FHC diz que Brasil vive clima de intolerância, mas esquece de reconhecer sua culpa. Por Joaquim de Carvalho

Atualizado em 3 de março de 2018 às 18:36
Fernando Henrique Cardoso. Foto: Wilson Dias/ Agência Brasil

Em artigo publicado na edição deste domingo (04/03/2018) de O Estado de S. Paulo, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o formulador do pensamento da direita no Brasil, responde aos críticos, inclusive de seu partido, que o acusam de sabotar a campanha de Geraldo Alckmin à Presidência.

Ele diz que incentivou a candidatura de Luciano Huck não porque o apoiaria, mas porque defende a renovação na política. Segundo ele, é preciso ter gente nova na disputa.

“E não adianta repetir que minha escolha está feita, Geraldo Alckmin, e que, no momento oportuno, as pesquisas registrarão sua ascensão. As maledicências, contudo, não diminuirão meu ímpeto de ajudá-lo a enfrentar a campanha e a se apresentar com um discurso propositivo”, escreveu.

Segundo Fernando Henrique, Alckmin faz um governo honesto (pausa para rir).

“Diga-se o que quiser, o PSDB no comando de São Paulo há 20 anos não se desviou desses preceitos e Alckmin governou o Estado durante quase três períodos administrativos”, destacou.

Para Fernando Henrique Cardoso, o que será que fazia Paulo Preto nas sombras do governo? Talvez o Trensalão seja invenção e Alckmin esteja na contabilidade clandestina da Odebrecht com a alcunha de Santo porque, de fato, ele não pecou nunca.

Fernando Henrique também fala de seu encontro com o ex-prefeito Fernando Haddad. “Boateiros inventaram que em encontro mais recente com Fernando Haddad tratamos de que, se Lula desistisse da candidatura, o STF não o prenderia. Como se eu tivesse poder para tanto…”, comentou.

No único trecho incontroverso do artigo, Fernando Henrique afirma que vivemos tempos de intolerância.

“Infelizmente se está criando no Brasil uma cultura da intolerância. É assim em outros países, como em alguns europeus e nos Estados Unidos. Estamos vendo o renascimento da xenofobia, o horror ao “estrangeiro”, ao diferente. Entre nós, os ânimos políticos também andam cada vez mais acirrados, tratando as diferenças como inimizades”, escreveu.

Está certo, mas faltou dizer: tenho parte dessa culpa, ao jogar gasolina na fogueira que meu correligionário Aécio Neves acendeu quando perdeu a eleição, em 2014.

Mas isto Fernando Henrique Cardoso não vai dizer nunca.

Foi golpe, mas ele tenta escrever bonito para esconder a infâmia, e seu público acredita. Ou finge acreditar.