O Partido Comunista do Chile (PCCh) comemorou pelo menos duas grandes vitórias nas eleições chilenas realizadas neste domingo (17). Iraci Hassler venceu em Santiago, e vai suceder o conservador Felipe Alessandri. E Daniel Jadue foi reeleito em Recoleta recebendo mais votos do que havia somado nos últimos dois pleitos que havia vencido, desde 2012. Jadue é um dos nomes fortes para as eleições presidenciais marcadas para novembro. O mandato do atual presidente, o conservador Sebástian Piñera, grande derrotado das eleições deste domingo, termina em março de 2022.
O Partido Comunista do Chile tem forte presença nos movimentos sociais, inclusive da juventude e estudantis. No início da década passada, dividiu com os movimentos chamados autonomistas – próximos a teorias anarquistas – a liderança das grandes mobilizações nacionais de ocupação de escolas em defesa do ensino público. Uma de suas lideranças, Camila Vallego, hoje com 33 anos, foi apontada como “personalidade do ano de 2011”, com 78% de indicações dos leitores do jornal britânico The Guardian. Desde 2012, ocupa uma cadeira na Câmara dos Deputados.
O partido vem marcando diferença mais à esquerda em relação a legendas do campo progressista, como o Partido Socialista e a Democracia Cristã – da antiga Concertação. Ambos assinaram o acordo de novembro de 2019, que pôs fim às grandes manifestações e encaminhou o plebiscito que aprovaria a convocação destas eleições constituintes. A legenda se alinhou à esquerda social, que se opunha ao termo que previu o quórum de dois terços dos votos para se aprovar um artigo da nova constituição. O item punha em risco mudanças mais acentuadas na estrutura política e econômica neoliberal. Entretanto, a chapa única de direita nesta eleição ficou com menos de um terço das 155 cadeiras da Convenção Constituinte.
Iraci Hassler somava 38,62% dos votos após 99,8% das urnas apuradas, e Felipe Alessandri, 35,28%. A eleição para chefe do executivo das comunas, como são chamados os conjuntos de bairros que compõem uma das divisões administrativas no país, não tem segundo turno. Sendo assim será a primeira vez que o PCCh vai comandar Santiago. Alessandri, que tentava a reeleição, já reconheceu a derrota e parabenizou a vencedora: “Felicito Irai Hassler por seu triunfo em Santiago. (Desejo) o maior dos êxitos em sua administração. Procuraremos fazer uma transição impecável. Felicitações também aos vereadores eleitos”, afirmou, via Twitter, nesta segunda-feira (17).
A nova prefeita falou com a imprensa na noite de domingo. “Estamos muito contentes e esperamos que o que ocorre hoje em Santiago seja um prenúncio do que virá também para o nosso país, onde nunca mais a direita vai governar”, disse, antes de criticar o abandono dos mais necessitados pela gestão de Alessandri. Ela continuou: “temos uma oportunidade histórica neste momento tão relevante. Vamos ter uma nova Constituição e vamos ter também uma transformação para conquistar nossa dignidade e bem estar. Não queremos mais essa administração neoliberal que mercantiliza todas as coisas de nossas vidas”.
O prenúncio de novos dias apresentaram-se também na reeleição de Daniel Jadue em Recoleta, uma das 32 comunas que formam a região metropolitana de Santiago, a capital do pais. A vitória veio com a expressiva marca de 64% dos votos, superando suas votações anteriores em 2012 (46%) e em 2016 (56%).
“Sinto um orgulho de poder estar representando uma possibilidade real de transformação para o Chile”, disse o presidenciável Jadue. “Os setores que buscam uma transformação desse país conseguiram um tremendo triunfo, que se consolida com a necessidade não apenas de uma constituição absolutamente democrática, mas também de ter em um futuro próximo um governo popular.”
Governos Regionais
As eleições no Chile foram também para os governos regionais. Dos 16 que compõem o país, em 13 a disputa foi para o segundo turno. Os três eleitos foram Rodrigo Mundaca, em Valparaíso, onde fica a sede do parlamento; Andrea Macías, em Aysén; e Jorge Flies, em Magallanes. A votação final será no dia 13 de junho e será realizada em Arica y Parinacota, Tarapacá, Antofagasta, Atacama, Coquimbo, Metropolitana, O’Higgins, Maule, Ñuble, Biobío, Araucanía, Los Ríos e Los Lagos.
Na região Metropolitana, onde está localizada a capital Santiago, a disputa será entre Claudio Orrego, da Unidad Constituyente, que obteve 25,5% dos votos no primeiro turno, contra Karina Oliva, da Frente Amplio (23,37%), ambos do campo progressista.
Karina Oliva chamou a atenção aqui no Brasil por aparecer vestindo uma camiseta com uma foto do ex-jogador do Corinthians Sócrates. O “Doutor” ficou marcado por seu ativismo contra a ditadura nos anos 1980, sendo um dos comandantes do movimento Democracia Corinthiana. Em seu site pessoal, Karina se define como apaixonada por futebol, dança e a Pincesa Leia, esta última um personagem da saga do cinema Guerra nas Estrelas.