
Os irmãos Flávio e Eduardo Bolsonaro vão viajar na próxima semana para El Salvador, onde terão uma reunião com o presidente Nayib Bukele, se tornou referência para a extrema-direita na América Central. A visita ocorre em meio ao interesse de parlamentares conservadores brasileiros em conhecer de perto o modelo de combate ao crime adotado por Bukele, marcado por encarceramento em massa e críticas de organizações de direitos humanos.
Flávio, que preside a Comissão de Segurança Pública do Senado, apresentou um requerimento de “visita institucional” aprovado pelo colegiado. Segundo Lauro Jardim, do Globo, ele embarca na segunda-feira (17), enquanto Eduardo viajará a partir dos Estados Unidos, onde vive desde março em “autoexílio”.
Segundo o pedido formal, o objetivo da missão é realizar um “intercâmbio de experiências e informações sobre políticas de segurança pública, sistema penitenciário e legislação penal”.
Mesmo ligado a milicianos no Rio de Janeiro, Flávio também integra a CPI do Crime Organizado e argumentou que pretende observar de perto o funcionamento do regime de exceção instaurado por Bukele desde 2022, que levou à prisão de aproximadamente 88 mil pessoas.
O encontro marca o segundo reencontro entre os irmãos em menos de um mês; em outubro, Flávio esteve em Washington para conversar pessoalmente com Eduardo. A aproximação reforça a admiração pública dos dois pelo presidente salvadorenho, que costuma ser exaltado por movimentos conservadores brasileiros.

Bukele tem dito que não se importa de ser chamado de “ditador” e governa com amplo poder político desde 2019, ampliado após sua reeleição em agosto com 85% dos votos. “Sabem de uma coisa? Não me importo que me chamem de ditador”, afirmou em discurso no primeiro aniversário de seu segundo mandato.
Embora o governo alegue ter reduzido drasticamente os homicídios, organizações de direitos humanos denunciam prisões arbitrárias, torturas, mortes sob custódia e perseguição a opositores. Entre maio e junho deste ano, ativistas e advogados que questionavam as ações do governo foram presos.
Em casos recentes, 252 venezuelanos deportados pelo governo estadunidense relataram abusos dentro do megacomplexo penitenciário destinado a membros de gangues.
Mesmo sob críticas, Bukele mantém enorme popularidade e se apresenta como “ditador cool” e “Philosopher king” nas redes sociais, onde costuma debochar de opositores e fazer anúncios oficiais. Sua imagem ganhou status de fenômeno de culto, impulsionada por campanhas digitais e pela busca de países da região por um “Bukele” local para enfrentar o crime.
Nayib Bukele, nascido em 1981, iniciou a carreira política no FMLN antes de migrar para uma agenda conservadora e alinhada a Donald Trump, a quem chama de “amigo”. Sua trajetória inclui passagens como prefeito de Nuevo Cuscatlán e de San Salvador.
Ao vencer a eleição presidencial em 2019, capturou o apoio de jovens e eleitores decepcionados com os partidos tradicionais após a guerra civil.