João Zambelli, de 17 anos, marcou presença cedo na Avenida Paulista neste domingo (7/9), durante o ato bolsonarista do Dia da Independência, e foi tietado por apoiadores. Filho da deputada Carla Zambelli (PL-SP), atualmente presa na Itália, o jovem revelou à Folha que pretende entrar para a política e disputar uma vaga de vereador em 2028. Segundo ele, o PL é um partido possível para abrigar sua futura candidatura.
Carla Zambelli, que perdeu o mandato após condenação por desinformação eleitoral em 2022, fugiu para a Itália e acabou detida em julho. João contou que só consegue se comunicar com a mãe por meio de cartas e demonstrou preocupação com a saúde dela, lembrando que a deputada já enfrentou um tumor cerebral. Segundo o filho, em sua última audiência, Carla chegou a desmaiar e caiu de cabeça no chão.
Durante o ato, cartazes pedindo liberdade para Zambelli chamaram atenção, muitos deles em inglês, com frases como “freedom for Zambelli”. Outro elemento marcante foi a quantidade de bandeiras dos Estados Unidos, que superaram as de Israel — bastante comuns em manifestações bolsonaristas anteriores.
Um cartaz em especial trouxe uma mensagem de apoio ao deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que se encontra autoexilado. A faixa pedia “fé em Deus” e ainda agradecia ao presidente estadunidense Donald Trump pelas medidas contra o Brasil, interpretadas pelos manifestantes como uma reação à “caça às bruxas” contra o ex-presidente Jair Bolsonaro.
As manifestações ocorreram em clima festivo, com selfies, bandeiras e cânticos de apoio a Bolsonaro e seus aliados. João Zambelli, mesmo sem cargo político, foi tratado como figura de destaque pelos presentes, posando para fotos e sendo celebrado como um possível herdeiro político da mãe.
O ato na Paulista foi um dos principais realizados neste 7 de Setembro em defesa da anistia aos envolvidos no 8 de Janeiro. Enquanto Bolsonaro cumpre prisão domiciliar em Brasília, seus aliados buscam manter a mobilização e preparar novas lideranças para fortalecer a base política da direita.
Vício manjado
Esse movimento de João Zambelli não é um caso isolado, mas segue a lógica do bolsonarismo de transformar laços familiares em capital político. Assim como Jair Bolsonaro projetou filhos em diferentes cargos — de vereador a deputado federal e senador —, Carla Zambelli agora tenta abrir espaço para o próprio herdeiro, sem qualquer experiência prévia, mas amparado pelo sobrenome e pela militância.
A estratégia reforça um padrão de ocupação de espaços públicos por dinastias políticas que priorizam interesses pessoais em detrimento de critérios técnicos ou trajetória de serviço público. Nesse arranjo, o eleitorado é conduzido a legitimar heranças familiares travestidas de renovação política, quando, na prática, trata-se da repetição de um modelo de poder sustentado por vínculos privados.