Flávio cria um problemão para o extremista moderado. Por Moisés Mendes

Atualizado em 6 de dezembro de 2025 às 20:37
Flávio Bolsonaro e Tarcísio. Foto: X

Tarcísio de Freitas é o Neymar da extrema direita. Sempre sente algum desconforto diante de momentos decisivos. Encolheu-se depois das barbeiragens dos ataques a Alexandre de Moraes e das batidas da Polícia Federal na Faria Lima, vacilou diante da base raiz do bolsonarismo e do próprio Bolsonaro e deixou claro que tem medo de enfrentar Lula.

Mas a velha direita e o novo fascismo, mesmo sabendo das suas fraquezas, sabe também que hoje só ele poderia desafiar Lula. Como deixa bem claro agora, nos recados enviados aos jornais, que Flávio é o coelho correndo na frente, para que outros mais fortes, se existirem, corram atrás.

E o único corredor, como aposta de Valdemar, Ciro e Kassab, da Faria Lima-PCC, da velha Fiesp ressuscitada por Skaf, de desmatadores, jornalões, garimpeiros, milicianos e de manés à espera da anistia – o único, apesar de estar sempre com um problema no joelho, é Tarcísio.

Ninguém levou a sério que Michelle estivesse desafiando Bolsonaro e os enteados para se habilitar à candidatura à presidência em 2026. Michelle não sobreviveria sem Bolsonaro e sem os garotos.

Os governadores Romeu Zema (Novo-MG), Ronaldo Caiado (PL-GO) e Ratinho Jr. (PSD-PR). Reprodução

Ninguém leva a sério Zema e Caiado, que são tartarugas capazes de subir apenas em cercas regionais. E poucos demonstraram até agora que Ratinho Júnior é de fato uma alternativa competitiva. Ratinho foi esquecido, como estratégia ou como demonstração de que é inexpressivo como nome nacional.

E Flávio não prospera sem a confiança e o suporte do centrão. É previsível que aumentem as pressões de todos os lados para que Tarcísio tome mais Coca-Cola, crie coragem e seja o homem que a direita quer. Antes, é preciso combinar com os russos.

A Polícia Federal começa a fechar cerco em torno de Claudio Castro no Rio e terá que fazer o mesmo em São Paulo, onde há muito tempo apareceram as pontas dos fios que conectam o crime organizado ao poder econômico e político, e não só na Faria Lima.

Além disso, na média das pesquisas antigas e recentes Tarcísio não se apresenta, como seus admiradores gostariam, como o nome forte da direita para 2026. Em muitas sondagens, fica atrás de Michelle e nunca teve performance que pudesse ameaçar Lula.

Mas não há outra saída hoje. Flávio aguenta alguns meses fazendo onda, ganha exposição para a campanha ao Senado no Rio e, na hora certa, comete o gesto de grandeza de renunciar à missão que o pai e Deus lhe entregaram.

E Tarcísio, o extremista moderado que vacila, será empurrado à força para o jogo, em lance pessoal de alto risco, porque tem reeleição assegurada em São Paulo. Se perder para Lula, fica fragilizado e sem mandato e sem imunidades políticas por quatro anos, o que hoje, com mudanças constantes de cenários, é quase uma eternidade.

O que se tem até agora, como apoio categórico a Flávio, são as manifestações de Carluxo (“Eu só sei que meu pai decidiu e a gente vai apoiar. E é por aí”), Valdemar Costa Neto (“Bolsonaro falou, está falado”), Michelle (“Que o Senhor te dê sabedoria”), Mario Frias e os dois Eduardos, o Bolsonaro e o Pazuello.

O resto manda recados sem fontes aos jornalistas amigos e espera para medir o fôlego do coelho, que poderá ter atrás dele também a Polícia Federal. Flávio é um dos grandões impunes do fascismo, e sua indicação pelo pai não deixa de ser uma afronta à leniência do sistema de Justiça.

(Até a conclusão deste texto, Tarcísio de Freitas, que deveria ter sido a primeira voz a dizer que Bolsonaro está certo ao ungir o filho, permanecia calado. Tarcísio pode ter sentido uma fisgada no posterior da cocha direita.)

Moisés Mendes
Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim) - https://www.blogdomoisesmendes.com.br/