Filho de Julio Iglesias apresenta namorada como um carro 0km. Por Nathalí

Atualizado em 20 de novembro de 2022 às 20:43
Julio José Iglesias apresenta nova namorada coberta por um pano. Foto: Reprodução

A última vez que ouvi falar de Julio Iglesias foi numa conversa com meu pai, que deve ter parado de ouvir seus discos há uns vinte anos. Depois disso, tenho a impressão de nunca mais ter ouvido esse nome.

Uma cena, entretanto, me faz escrever, quem diria, sobre um dos filhos de Julio Iglesias, Julio José Iglesias, aparentemente um pouco mais cafona que o pai.

Não qualquer cena: a cena em que ele apresenta a nova namorada à imprensa, durante o evento de uma marca de joias: uma mulher esbelta, branca, maquiada, muito bem vestida, do jeitinho que o patriarcado gosta, e esse, acredite, não é o maior dos problemas.

A mulher entra coberta por uma capa horrorosa, prateada, com dois olhos pretos medonhos, como um fantasma gourmet.

A capa foi retirada sob flashes e aplausos da mídia. Uma mulher exibida como uma peça de museu, um troféu, um prêmio, uma prova de poder e virilidade.

Vamos revelar o fantasma, disse a criatura antes de retirar o pano sobre o corpo da mulher.

Que cena constrangedora, triste, e, sobretudo, cafona.

É aterrorizante pensar que em pleno Século XXI alguém possa ter pensado que esta seria uma boa ideia, mas eu tenho pistas: talvez Iglesias não tenha reparado – do alto de sua masculinidade dura e inflexível – o quão agressivo é apresentar uma mulher como se fosse um prato de jantar servido à mesa.

Talvez ele a quisesse colocar num pedestal. Há pessoas – pasmem – que nos colocam em gaiolas e chamam isso de amor.

Li em algum lugar e não me lembro a autora, mas jamais esqueci o conteúdo: “sempre que alguém te colocar num pedestal, desça. Todo pedestal é uma prisão.”

Pelo sorriso da mulher sob a capa horrorosa, ela não se sentiu objetificada como de fato estava sendo; nem mesmo qualquer constrangimento transpareceu em seu semblante. Seu rosto transparecia até algum orgulho por estar sendo exposta como uma deusa – e ela decerto ainda não sabe que todo pedestal é uma prisão.

Isso não muda, sobretudo, o fato de esta ter sido uma das cenas de objetificação mais escancaradas que eu já vi até hoje. Ver uma mulher se sujeitando a isso é degradante pra qualquer outra mulher que de fato perceba a situação. E o seu desconforto, embora não transpareça, deve decerto existir em algum lugar de si.

Há de se considerar, é claro, que o vexame se deu em um evento de uma marca de joias e tem dedo de publicidade nisso aí, como sempre. Depois é só postar uma notinha dizendo: erramos, e fica tudo bem.

A questão, entretanto, não é essa. Se você tiver um pouco de noção sobre amor e parceria, nenhum dinheiro o fará apresentar aquela que você chama de “alma gêmea” com um pano ridículo sobre o corpo, como um automóvel 0 km que agora lhe pertence.

Ademais, quer que diga que a culpa é da mulher por ter se sujeitado a isso não sabe qualquer coisa sobre machismo estrutural – e eu aconselho que não entre nessa discussão, porque convém que falemos aquilo de que sabemos, mesmo que a Era da informação nos diga constantemente o contrário.

Veja o vídeo:

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