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Foi exposta a face mais cruel do golpe: a desigualdade volta a crescer. Por Carlos Fernandes

 

O Índice de Gini, que mede o nível de desigualdade social, voltou a subir no Brasil após 22 anos consecutivos entre queda e estabilidade. Em 2016, ano do golpe, o coeficiente atingiu 0,5229, o que representa um aumento de 1,6% em relação ao ano anterior.

Em bom português, o resultado apresentado dessa equação equivale a dizer que pela primeira vez em mais de duas décadas o terrível fosso social que separa a elite brasileira da enorme maioria da população voltou a crescer.

Eis a síntese definitiva do golpe de Estado patrocinado pela plutocracia brasileira sob a hipócrita falácia de combate à corrupção que no final das contas colocou no poder o apogeu da canalha política desse país.

Sejamos francos, seria um consórcio formado por delinquentes como Michel Temer, Aécio Neves, Romero Jucá, Eliseu Padilha, Aluysio Nunes, José Serra, Geddel Vieira e et caterva a salvar esse país da corrupção?

Seja como for, essa nunca foi a grande questão. A mídia familiar, a política coronelista e o judiciário partidarizado falam tanto em corrupção – sobretudo após a chegada de Lula ao poder – porque foi exatamente neste momento que a verdadeira grande ferida dessa nação começou a ser tratada: a desigualdade social.

Nos últimos treze anos o Brasil despontou como referência mundial em matéria de inclusão social. Nos tornamos um exemplo a ser seguido até pelas principais potências internacionais. O Bolsa Família influenciou programas similares em países como Japão e Finlândia.

Como resultado do combate à desigualdade sócio-econômico, conseguimos retirar da miséria um contingente de 36 milhões de pessoas em todo o território nacional. Algo como toda a população do Canadá.

Isso incomodou profundamente a burguesia nacional. Aqui é preciso enfatizar que vem fundamentalmente da desigualdade social a principal fonte de renda dos donos dos meios de produção.

Retirar uma verdadeira legião de mão-de-obra barata e ociosa da reserva de mercado, representa, entre outras coisas, uma perigosa ameaça à manutenção das velhas relações de trabalho.

Não por acaso, mal o novo governo foi formado e suas primeiras ações refletiram-se nos violentos ataques à Consolidação das Leis Trabalhistas e ao direito à aposentadoria do trabalhador que ora enfrentamos .

Soma-se a isso a estratosférica taxa de desempregados sem qualquer previsão de retornar ao mercado de trabalho e finalmente voltamos aos gloriosos anos 90 onde a massa de miseráveis sustentava os privilégios de uma minoria rica e preconceituosa.

Está assim dada a face mais cruel do golpe. Aos envolvidos, meus mais sinceros parabéns.

Carlos Fernandes

Economista com MBA na PUC-Rio, Carlos Fernandes trabalha na direção geral de uma das maiores instituições financeiras da América Latina

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