país, Fernando Henrique Cardoso.

Consumada a eleição de Jair Bolsonaro, no fim de tudo resta provado que ainda mais inúteis para uma democracia sólida do que gente que vota para o retorno de um estado de exceção, são aqueles que por malquerença, de vontade própria se anulam.

Assim são FHC e Ciro, este ainda menor do que aquele.