Fim de semana de vacinação em Manaus é populismo sanitário. Por Jesem Orellana

Atualizado em 12 de junho de 2021 às 12:07
Vacinação em Manaus. Foto: Divulgação/Prefeitura

Por Jesem Orellana, epidemiologista da Fiocruz

Populismo sanitário, assim pode ser definido o fim de semana de vacinação em Manaus, onde Governo Estadual e Prefeitura tentam apagar do imaginário popular as duas tragédias sanitárias que horrorizaram a humanidade em 2020 e 2021.

Manaus está em plena retomada dos contágios do SARS-COV-2 e a vacinação de tantas pessoas de uma só vez, aumentará o risco de contaminação de quem vai para a fila, de seus acompanhantes e da cadeia de contatos de ambos.

Isto, na prática, resultará em “desperdício” de doses nos prováveis contaminados e gerará uma sobrecarga desnecessária sobre os exaustos trabalhadores de saúde que estão sendo forçados a participarem de mais essa insanidade sanitária neste fim de semana.

O pior é que o efeito máximo da vacina Oxford/Astrazeneca só poderá ser sentido 105 dias após a primeira dose e não “depois da primeira”, como certos canalhas insinuam. Tudo que é feito às pressas não termina bem, vejamos se as autoridades terão coragem de divulgar a evolução de casos novos nas duas semanas seguintes e o total de exames RT-PCR realizados em Manaus (esta informação vem sendo omitida desde o início da epidemia).

A vacinação de um contingente tão grande de pessoas (o tamanho da faixa etária de 40 anos é muito maior do que a de pessoas na faixa etária dos 50 anos) deveria estar ocorrendo em espaço de tempo maior, otimizando não só recursos financeiros e humanos, como também contribuindo para a menor dispersão viral.

Manaus, a capital mundial da Covid-19, segue sendo um laboratório a céu aberto e terreno tragicamente fértil para toda sorte de experimentos.

Exemplos: Exposição massiva da população ao vírus, almejando a inalcançável e antiética imunidade de rebanho pela via natural; Campanha da cloroquina nas UBS; Lançamento do fraudulento aplicativo TratCov; Cloroquina inalada; Uso irregular de proxatolamida em “ensaios clínicos”; e, por fim, exposição em massa desnecessária ao vírus em plena retomada dos contágios.