
Em 1996, a família Safra construía no Morumbi, zona oeste de São Paulo, a maior mansão da cidade: uma réplica do Palácio de Versalhes com 130 cômodos e 10.868 m² de área construída. Naquele mesmo ano, outras 28 mansões surgiram na capital paulista. Hoje, mais de um ano se passou sem que nenhuma nova mansão fosse erguida na cidade, segundo levantamento do Metrópoles com base nos registros de IPTU da prefeitura.
O estudo revela que a era dos palácios urbanos em São Paulo pode estar com os dias contados. Enquanto nos anos 1970 foram construídas 447 mansões na cidade, na década atual esse número despencou para apenas 47. A última grande mansão paulistana foi erguida no Jardim Paulistano: um imóvel de 1.500 m² com quatro suítes, oito vagas de garagem e piscina, avaliado em R$ 57 milhões.
O apogeu das mansões em São Paulo ocorreu entre as décadas de 1970 e 2000, quando foram construídos 1.619 imóveis classificados como padrão F (o mais alto de luxo) pelo cadastro municipal. A partir de 2010, o ritmo de construção começou a cair drasticamente:
– Década de 1970: 447 mansões
– Década de 1980: 463 mansões
– Década de 1990: 334 mansões
– Década de 2000: 375 mansões
– Década de 2010: 281 mansões
– Década de 2020 (até agora): 47 mansões
A urbanista Lucila Lacreta explica que vários fatores contribuíram para esse declínio: “A questão imobiliária é selvagem, não interessa construir casa. Num terreno onde cabe uma casa, querem construir um prédio de 50 andares”. A pressão por verticalização, a diminuição do tamanho das famílias e questões de segurança estão entre as principais razões para a migração dos ricos para apartamentos de luxo.

Enquanto as mansões tradicionais desaparecem do cenário urbano, a elite paulistana encontrou novos endereços:
– Condomínios de luxo em Alphaville (Barueri e Santana de Parnaíba), onde moram celebridades como Simone Mendes e Fiuk
– O residencial Tamboré, com seu castelo árabe de 13 torres
– A Fazenda Boa Vista, em Porto Feliz
Na própria capital, muitos optaram por trocar mansões por coberturas luxuosas. O apresentador Fausto Silva, o Faustão, deixou sua mansão de 3.716 m² no Jardim Guedala por uma cobertura avaliada em R$ 120 milhões. Já o ex-governador João Doria mantém uma das maiores residências da cidade: uma mansão de 3.304 m² no Jardim Europa, com campo de futebol particular.
O cadastro da prefeitura aponta uma casa de 710 m² na Vila Nova Conceição, construída em 1919, como a mais antiga. Porém, a cidade guarda mansões ainda mais antigas, como a Casa da Don’Anna no Campos Elíseos, erguida entre 1912 e 1914 pelo renomado arquiteto Ramos de Azevedo.
Muitas das grandes residências da elite cafeeira e industrial desapareceram com o tempo. As mansões da Avenida Paulista, por exemplo, deram lugar a edifícios comerciais – uma das mais simbólicas, da família Matarazzo, chegou a virar estacionamento antes de ser demolida.
Atualmente, as poucas mansões que resistem na capital estão concentradas em bairros com restrições à verticalização, como os Jardins América, Europa, Paulista e Paulistano. Para Lucila Lacreta, essas áreas são importantes para “mitigar os impactos da verticalização desenfreada”. Por outro lado, alguns urbanistas defendem o adensamento desses bairros, argumentando que muitos imóveis estão subutilizados em áreas centrais com boa infraestrutura.