Flávio, o mais novo moderado, e seu ajudador Tarcísio. Por Moisés Mendes

Atualizado em 19 de dezembro de 2025 às 7:19
Flávio Bolsonaro: reunião com empresários 'foi para mostrar que candidatura é viável'
O senador Flávio Bolsonaro (PL-SP). Foto: Reprodução

Flávio Bolsonaro pode ser o mais novo fenômeno da extrema-direita, pela capacidade de passar mensagens enviesadas e de obter resultados surpreendentes das bases que sustentam o bolsonarismo e das figuras que o esnobavam e podem se engajar em seu plano para 2026.

Flávio anunciou-se ungido pelo pai, logo depois admitiu que poderia ser desungido, mas com um preço a ser pago pelos que o tirassem do jogo, e depois voltou a ser um candidato convicto de suas possibilidades.

Como resultado de seu afinco, apareceu em situação melhor do que Tarcísio de Freitas na mais recente pesquisa da Quaest, que mediu suas chances contra Lula. Isso quer dizer o quê? Que, estando 10 pontos atrás de Lula num segundo turno, Flávio seria hoje o Mirassol da eleição.

Mas até os jornalões venderam Flávio como competitivo. O filho rejeitado pelo Centrão, por Malafaia, pela Faria Lima, pela mídia corporativa e até por parte do bolsonarismo raiz — esse filho entrou na arena.

Temos na Quaest o retrato tirado logo depois da superexposição como escolhido pelo pai. Ninguém foi mais mancheteado nos últimos dias, quando a pauta era a eleição, do que Flávio. Enquanto isso, Tarcísio se encolhia, e os outros, Caiado, Zema e Ratinho, continuaram sendo os outros.

Temos, então, como primeiros efeitos da unção, o entusiasmo de Flávio, que parece se levar a sério; a movimentação no mundo empresarial e na Faria Lima, que marcaram encontros com o senador; e os olhos arregalados do Centrão.

Flávio já adequou uma figura do bolsonarismo ao seu novo papel. Tarcísio, que passa a ser uma personagem do entorno, foi enquadrado. O governador, disse o filho, será seu cabo eleitoral em São Paulo.

É mais do que uma manifestação de confiança. É a redução de Tarcísio à condição de ajudador. Flávio, que transmite certezas nos últimos dias, deixou claro que Tarcísio tem papel secundário a partir de agora.

O governador vacilão e extremista moderado é empurrado para um canto pelo escolhido. E as pesquisas, o mercado, Valdemar Costa Neto, o PT e os cientistas políticos passam a examinar o sujeito pelas partes.

O senador Flávio Bolsonaro (PL-SP) e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Foto: Reprodução

Estão apalpando Flávio como o elefante da fábula dos cegos. Pegam a tromba, tocam nas patas, na cabeça e nas orelhas, tentando enxergar o que seria o todo, e seguram um pouco a euforia do autoengano quando chegam ao rabo.

Flávio está tentando enganar quem finge que está sendo enganado. Todo mundo sabe quem é Flávio e quem é Tarcísio, mesmo que os dois estejam se apresentando como praticantes da moderação bolsonarista. A tromba, as orelhas, as patas e o rabo são de um Bolsonaro.

Mas talvez Flávio esteja fingindo que engana todo mundo para ganhar palco com o que seria uma falsa candidatura, para chegar com toda força à campanha de reeleição ao Senado pelo Rio.

Mas há problemas. Se desistir, quando sentir que não tem armas para enfrentar Lula, quem irá substituí-lo? O Tarcísio ajudador agora esnobado? Michelle, que foi empurrada pela família para a cozinha? Alguém se arrisca a citar outros nomes em condições de enfrentar Lula?

Valdemar, Ciro Nogueira e Gilberto Kassab sabem que bicho a Faria Lima, a Globo e o Centrão estão apalpando. Eles conhecem Flávio desde quando o pai dele era ajudador de Eduardo Cunha.

Sabem que o filho está se divertindo quando diz, em jantares fechados, que é a versão fofa do pai e recebe aplausos. A direita fina topou tomar um porre com Flávio para fugir das durezas da realidade.

Moisés Mendes
Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim) - https://www.blogdomoisesmendes.com.br/