Flávio Dino acorda os vampiros da pandemia. Por Moisés Mendes

Atualizado em 18 de setembro de 2025 às 19:00
Flávio Dino, ministro do STF. Foto: reprodução

Dormiam em gavetas do Ministério Público, desde outubro de 2021, todos os vampiros envolvidos em algum crime da pandemia. São os vampiros que distribuíam cloroquina ou tentavam negociar vacinas superfaturadas que nem existiam.

Flávio Dino está acordando, com abertura de inquérito, pelo menos 20 dos 79 vampiros apontados pela CPI da Covid como criminosos. Todos estão no relatório que o MP recebeu há quatro anos e empurrou para o fundo da gaveta. Com exceção do MP estadual de São Paulo, que denunciou 10 diretores e médicos da Clínica Prevent por homicídio doloso.

Dino determinou que sejam investigados, por solicitação da Polícia Federal, Bolsonaro, seus filhos Eduardo, Flávio e Carlos e outras 20 pessoas.

Luciano Hang, o autoproclamado véio da Havan, é notícia de novo e aparece na lista de Flávio Dino. A PF pediu ao Supremo para realizar diligências complementares às realizadas pela CPI da Covid, como a oitiva dos envolvidos e outras medidas que se mostrem necessárias.

A Folha informa que o inquérito aberto tem como foco a disseminação de desinformação sobre a pandemia e o incentivo ao desrespeito de medidas de combate à Covid-19. Dino destacou que a investigação realizada pelos senadores identificou ainda outros possíveis crimes.

“A investigação parlamentar apontou indícios de crimes contra a administração pública, notadamente em contratos, fraudes em licitações, superfaturamentos, desvio de recursos públicos, assinatura de contratos com empresas de ‘fachada’ para prestação de serviços genéricos ou fictícios, dentre outros ilícitos mencionados no relatório da CPI”, acrescentou o ministro.

Além de Bolsonaro e seus familiares, são alvos do inquérito os parlamentares Osmar Terra (PL-RS), Bia Kicis (PL-DF), Carla Zambelli (PL-SP), Carlos Jordy (PL-RJ), Ricardo Barros (PP-PR) e os ex-integrantes do governo Bolsonaro Onyx Lorenzoni, Ernesto Araújo, Filipe Martins, Tercio Arnaud Tomaz e Hélio Angotti Neto.

O ex-presidente Jair Bolsonaro durante a pandemia. Foto: Adriano Machado/Reuters

Também serão investigados os empresários Carlos Wizard e Luciano Hang; o coronel da reserva Hélcio Bruno de Almeida; e os influenciadores bolsonaristas Allan dos Santos, Oswaldo Eustáquio, Bernardo Kuster, Paulo Eneas, Richard Dyer Pozzer, Leandro Ruschel e Otávio Fakhoury.

A Folha observa que a investigação foi aberta dois dias após a Câmara dos Deputados aprovar a PEC da Blindagem. O texto prevê que parlamentares só podem ser investigados mediante prévia autorização do Congresso, em votação secreta.

Os 24 investigados compõem apenas uma parte do relatório final da CPI da Covid aprovado pelos senadores em 2021.

A lista de indiciamento aprovada tinha 79 nomes relacionados à incitação ao descumprimento de medidas contra a disseminação da Covid, irregularidades em negociações de vacinas, demora para compra de imunizantes e omissão para evitar o colapso sanitário no Amazonas.

As conclusões da CPI foram enviadas em novembro de 2021 à PGR (Procuradoria-Geral da República) e engavetadas.

Os casos relacionados à CPI da Covid foram enviados ao gabinete de Flávio Dino após a aposentadoria da ministra Rosa Weber. Em setembro de 2024, o ministro pediu manifestações da Polícia Federal e da PGR sobre quais medidas deveriam ser dadas diante das informações.

A notícia da Folha esclarece que a PF solicitou a abertura do inquérito e Dino só acatou a sugestão na quarta-feira (17). Essa é a segunda reação do ministro Flávio Dino às recentes investidas da Câmara dos Deputados que tentam blindar parlamentares de investigações e processos criminais.

E segue a notícia da Folha: ”Também na quarta, o ministro decidiu finalizar a instrução dos processos sobre as emendas parlamentares no STF (Supremo Tribunal Federal) e acelerar o julgamento que pode reduzir os poderes do congressistas sobre o Orçamento.

O tribunal tem cerca de 80 inquéritos abertos para investigar parlamentares e ex-parlamentares suspeitos de crimes relacionados ao envio dos recursos. Os inquéritos, todos sob sigilo, estão em ao menos seis gabinetes no Supremo.

O temor com o avanço das investigações foi um dos motivos citados por políticos do centrão nos bastidores da Câmara para aprovar a PEC da Blindagem. O texto prevê que investigações contra parlamentares só podem ser abertas no STF mediante aval de deputados e senadores, em votação secreta”.

Ficaram de fora do inquérito, nessa primeira etapa, 55 nomes que estavam na lista que a CPI enviou ao MP, com pedido de indiciamentos, entre os quais os generais Braga Netto e Eduardo Pazuello.

Veja a lista completa de denunciados pela CPI em outubro de 2021.

Moisés Mendes
Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim) - https://www.blogdomoisesmendes.com.br/