
Rubens Ricupero, economista e diplomata, e Otacilio Pires de Camargo, o Cilinho, técnico de futebol, são os dois personagens que vêm à mente quando leio sobre os diálogos revelados entre Sergio Moro e Deltan Dallagnol para blindar Fernando Henrique de acusações na Lava Jato.
Os mais jovens talvez não saibam, mas essa não é a primeira vez que FHC tem o seu nome envolvido em declarações embaraçosas vazadas por meios eletrônicos.
Em 1994, enquanto pelejava para “vender” a imagem de estadista capaz de colocar o país num patamar de desenvolvimento com controle de inflação, foi surpreendido pelo “escândalo da Parabólica”.
Nele, Ricupero revelou nos bastidores da TV Globo, em uma conversa informal com um jornalista da emissora, a tática que usava para convencer a população sobre as maravilhas do plano Real.
“Eu não tenho escrúpulos”, disse o então ministro da Economia de Itamar Franco e aliado do tucano, sem notar que as câmeras estavam ligadas. “O que é bom a gente fatura; o que é ruim, esconde”.
Num tempo em que a comunicação era comandada por uma emissora de TV, dois ou três jornais e duas semanais de informação, não foi difícil convencer a opinião pública de que o vazamento havia sido coisa de sindicalistas interessados em favorecer os adversários.
O ministro acabou pedindo demissão, mas FHC elegeu-se presidente.
E o restante da história todo mundo conhece: comprou na mão grande os congressistas para garantir a emenda da reeleição, entregou o patrimônio do país a preço de banana e até hoje se garante na vida pública por meio de mistificações.
As mesmas mistificações que tornaram o ex-juiz de Maringá herói nacional.
E é a farsa perpetrada por Sergio Moro que me faz lembrar de Cilinho, conhecido como filósofo caipira por causa de sua paixão por histórias populares relacionadas ao futebol.
Uma delas fala sobre juiz ladrão.
Conta Cilinho que no início de sua carreira foi treinar a equipe de uma pequena cidade do interior. Pendurados na tabela, precisando garantir o resultado, os dirigentes decidiram abrir o bolso e ‘molhar a mão’ do trio de arbitragem.
Na hora do jogo, e como a notícia já havia espalhado entre os torcedores, o que se viu é uma cena surreal que em muito lembra Moro em eventos combinados com FHC e seus cupinchas: assim que subiu as escadarias para o gramado, o juiz foi aclamado pelas arquibancadas e, sem nenhum pudor, retribuiu de braços levantados e sorridente.
Desnecessário dizer que a equipe da casa garantiu o resultado e seguiu em frente. Como FHC fez ao longo de toda a sua carreira, em cumplicidade com gente como Moro, Deltan Dallagnol, entre tantos outros.
Aos 82 anos, Ricupero ainda é lembrado para comentar sobre economia em fóruns e palestras, mas nunca se libertou do trauma da sua indiscrição.
Dois anos mais novo, Cilinho convalesce de um AVC sofrido no final do ano passado.
Essas duas pequenas histórias ajudam a entender o quadro de atraso e provincianismo protagonizado por FHC e continuado por Moro.
Se parte das pessoas ainda age como a torcida da pequena cidade que não se importou em ganhar roubando, e outra insiste em fazer vistas grossas e culpar os outros pelos próprios defeitos, convém lembrar que, de modo geral, a grande maioria já não é mais tão dependente de Globo e de dois ou três gananciosos donos de jornais.
Por mais que eles tentem esconder, há muitos querendo mostrar. Não demora e essa casa vai cair.