Filho de ex-ditador, Ferdinand Marcos Jr. toma posse como presidente das Filipinas

Atualizado em 30 de junho de 2022 às 7:58
O recém-eleito Presidente das Filipinas Ferdinand “Bongbong” Marcos Jr., o filho e homônimo do falecido ditador Ferdinand Marcos, discursa durante a cerimônia de posse no Museu Nacional em Manila, Filipinas, em 30 de junho de 2022. REUTERS – ELOISA LOPEZ

O filho do ex-ditador filipino Ferdinand Marcos foi empossado como presidente das Filipinas nesta quinta-feira (30), após décadas de esforços de sua família para se restabelecer no comando do país. Ferdinand “Bongbong” Marcos Jr., de 64 anos, venceu a eleição no mês passado por uma vitória esmagadora e chega ao poder 36 anos após o seu pai ter sido deposto por uma revolta popular.

O novo presidente assume o lugar de Rodrigo Duterte, internacionalmente conhecido por sua sangrenta guerra às drogas. Ferdinand Marcos Jr. prestou juramento em uma cerimônia pública no Museu Nacional de Manila, diante de centenas de convidados locais e estrangeiros, incluindo o vice-presidente chinês, Wang Qishan.

Sob o olhar de sua mãe Imelda, de 92 anos, sentada a poucos metros de distância, Marcos Jr. elogiou o governo de seu pai, o ex-ditador que concentrou o poder por quase três décadas no arquipélago. “Uma vez, conheci um homem que viu o pouco que havia sido conquistado desde a independência. E ele conseguiu realizar muito”, disse Marcos Jr., destacando que seu pai havia construído mais estradas e produzido mais arroz do que todos os antecessores juntos. “Será o mesmo para o filho dele. Não vou arranjar desculpas”, assegurou o novo presidente.

As últimas tentativas de desqualificar Marcos Jr. da eleição e impedi-lo de assumir o cargo foram rejeitadas pela Corte Suprema, há poucos dias.

À medida que os preços estão em alta no país e comprimem uma economia já devastada pela Covid-19, Marcos Jr. fez do combate à inflação, a retomada do crescimento e o aumento da produção de alimentos as suas prioridades. Ele tomou a iniciativa de assumir a pasta da Agricultura para reformar o setor, que é atingido por muitos problemas. “Iremos muito longe sob a minha liderança”, prometeu, dando poucos detalhes, no entanto, sobre como planeja atingir seus objetivos e poucas pistas sobre o seu estilo de governo, depois de ter evitado dar entrevistas.

“Amigo de todos, inimigo de ninguém”

Marcos Jr. também se comprometeu a defender os direitos das Filipinas ao Mar da China Meridional, que Pequim reivindica quase inteiramente. Ao contrário de seu antecessor, ele indicou que buscará uma relação mais equilibrada com os Estados Unidos e a China.

No mês passado, Marcos Jr. disse que adotaria uma política externa de “amigo de todos, inimigo de ninguém”, mas insistiu que imporia uma decisão internacional contra Pequim sobre o rico Mar do Sul da China.

O novo presidente chegou ao poder por meio de uma campanha maciça de desinformação nas redes sociais, retratando a família de forma favorável e ignorando a corrupção e os abusos dos direitos humanos cometidos durante o governo de 20 anos de seu pai.

Os filipinos esperam que Marcos Jr. seja, também, menos violento e mais previsível do que Duterte. Porém, ativistas e clérigos temem que ele use a sua vitória para se instalar no poder.

A aliança com a filha de Duterte, Sara, que assume o cargo de vice-presidente, foi essencial para o sucesso da campanha de Marcos Jr. A sua recusa em reconhecer os abusos de sua família, elogiando a ditadura como “anos dourados”, levanta, contudo, temores de que ele possa continuar um legado sombrio enquanto estiver no cargo.

Depois de seis anos de governo autoritário de Duterte, defensores dos direitos humanos, a Igreja Católica e analistas políticos expressam o temor de que Marcos se sinta estimulado a governar de maneira ainda mais dura.

Embora tenha apoiado a guerra contra as drogas de seu antecessor, política que custou milhares de vidas principalmente entre os pobres, é improvável que Marcos Jr. a implemente de forma tão agressiva. “Acho que a elite política filipina está pronta para abandonar a guerra às drogas movida pela violência”, analisa Greg Wyatt, diretor de inteligência de negócios da PSA Philippines Consultancy, acrescentando que a guerra “recebeu bastante atenção negativa”.

(Texto originalmente publicado em RFI)

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