Flagrado com US$ 14 mil, Bolsonaro mente ao dizer que sempre declara dinheiro vivo; entenda

Atualizado em 19 de julho de 2025 às 12:36
Bolsonaro sendo levado para por tornozeleira eletrônica. Foto: Reprodução

Pelo menos desde 2006, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) deixou de incluir valores em espécie nas declarações de bens obrigatórias apresentadas ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A prática veio à tona nesta sexta-feira (18), quando a Polícia Federal encontrou US$ 14 mil (cerca de R$ 69 mil) e R$ 8 mil em dinheiro vivo durante uma operação em sua residência, autorizada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.

Questionado sobre o dinheiro apreendido, Bolsonaro afirmou: “Eu sempre guardei dólar em casa. Todo dólar lá tem o recibo do Banco do Brasil. O dólar está com recibo do corrente ano, declaro no ano que vem no IR”.

Segundo relatos obtidos pela jornalista Juliana Dal Piva, parte do dinheiro estava no escritório da casa, enquanto outra porção foi encontrada em uma gaveta de cuecas no quarto do ex-presidente.

Em 2006, ainda como deputado federal pelo Partido Progressista (PP), Bolsonaro declarou R$ 433 mil em bens à Justiça Eleitoral, incluindo imóveis, carros e investimentos em renda fixa. Em 2010, seu patrimônio declarado subiu para R$ 826 mil, mantendo a mesma composição de bens.

Dinheiro apreendido na casa de Bolsonaro. Foto: Reprodução

O valor continuou crescendo nos anos seguintes, atingindo R$ 2 milhões em 2014 e chegando a R$ 2.317.554,73 na declaração de 2022. Em nenhum desses documentos, no entanto, constava a declaração de dinheiro em espécie.

A ação da PF começou por volta das 7h da manhã, enquanto Bolsonaro ainda dormia. De acordo com agentes federais, ele e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro demonstraram nervosismo ao serem acordados.

“Eles se mostraram exaltados, afirmando que a operação não era justa”, relatou um dos policiais, embora tenham cooperado com os procedimentos.

Além do dinheiro, os investigadores apreenderam um pendrive encontrado no banheiro do casal. Bolsonaro declarou desconhecer tanto o dispositivo quanto seu conteúdo, que será analisado pericialmente.

Em decisão de 47 páginas, o ministro Alexandre de Moraes impôs ao ex-presidente uma série de medidas cautelares, incluindo:
– Uso obrigatório de tornozeleira eletrônica
– Recolhimento domiciliar das 19h às 7h em dias úteis e durante todo o fim de semana
– Proibição de contato com autoridades estrangeiras e outros investigados
– Suspensão do acesso às redes sociais

Moraes fundamentou sua decisão citando publicações de Bolsonaro e de seu filho, o deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), como evidências de suposta “extorsão contra a Justiça brasileira”. As postagens sugeriam tentativas de vincular a suspensão de tarifas comerciais dos EUA a uma eventual anistia no Brasil.

Dados do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) revelam que Bolsonaro recebeu R$ 17,2 milhões via Pix entre janeiro e julho de 2023, provenientes de doações de apoiadores para pagamento de multas eleitorais.