Flotilha para Gaza se aproxima de zona de alto risco e Israel inventa “ligação com Hamas”

Atualizado em 30 de setembro de 2025 às 8:53
Greta Thunberg acena de um dos navios da flotilha ruma a Gaza

A Global Sumud Flotilla, iniciativa internacional criada para desafiar o bloqueio imposto por Israel à Faixa de Gaza e entregar ajuda humanitária, está a cerca de 220 milhas náuticas do enclave palestino e prestes a entrar em uma área considerada de alto risco, segundo comunicado dos organizadores nesta terça-feira (30.set.2025).

“Hoje estamos prestes a entrar na zona de 150 milhas náuticas, a partir da qual Israel já é conhecido por sequestrar pessoas de embarcações”, afirmou em vídeo a ativista holandesa Roos Ykema.

O risco de interceptação é real: em julho, forças navais israelenses pararam o navio Handala, que havia se aproximado a 70 milhas de Gaza, desviando-o para o porto de Ashdod. Outro caso foi o da embarcação Madleen, detida a 110 milhas da costa.

Ykema pediu que governos estrangeiros pressionem Tel Aviv:
“Peço passagem segura. Exijo que Israel levante o cerco, pare o bloqueio, interrompa o genocídio e permita a entrada de alimentos, porque o povo palestino está passando fome.”

Israel contra-ataca com acusações

Enquanto a flotilha se aproxima, o Ministério das Relações Exteriores de Israel divulgou novas acusações picaretas. “Documentos oficiais do Hamas encontrados na Faixa de Gaza — agora revelados pela primeira vez — provam o envolvimento direto do Hamas no financiamento e na execução da flotilha ‘Sumud’”, disse a chancelaria em nota.

Segundo o governo israelense, haveria “ligação direta” entre líderes da flotilha e o grupo classificado por Israel e por países ocidentais como organização terrorista. Os organizadores da flotilha negam e afirmam que sua missão é exclusivamente humanitária.

Estratégia de visibilidade global

Para tentar se proteger, os ativistas iniciaram transmissões ao vivo 24 horas por dia no YouTube, acreditando que a exposição internacional pode desencorajar ataques. “Ao nos aproximarmos da ‘zona laranja’ de alto risco, precisamos de olhos sobre a flotilha. O testemunho global é uma forma de proteção”, disseram em comunicado.

A Global Sumud Flotilla reúne cerca de 50 embarcações com mais de 500 ativistas de várias nacionalidades, transportando alimentos e, sobretudo, suprimentos médicos para a população de Gaza.

O esforço ocorre em um cenário de catástrofe humanitária: desde outubro de 2023, ataques israelenses já mataram mais de 66 mil palestinos, a maioria mulheres e crianças, e transformaram Gaza em um território praticamente inabitável, com fome generalizada e surtos de doenças.

Davi Nogueira
Davi tem 25 anos, é editor e repórter do DCM, pesquisador do Datafolha e bacharel em sociologia pela FESPSP, além de guitarrista nas horas vagas.