FHC não influencia nem o PSDB, mas Folha ainda o trata como estadista. Por Luís Felipe Miguel

Atualizado em 20 de fevereiro de 2020 às 13:09
Fernando Henrique Cardoso, the 34th President of Brazil, poses at Instituto Fernando Henrique Cardoso in Sao Paulo, Brazil on March 19, 2012 (AFP Photo/Yasuoshi Chiba)

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De tempos em tempos, acompanhando a translação de não sei qual astro, aparece a fatídica entrevista de Fernando Henrique Cardoso na imprensa local paulistana.

O homem que presidiu um dos governos mais corruptos da história do Brasil, também um dos mais lesivos ao povo e à nação, veste então a fantasia do sábio estadista macróbio – isso, sim, é apropriação cultural! E daí empresta sua autoridade de ex-sociólogo para repetir os clichês mais batidos do senso comum conservador que essa mesma imprensa produz e dissemina.

Nessa circularidade, claro, reside o segredo do seu sucesso.

Na Folha de hoje, ficamos sabendo, pela boca de FHC, que a “polarização” é um “risco” para o “jogo democrático”; que a ofensa de Bolsonaro à repórter Patrícia Campos Mello “é inaceitável”, mas não há “risco institucional”, embora a democracia seja “uma planta tenra” e portanto “o alerta tem de ser dado”, mas “sem alarmismo”; que “tem limite para tudo” e portanto “tem de haver um certo equilíbrio”, pois, caso rompido, “as prejudicadas são as Forças Armadas”, já que “você não pode confundi-las com o poder político”. E assim por diante.

O momento cômico da entrevista ocorre quando FHC fala da necessidade de renovação da liderança do “centro” político, dá a entender que Doria, Huck e Leite ainda não estão prontos e solta essa: “Eu vou fazer 90 anos no ano que vem, é preciso passar o bastão”.

Que bastão? Que liderança ele acha que ainda exerce? Pode desfilar à vontade nas páginas dos jornais de São Paulo, mas o fato é que não tem grande peso nem no seu próprio partido…